VIOLÊNCIA
O que está por trás de nova matança no bairro Canudos, em Novo Hamburgo
Facção de Porto Alegre executa mais três em vingança contra rivais do Vale do Sinos
Última atualização: 06/08/2024 16:46
Não era só para entrar no bar e matar. Tinha que gravar e espalhar o vídeo para intimidar rivais. A ordem, que veio do presídio, foi cumprida na madrugada desta terça-feira (9), no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, onde um grupo armado executou três homens e deixou um casal ferido. Três dias antes, num raio de dois quilômetros, ataques parecidos resultaram em outras três mortes e mais cinco baleados que sobreviveram. Investigações apontam que são vingança de uma facção de Porto Alegre contra o crime organizado do Vale do Sinos.
A investida em bar na Rua Campo Bom, por volta das 3h30 desta terça, foi feita por dois encapuzados. Eles executaram o dono, Anselmo de Morais Davis, 40 anos, o cliente João Matheus Portes Padilha, 23, e um homem na faixa dos 30 anos, não identificado até a noite de terça. Uma adolescente de 17 e o namorado de 19, também alvejados, foram internados no Hospital Municipal.
“Vai ter mais”
Os dois pistoleiros desceram de um carro de cor escura, de modelo não identificado, e um deles entrou no prédio atirando. O outro fez o papel de cinegrafista. Gravou tudo no celular até o retorno ao automóvel e fuga. Um terceiro comparsa aguardava ao volante. O vídeo circula no submundo do crime na forma de mensagem temporária. Apaga automaticamente depois de visto. Um áudio dá o tom: “Se preparem porque a guerra tá começando. Vai ter mais”.
Dono do bar já tinha sido preso e cliente estava em liberdade provisória
Natural de Tenente Portela, Davis morava há muitos anos em Novo Hamburgo, onde já tinha sido preso por porte ilegal de arma de fogo e era testemunha em processo de dupla tentativa de homicídio em outro bar no bairro Canudos, ocorrido em fevereiro de 2016. Padilha, nascido em Novo Hamburgo e morador das proximidades, estava em liberdade provisória por tráfico de droga.
A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que tenta identificar o terceiro morto, não sabe quem exatamente era o alvo dos encapuzados. O casal de jovens teria parado no bar para comer um lanche. A adolescente é de Taquara e mora no bairro Canudos, perto da casa do namorado hamburguense.
Relação com massacre na casa abandonada
A Polícia apura relação com o massacre pouco antes das 6 horas de sábado em casa abandonada na Rua Danilo Dalmolin, ocupada por viciados em drogas. Um carro de cor prata parou na frente e pelo menos um homem desceu de arma em punho determinado a atirar em quem estivesse no imóvel. Seis baleados foram levados por ambulâncias do Samu ao Hospital Municipal. Um deles, de 50 anos, morreu. Conhecido pelos apelidos Toco e Índio, seria o mais velho das vítimas.
Em poucos minutos, nas imediações, uma mulher de 28 anos, baleada, foi pedir ajuda aos socorristas e brigadianos. Disse que tinha conseguido escapar daquela casa. Também morreu no hospital. Todos os atingidos, conforme a Polícia, tinham antecedentes criminais. Além de hamburguenses, há pessoas de Porto Alegre e Campo Bom, com idades a partir dos 25 anos.
Menos de uma hora depois e a 500 metros da casa atacada, um adolescente de 17 anos foi encontrado morto com um tiro na cabeça. O corpo estava em um apartamento na Rua Bruno Werner Storck. Há a suspeita, mas não a confirmação de que haja relação entre os casos. O jovem tinha antecedentes por tráfico de drogas. O nome não é informado em razão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Traficante da Roselândia teria iniciado o conflito
Um traficante de 33 anos, com base no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, teria dado a largada aos conflitos. Recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e ligado à facção Os Manos, do Vale do Sinos, é apontado como responsável pela tentativa de tomar o negócio da droga no entorno da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre.
O conflito deixou 11 mortos em nove dias, no fim de março deste ano, e seguiu com mais vítimas em abril, com pelo menos uma criança baleada. Policiais civis e militares fizeram operações de pacificação, que tiveram tiroteios e prisões.
A facção V7, que domina a Vila Cruzeiro, teria agora se articulado para uma reação. Investigações apontam que membros da organização estão recebendo ordens para atacar “biqueiras” no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, principal reduto dos Manos.
É o fim da trégua
Em março de 2017, após conflitos com pelo menos seis mortes e vários feridos em uma semana em Novo Hamburgo e São Leopoldo, facções rivais decidiram pacificar as relações. Os confrontos estavam prejudicando os negócios. Na época, era Os Manos contra os Bala na Cara, outro grupo da capital, que tentava se expandir para o Vale do Sinos.
