Usuários frequentes do transporte por aplicativo perceberam dois aumentos: no tempo de espera por motorista e no valor a ser pago pela corrida. Motivos apontados pela Uber e pelos próprios motoristas assemelham-se.
As enchentes de maio afetaram todos os lados. Há menos motoristas disponíveis, já que tiveram carros atingidos pelas cheias, e a disponibilidade de aluguel de veículos também caiu, já que as locadoras foram alagadas. Esses fatores somados aos aspectos de que moradores também perderam seus meios de locomoção, como o metrô ou carros próprios, gerou maior tempo de espera e no valor da corrida.
Beneficiária do INSS, Silvana Maria Hanauer, 53 anos, pagou mais que o dobro de uma viagem de aplicativo do Centro até o bairro Vila Nova em Novo Hamburgo. A corrida custou 19 reais na tarde do último dia 12, conforme comentou enquanto aguardava o motorista que demorava para chegar. “É mais que o dobro, porque antes da enchente esse mesmo trajeto era oito reais”, declarou, enquanto aguardava impacientemente o motorista na Avenida Pedro Adams Filho, próximo ao Correios.
Não muito longe do caso de Silvana, outro relato semelhante. A maquiadora Evelyn Betinardi, 22 anos, esperava a chegada do motorista de aplicativo em frente ao Bourbon Shopping. “Eu pagava 5 reais da minha casa no bairro Ideal até o Centro de Novo Hamburgo e agora está em 14 reais”, compara a maquiadora.
A situação vivenciada por antigos e novos usuários de transporte de aplicativo é reflexo da enchente de maio. “Aumentou o tempo de espera, principalmente por causa da demanda, já que há pessoas que não têm mais acesso aos carros, depois da enchente, e também aumentou o valor porque a demanda é maior”, aponta Evelyn.
O depoimento de Evelyn, que Silvana compactua sobre a demora, é realidade confirmada por motoristas de aplicativos. Dois deles, o Rafael Nunes e a Viviane Coelhos dos Santos.
O dizem os motoristas
Na região, há motoristas de aplicativo que integram um grupo de WhatsApp. Entre eles, estão Rafael Nunes, de São Leopoldo, e Viviane Coelho dos Santos, de Novo Hamburgo. Ambos reconhecem que há um aumento no tempo de espera e no valor cobrado dos usuários por conta das enchentes e não sabem até quando essa situação permanecerá.
Segundo Nunes, cuja renda aumentou em 100%, o momento é complicado para o usuário e excelente para o motorista. “Com a enchente muitos motoristas ficaram sem carros, locadoras não têm veículos porque também foram afetadas, como é o caso da Localiza, parte da população também ficou sem os veículos e há a injeção dos R$ 5,1 mil na sociedade, atraindo quem não usava esse tipo de transporte. Então há menos motoristas e um aumento de pessoas usando o transporte de aplicativos”, frisa.
Ele relata que durante todo o dia o aplicativo não para de tocar. “Quando estou no Centro de Novo Hamburgo toca para buscar passageiro em Sapucaia para levar em São Leopoldo ou até para trazer para Novo Hamburgo, o que leva a crer que não há disponibilidade de motoristas nessas localidades”, exemplifica.
Viviane reforça o depoimento de Rafael com outra situação. Ainda há as questões da problemática de oferta de horários e itinerário dos ônibus em Novo Hamburgo e do metrô Trensurb. “Percebo que a demanda está alta e com tantas corridas, os motoristas acabam tendo a oportunidade de escolher a que fará, o que gera demora no atendimento dos usuários”, explica, complementando que essa situação deve permanecer por dois ou três meses.
O que diz a Uber
As chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul trouxeram também um impacto temporário para a Uber. Nos locais diretamente afetados pelas enchentes, a plataforma informa que ficou mais difícil se movimentar pelas cidades por conta de vias que seguem interditadas.
A Uber percebe um movimento maior de viagens mais curtas do que de costume, considerando que a locomoção ainda não está totalmente recuperada na região. No entanto, na medida em que as cidades impactadas estão voltando à rotina, acrescenta, o movimento da plataforma acompanha a recuperação e crescimento da cidade que aos poucos começa a voltar à rotina, mas que ainda levará algum tempo para normalizar.
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Preço mais alto
Segundo a Uber, algumas variações de valores podem acontecer em função do preço dinâmico, que é uma ferramenta cujo objetivo é equilibrar a oferta e a demanda por viagens em tempo real. Quando a demanda é maior do que o número de motoristas parceiros ativos na região naquele momento, o preço dinâmico é ativado automaticamente e o valor da viagem pode se tornar mais caro do que o habitual (em condições de equilíbrio de mercado).
O preço dinâmico é sempre informado no aplicativo do usuário no momento em que a viagem é solicitada. Ele é aplicado para incentivar que mais motoristas parceiros se conectem ao aplicativo e, assim, seja possível que os usuários consigam realizar uma viagem sempre que tiverem necessidade. Quando o equilíbrio oferta-demanda é restabelecido, os preços voltam aos valores normalmente praticados. No site da Uber é possível encontrar mais detalhes sobre o funcionamento dessa tecnologia.
A reportagem também tentou contato com a 99, outra empresa que faz transporte por aplicativo, mas não teve retorno até a publicação.