O acidente aéreo de 22 de outubro de 1995, que matou nove pessoas, ainda está muito presente na memória da comunidade de Gramado, assim como também ficará por muito tempo a tragédia da família Galeazzi, ocorrida no último domingo (22).
São 29 anos que separam esses dois tristes episódios. Um ponto em comum entre eles é o trabalho do hoje sargento do Corpo de Bombeiros Militar de Gramado, Flaviano Azevedo dos Santos, de 57 anos. Ele atuou nas duas ocorrências.
São mais de três décadas no ofício e muitas histórias que ficam marcadas. Natural de Canela, o sargento começou a trabalhar em Gramado em setembro de 1992. Ainda era considerado um novato na profissão quando se deparou com a missão de atender o caso dos dois aviões que se chocaram no ar e caíram, matando nove pessoas.
Flaviano conta que estava de folga naquele dia, mas foi chamado para ajudar na ocorrência. Ele seguiu ao bairro Três Pinheiros, local em que a aeronave Sertanejo caiu e seis vítimas morreram na hora. “O que mais me impressionou é que o avião caiu de bico e afundou quase um metro”, recorda.
Diferentemente do acidente deste ano, o sargento diz que não houve explosão na época e que o trabalho ficou concentrado na retirada dos fragmentos dos corpos.
Surpresa ao chegar no local onde avião caiu
Já no último domingo, Flaviano estava de plantão. Os bombeiros foram acionados para atender a um caso de explosão. Somente quando estavam perto é que veio a informação de que se tratava de um avião que tinha caído em uma loja e ao lado de uma pousada, às margens da Avenida das Hortênsias.
O sargento era o chefe da guarnição e chegou ao local com outros três colegas. Com isso, estabeleceu-se a operação. Enquanto dois ficaram apagando as chamas e tentando evitar que se alastrassem, Flaviano e um colega entraram na pousada atingida pelo fogo.
A varredura em busca de pessoas que pudessem estar presas foi realizada duas vezes. “Fomos entrando, quebrando portas e, felizmente, todos tinham conseguido sair”, relata.
Flaviano frisa que, apesar de saber que eram baixas as chances de alguém do avião ter sobrevivido, o trabalho segue sempre com o intuito de encontrar pessoas com vida.
Depois que o incêndio foi extinto, as guarnições trabalharam até por volta das 11h45 da segunda-feira (23) para a retirada dos fragmentos dos corpos e vestígios para auxiliar nas investigações.
“Tem que saber dosar”, destaca o bombeiro
“A gente tenta não criar uma casca para não ficar alienado nas situações, mas, depois de 30 anos, a gente aprende muitas coisas, tem que saber dosar”, acentua, ao falar também sobre o revezamento das equipes para encarar mais de 26 horas de buscas.
Por isso, Flaviano ressalta a importância de se estar preparado fisicamente e psicologicamente. “O nosso trabalho é, pela característica, um trabalho de decisão no local. A gente treina, treina e se prepara, mas as decisões são no local. Conhecemos as técnicas e a gente emprega nessas situações, não é que se torna mais fácil, mas sim executável”, alega.
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Perto da aposentadoria
O sargento está prestes a entrar para a reserva e faz seus últimos plantões. Ser bombeiro é a realização de um sonho de criança. “Eu gosto demais. Para mim, o fardo nunca pesou. É algo que me motiva, eu gosto dos desafios”, pondera o profissional, que atuou por 12 verões como guarda-vidas no litoral gaúcho.
Dos momentos marcantes da carreira, reforça a perda de um amigo próximo em uma ocorrência na Barragem do Salto, em São Francisco de Paula, e a catástrofe climática de maio. Em um deslizamento de terra, na Linha Pedras Brancas, no interior de Gramado, seis pessoas morreram.
Mesmo tendo ajudado diversas pessoas e salvado vidas ao longo dessas três décadas, Flaviano enfatiza que nunca gostou do título de herói. “O nosso trabalho é tão importante quanto qualquer outro”, comenta.
Para o futuro, pretende continuar como instrutor de atendimento pré-hospitalar e aproveitar a companhia da família. “Eu leio bons livros, caminho bastante, pedalo, faço trilha e gosto de pescar”, lista sobre o que gosta de fazer no tempo livre.