A bandeira branca foi erguida depois da execução de paciente no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, na manhã de 2 de março daquele ano. Wellington Bandeira, 19, baleado em tiroteio três dias antes, teve o quarto invadido por dois encapuzados e levou 15 tiros no leito. A repercussão foi tamanha a ponto de as lideranças das facções se reunirem para delimitar territórios. O resultado foi queda brusca nos homicídios.
Oito criminosos devem ir a júri por envolvimento na matança de cinco anos atrás.
As seis execuções em Canudos nos últimos três dias deixaram em alerta a segurança pública. São vistas como o fim da trégua das facções, todas comandadas nas galerias do caótico sistema prisional.
O medo toma conta
Acordados pelas baterias de tiros, moradores de Canudos estão com medo. "Tem que ficar quieto, porque senão sobra pra gente", comentou um deles, na manhã de ontem. O bar atacado estava com as grades fechadas, mas com portas internas abertas, o que permitia ver a violência do ataque da madrugada, já que o chão estava tomado de manchas de sangue.
Prefeita faz reunião com órgãos de segurança
A prefeita de Novo Hamburgo, Fatima Daudt, fez reunião com a cúpula da segurança pública no fim da tarde da terça-feira. “Nos últimos anos, Novo Hamburgo tem se destacado por investimentos e reforços na Guarda Municipal e pela integração de todas as forças de segurança, que resultaram na redução drástica dos indicadores de criminalidade. O que observamos nos últimos dias, no bairro Canudos, é algo totalmente atípico para o período”, relatou a prefeita a representantes da Brigada Militar e Polícia Civil. Ficou definido que serão intensificadas operações de combate à criminalidade nas áreas de maior risco.
Assaltos também preocupam
No contexto da escalada da violência, motoristas de aplicativo cobram segurança. O colega Enedir Wust, 48, foi baleado na cabeça durante o trabalho na Rua São Jerônimo, no bairro Jardim Mauá, no fim da tarde de domingo (7), e segue em estado crítico no Hospital Municipal. O atirador, que fugiu na carona de um Ford Ka, teria tentado roubar o carro da vítima, um Onix branco.
Uma comissão da categoria irá se reunir na tarde desta quarta-feira (10) com a Comissão de Segurança Pública da Câmara de Vereadores. A ideia é debater a falta de segurança no trabalho dos motoristas de aplicativos e levantar sugestões aos governos municipal e estadual.
Não era só para entrar no bar e matar. Tinha que gravar e espalhar o vídeo para intimidar rivais. A ordem, que veio do presídio, foi cumprida na madrugada desta terça-feira (9), no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, onde um grupo armado executou três homens e deixou um casal ferido. Três dias antes, num raio de dois quilômetros, ataques parecidos resultaram em outras três mortes e mais cinco baleados que sobreviveram. Investigações apontam que são vingança de uma facção de Porto Alegre contra o crime organizado do Vale do Sinos.
A investida em bar na Rua Campo Bom, por volta das 3h30 desta terça, foi feita por dois encapuzados. Eles executaram o dono, Anselmo de Morais Davis, 40 anos, o cliente João Matheus Portes Padilha, 23, e um homem na faixa dos 30 anos, não identificado até a noite de terça. Uma adolescente de 17 e o namorado de 19, também alvejados, foram internados no Hospital Municipal.
“Vai ter mais”
Os dois pistoleiros desceram de um carro de cor escura, de modelo não identificado, e um deles entrou no prédio atirando. O outro fez o papel de cinegrafista. Gravou tudo no celular até o retorno ao automóvel e fuga. Um terceiro comparsa aguardava ao volante. O vídeo circula no submundo do crime na forma de mensagem temporária. Apaga automaticamente depois de visto. Um áudio dá o tom: “Se preparem porque a guerra tá começando. Vai ter mais”.
Dono do bar já tinha sido preso e cliente estava em liberdade provisória
Natural de Tenente Portela, Davis morava há muitos anos em Novo Hamburgo, onde já tinha sido preso por porte ilegal de arma de fogo e era testemunha em processo de dupla tentativa de homicídio em outro bar no bairro Canudos, ocorrido em fevereiro de 2016. Padilha, nascido em Novo Hamburgo e morador das proximidades, estava em liberdade provisória por tráfico de droga.
A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que tenta identificar o terceiro morto, não sabe quem exatamente era o alvo dos encapuzados. O casal de jovens teria parado no bar para comer um lanche. A adolescente é de Taquara e mora no bairro Canudos, perto da casa do namorado hamburguense.
Relação com massacre na casa abandonada
A Polícia apura relação com o massacre pouco antes das 6 horas de sábado em casa abandonada na Rua Danilo Dalmolin, ocupada por viciados em drogas. Um carro de cor prata parou na frente e pelo menos um homem desceu de arma em punho determinado a atirar em quem estivesse no imóvel. Seis baleados foram levados por ambulâncias do Samu ao Hospital Municipal. Um deles, de 50 anos, morreu. Conhecido pelos apelidos Toco e Índio, seria o mais velho das vítimas.
