Novo Hamburgo ainda tem áreas alagadas 30 dias após o começo da catástrofe climática que provocou o transbordo do Rio dos Sinos e, consecutivamente, do dique do bairro Afonso. Ruas da Vila Palmeira, no entorno do arroio da Rua Floresta, seguiam cobertas de água na segunda-feira (3). Com a chuva que começou a cair durante a madrugada, moradores também observaram a elevação do nível da água, que voltou a atingir alguns locais que já estavam secos.
Dono de um minimercado, Luis Ardenghi, 54 anos, já conseguiu entrar no estabelecimento, que fica no começo da Rua Floresta. Porém, trabalha com a incerteza do recuo da água, que voltou a bater na porta de casa.
“Estamos há 32 dias com água no bairro e não tem jeito dela baixar. O pior é que não aparece ninguém para dar explicações ou solucionar o problema. Estão anunciando que não tinha mais água na Santo Afonso, mas a situação é essa aqui”, aponta para a região que segue alagada no bairro.
O lento recuo da água no bairro faz Ardenghi questionar a eficiência das bombas instaladas emergencialmente junto à Casa de Bombas. “A gente vê São Leopoldo com tudo seco. Tem o bairro Mathias Velho, em Canoas, que é muito maior que o nosso, já sem água, e nós nesse impasse, com medo”, conclui.
Efeito das bombas de drenagem
Outro morador que reclama da situação é Valmir Costa, 49. Segundo ele, as bombas flutuantes deveriam ser instaladas na área alagada, para que a água fosse levada até a bacia do Arroio Gauchinho, para que depois a água fosse bombeada para o Rio dos Sinos. “Desse jeito, não sei até quando vamos ter água dentro das casas aqui no bairro”, coloca.
Costa, que perdeu tudo pela segunda vez em menos de um ano devido às inundações, também questiona a demora da prefeitura para recolocar em operação os equipamentos de bombeamento da Casa de Bombas. “Levaram para arrumar e não sabemos onde estão as bombas, e ‘tá’ essa complicação, com o povo sofrendo ‘debaixo d’água’”, pontua.
Técnico da prefeitura prevê mais um ou dois dias para água escoar
O diretor de Esgoto Pluvial da Secretaria de Obras, Ricardo Lucas Al-Alam, explica que a água que está represada na região da Vila Palmeira, na Santo Afonso, depende da ação da gravidade para fazê-la escoar e chegar até o Arroio Gauchinho. “É uma região com pouco caimento”, expõe.
Além disso, o entupimento da rede pluvial e até de valos, como o que margeia a Rua Floresta, atrapalham o recuo da água. “Isso faz a água descer devagar para a região das bombas”, pontua.
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Por conta disso, para tentar fazer com que o escoamento aconteça com mais rapidez, a Secretaria de Obras tem trabalho para desobstruir as passagens da água, removendo lixo e entulhos oriundos da própria enchente. A expectativa é de que, ainda nessa semana, todo o bairro esteja sem qualquer ponto de alagamento. “Acredito que em um ou dois dias não teremos mais água no bairro”, estima.
Bombas flutuantes são eficientes?
O diretor de Esgoto Pluvial de Novo Hamburgo garante que as bombas flutuantes seguem operando emergencialmente. Entretanto, Al-Alam reconhece que, por não serem equipamentos próprios para o bombeamento de água neste tipo de situação, o processo é mais custoso.
Segundo ele, as bombas definitivas, que estão na Casa de Bombas, possuem um rendimento muito maior que as flutuantes, pegam água muito mais embaixo e são próprias para isso. Na capacidade nominal [potência], elas são parecidas, “só que as bombas definitivas têm uma grade de proteção para lixo, que permite a limpeza, enquanto que as flutuantes não possuem este sistema”. “Então, elas [bombas provisórias] estão trabalhando e daqui a pouco trancam porque é muito lixo”, detalha.
Bomba dos arrozeiros reposicionada
A Prefeitura informou na tarde desta segunda que uma das bombas cedidas por arrozeiros teve que ser desligada por falta de profundidade na bacia onde foi instalada. “Faltou água para ela puxar”, explica o engenheiro. Essa bomba foi recolocada para trás e canos foram instalados para levar a água até o outro lado do dique.
Ao todo, quatro bombas estão na Casa de Bombas do bairro, sendo duas cedidas pelos arrozeiros, uma emprestada pela Sabesp, de São Paulo, com capacidade total para retirar cerca de 15 piscinas residenciais de água por minuto do bairro e devolvê-la para o Rio dos Sinos, e uma locada de uma empresa da região. Essa última, conforme a administração municipal, perdeu parâmetros e parou de funcionar. Um técnico da empresa está no local e ela deve voltar a funcionar ainda nesta segunda-feira.
Al-Alam esclarece que a área da Vila Palmeira é muito plana, com redes e canais entupidos, dificultando o trabalho de retirada de toda a água. Mesmo assim a Prefeitura garante que as quatro bombas estão retirando a água do bairro Santo Afonso para além do esperado.