Apesar de o mês de maio ter sido dedicado aos desafios da enchente histórica que atingiu centenas de municípios do Rio Grande do Sul, outro problema volta ao foco das autoridades de saúde em junho: a dengue.
A doença continua a se propagar no Estado e já registra números alarmantes neste primeiro semestre de 2024, com mais de 154 mil casos confirmados e 231 óbitos, segundo a última atualização do Painel de Casos de Dengue no sábado (8). Santa Rosa ainda lidera o número de casos, com 14.457 confirmações, seguida de Novo Hamburgo (12.649), São Leopoldo (12.345) e Campo Bom (7.861).
Por conta das inundações que afetaram a região, a contagem de casos também foi prejudicada pelas cheias no mês de maio, afinal, fazer exames se tornou impossível ou, até, ficou de lado devido às complicações. Outro dado importante que chama atenção é que o número de casos em 2024 no Rio Grande do Sul, que ainda não chegou ao final do primeiro semestre, já supera o total da soma de todos os últimos dez anos.
De 2014 a 2023, a soma de casos confirmados foi de 125.587 (quase 30 mil a menos do que o registrado neste ano). A mesma situação se repete no número de óbitos, sendo 231 só em 2024 e 141 entre 2014 e 2023. Na comparação de antes das cheias (em 1º de maio) e depois (até o dia 8 de junho), São Leopoldo saltou de 9.801 casos confirmados para 12.345 e de 17 óbitos para 22; Novo Hamburgo de 8.125 casos para 12.649 e de 11 óbitos para 18; e Canoas de 2.335 casos para 3.923. Já os óbitos de 8 para 14.
Além disso, dos dez municípios com mais casos no Rio Grande do Sul, cinco são do Vale do Sinos: pela ordem, Novo Hamburgo (2º lugar, só atrás de Santa Rosa), São Leopoldo (3º lugar), Campo Bom (4º lugar), Canoas (7º lugar) e Sapucaia do Sul (9º lugar) – em 12º lugar entra ainda Sapiranga. Nos óbitos, São Leopoldo lidera, seguido de Santa Rosa, e Novo Hamburgo em terceiro lugar.
Canoas ocupa o 4º lugar. Na região – além de Porto Alegre com 8 mortes – também há óbitos em Araricá (2), Cachoeirinha (2), Esteio (2), Ivoti (2), Sapiranga (2) e um óbito confirmado em Estância Velha, Gravataí, Parobé, Rolante e Sapucaia do Sul. A região soma 69 mortes, 29,87% do total do Estado.
O que esperar da doença a partir de agora?
Historicamente, a dengue costuma registrar um declínio no número de infecções pela doença nos meses de inverno, afinal, a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, é feita quando as temperaturas alcançam níveis mais elevados.
No entanto, isso não é um impeditivo para o aumento de criadouros, já que, no final do inverno, os ovos depositados pelas fêmeas começam a eclodir. Com isso, outro fator se soma a este cenário: os entulhos e lixos que ainda não foram totalmente recolhidos dos bairros afetados pela enchente do mês de maio. São pilhas e pilhas de objetos descartados nas ruas.
Nestes locais, que podem acumular água parada, a formação de criadouros pode se tornar um problema no combate à dengue. Para Spilki, o cuidado neste período pósenchentes deve ser redobrado. “É impossível traçar um panorama que vá dizer se vamos ter uma continuação da dengue, porque seria muito fora do script.
Mas a gente tem que tomar determinados cuidados. Está previsto um período com uma temperatura bem acima da média para a região, pelo menos até meados deste mês, até o dia 15. Então isso, de certo modo, pode re-impulsionar o número de casos”, pondera. Em relação ao número de casos, que seguiu bastante alto no mês de maio, Spilki afirma que se manteve ao contrário das expectativas. “A recomendação vem do que a gente viu nas últimas semanas. Abrindo para os municípios, pude perceber que os números de dengue, até ao contrário das nossas expectativas iniciais, se manteve num volume relativamente alto, provavelmente impulsionado por todo o distúrbio provocado pelas enchentes”, observa.
O virologista destaca que nas últimas semanas se percebeu a circulação de dengue 2, quando a pessoa se infecta pelo segundo sorotipo do vírus. “Também vimos casos com um nível de gravidade, de comprometimento mais alto”, alerta.
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Ações reforçadas pelo Estado
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que “está monitorando, e, principalmente, orientando os municípios para estarem atentos aos primeiros sintomas, já que a limpeza urbana não poderá ser feita imediatamente em todo o Estado pela magnitude do desastre. Dessa forma, ter a rede assistencial sensível para detectar os casos será fundamental”. A SES frisa que está em contato com o Ministério da Saúde para garantir os estoques de kits para testagem dos suspeitos.