Em poucos minutos, nas imediações, uma mulher de 28 anos, baleada, foi pedir ajuda aos socorristas e brigadianos. Disse que tinha conseguido escapar daquela casa. Também morreu no hospital. Todos os atingidos, conforme a Polícia, tinham antecedentes criminais. Além de hamburguenses, há pessoas de Porto Alegre e Campo Bom, com idades a partir dos 25 anos.
Menos de uma hora depois e a 500 metros da casa atacada, um adolescente de 17 anos foi encontrado morto com um tiro na cabeça. O corpo estava em um apartamento na Rua Bruno Werner Storck. Há a suspeita, mas não a confirmação de que haja relação entre os casos. O jovem tinha antecedentes por tráfico de drogas. O nome não é informado em razão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Traficante da Roselândia teria iniciado o conflito
Um traficante de 33 anos, com base no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, teria dado a largada aos conflitos. Recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e ligado à facção Os Manos, do Vale do Sinos, é apontado como responsável pela tentativa de tomar o negócio da droga no entorno da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre.
O conflito deixou 11 mortos em nove dias, no fim de março deste ano, e seguiu com mais vítimas em abril, com pelo menos uma criança baleada. Policiais civis e militares fizeram operações de pacificação, que tiveram tiroteios e prisões.
A facção V7, que domina a Vila Cruzeiro, teria agora se articulado para uma reação. Investigações apontam que membros da organização estão recebendo ordens para atacar “biqueiras” no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, principal reduto dos Manos.
É o fim da trégua
Em março de 2017, após conflitos com pelo menos seis mortes e vários feridos em uma semana em Novo Hamburgo e São Leopoldo, facções rivais decidiram pacificar as relações. Os confrontos estavam prejudicando os negócios. Na época, era Os Manos contra os Bala na Cara, outro grupo da capital, que tentava se expandir para o Vale do Sinos.
A bandeira branca foi erguida depois da execução de paciente no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, na manhã de 2 de março daquele ano. Wellington Bandeira, 19, baleado em tiroteio três dias antes, teve o quarto invadido por dois encapuzados e levou 15 tiros no leito. A repercussão foi tamanha a ponto de as lideranças das facções se reunirem para delimitar territórios. O resultado foi queda brusca nos homicídios.
Oito criminosos devem ir a júri por envolvimento na matança de cinco anos atrás.
As seis execuções em Canudos nos últimos três dias deixaram em alerta a segurança pública. São vistas como o fim da trégua das facções, todas comandadas nas galerias do caótico sistema prisional.
O medo toma conta
Acordados pelas baterias de tiros, moradores de Canudos estão com medo. "Tem que ficar quieto, porque senão sobra pra gente", comentou um deles, na manhã de ontem. O bar atacado estava com as grades fechadas, mas com portas internas abertas, o que permitia ver a violência do ataque da madrugada, já que o chão estava tomado de manchas de sangue.
Prefeita faz reunião com órgãos de segurança
A prefeita de Novo Hamburgo, Fatima Daudt, fez reunião com a cúpula da segurança pública no fim da tarde da terça-feira. “Nos últimos anos, Novo Hamburgo tem se destacado por investimentos e reforços na Guarda Municipal e pela integração de todas as forças de segurança, que resultaram na redução drástica dos indicadores de criminalidade. O que observamos nos últimos dias, no bairro Canudos, é algo totalmente atípico para o período”, relatou a prefeita a representantes da Brigada Militar e Polícia Civil. Ficou definido que serão intensificadas operações de combate à criminalidade nas áreas de maior risco.
Assaltos também preocupam
No contexto da escalada da violência, motoristas de aplicativo cobram segurança. O colega Enedir Wust, 48, foi baleado na cabeça durante o trabalho na Rua São Jerônimo, no bairro Jardim Mauá, no fim da tarde de domingo (7), e segue em estado crítico no Hospital Municipal. O atirador, que fugiu na carona de um Ford Ka, teria tentado roubar o carro da vítima, um Onix branco.
Uma comissão da categoria irá se reunir na tarde desta quarta-feira (10) com a Comissão de Segurança Pública da Câmara de Vereadores. A ideia é debater a falta de segurança no trabalho dos motoristas de aplicativos e levantar sugestões aos governos municipal e estadual.
A investida em bar na Rua Campo Bom, por volta das 3h30 desta terça, foi feita por dois encapuzados. Eles executaram o dono, Anselmo de Morais Davis, 40 anos, o cliente João Matheus Portes Padilha, 23, e um homem na faixa dos 30 anos, não identificado até a noite de terça. Uma adolescente de 17 e o namorado de 19, também alvejados, foram internados no Hospital Municipal.