AGORA É PRA VALER
Novo ensino médio será implantado em todas as escolas em 2025; entenda as mudanças
Mais horas de aulas, com disciplinas de formação básica obrigatórias e regulamentação dos itinerários formativos fazem parte das mudanças
Última atualização: 20/12/2024 16:05
Mais do que um ano novo e uma nova fase na formação, a gurizada que vai ingressar no ensino médio em 2025 fará parte de uma fase inédita da educação brasileira, em especial, na rede pública. Depois de anos de discussão para implantar mudanças e a tentativa fracassada de 2017 do Ministério da Educação (MEC), finalmente uma nova grade de conteúdos chega às escolas.
Aprovada em agosto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Política Nacional de Ensino Médio já começou a ser colocada em prática. no Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e o Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) realizaram formações para esclarecer aos professores o que vem pela frente.
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A novidade será implantada de maneira gradual, iniciando pelas turmas do 1º ano. Em 2026, as regras começam a valer também para o 2º ano, de modo que até 2027, o ciclo tenha se completado. Isso também terá reflexos no conteúdo das provas Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A notícia já se espalhou entre os jovens, que estão na expectativa de como serão as aulas a partir de agora.
Desde 2017
A necessidade de mudança já era uma realidade escancarada, tanto pelas pesquisas como pelos índices de evasão e reprovação do ensino médio.
A primeira proposta de alteração, lançada em 2017, foi alvo de muitas críticas entre estudantes, professores e entidades ligadas à educação. Em março do ano passado, inclusive, ocorreu o Dia Nacional de Mobilização pela Revogação do Novo Ensino Médio (NEM) e, em agosto, o Dia Nacional de Luta contra Novo Ensino Médio. Por isso, o governo federal chegou a chamar a lei aprovada pelo presidente Lula como novíssimo ensino médio.
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Mas o que muda a partir de 2025 com o novo ensino médio?
Dentre as principais mudanças está a carga horária para a formação geral básica, com 3 mil horas obrigatórias de aula. Destas, 2,4 mil serão para o ensino das disciplinas obrigatórias: português, inglês, artes, educação física, matemática, ciências da natureza (biologia, física, química) e ciências humanas (filosofia, geografia, história, sociologia). As 600 horas restantes são direcionadas aos itinerários formativos.
Até então, eram 1,8 mil de aulas de conteúdos obrigatórios e até 1,2 mil horas de optativo. Agora, com a implantação de mais disciplinas, será preconizado o que determina a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que define os direitos de aprendizagem dos estudantes.
A nova lei regulamenta também os itinerários formativos e prevê a construção de diretrizes para que sejam ofertados. Hoje, as opções de itinerários são definidos pelas escolas, mas com a mudança, cada escola poderá ofertar duas opções, dentro de uma área do conhecimento. A carga horária mínima deste dois itinerários será de 600 horas, com exceção da formação técnica e profissional, que pode chegar a 1,2 mil horas.
Ainda sobre o ensino técnico, hoje não tem regra para disciplinas obrigatórias, situação que muda em 2025. Serão 2,1 mil horas, com a possibilidade de 300 horas serem compatibilizadas com o ensino regular.
Outra alteração é que as aulas deverão ser realizadas de forma presencial, sem permissão para ensino a distância. Apenas em casos excepcionais, as aulas poderão ser mediadas por tecnologia.
Em relação ao ensino de língua estrangeira, o inglês é obrigatório. Mas os currículos poderão ofertar outras línguas, com preferência para o espanhol, de acordo com a disponibilidade.
Faz apenas 15 anos que o ensino médio é obrigatório
Ainda em 2009, ano em que o ensino médio passou a ser obrigatório no Brasil, um estudo da Fundação Getúlio Vargas e do movimento Todos pela Educação apontou que 40% dos alunos abandonavam os estudos por desinteresse. Aulas chatas, muito expositivas e falta de um propósito eram as principais queixas.
Esse cenário foi relembrado pela secretária de Educação gaúcha, Raquel Teixeira, em live realizada para o magistério da rede estadual sobre a reestruturação do ensino médio. “Até então, o ensino médio nunca teve identidade própria, ele era uma ponte para a universidade, porque só chegava no ensino médio quem ia para a universidade”, disse.
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No entanto, a realidade atual é que nem todo mundo que termina o ensino médio cursa o ensino superior. “No Brasil, é 20% da população que chega na universidade, então a gente tinha 80% dos alunos saindo do ensino médio sem se preparar para o mundo do trabalho”, destaca a secretária. Isso, de acordo com ela, estava na base do abandono dos estudos.
Na rede estadual, o índice de evasão em 2023 foi de 8,9%. Em 2021 e 2022, período da pandemia, o percentual chegou a 11,1%.
No Estado, 44% dos jovens não estudam
O 4º relatório do Observatório da Educação Pública do Estado, apresentado pela Assembleia Legislativa no último dia 16, chamou atenção para o fato de que no Rio Grande do Sul 44% dos jovens, entre 15 e 29 anos, trabalham e não estudam. Os dados foram revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2023, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, até o ano passado, 49 mil jovens, entre 14 e 18 anos, estavam fora da escola e não haviam concluído o ensino médio, o que representava 7,2% da população gaúcha nesta faixa etária. Em 2023, existiam 263 mil jovens (38%), nessa mesma média de idade, frequentando o ensino fundamental.
Nova política é um avanço na educação brasileira
Na avaliação do Todos Pela Educação, organização da sociedade civil que luta pela melhora na qualidade da educação básica no País, as mudanças no ensino médio significam um “grande avanço para o Brasil”.
O movimento ressalta que a nova política é fruto de um debate amplo promovido entre o poder público e da sociedade ao longo de 16 meses. Entre março e julho de 2023, o MEC organizou uma consulta pública sobre o novo ensino médio, incluindo um processo de escuta com estudantes, professores, gestores e especialistas.
Houve colaboração do Conselho Nacional de Educação (CNE), do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais e Distrital de Educação (Foncede) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Somente depois de concluir esta etapa, o projeto de lei foi levado até o Congresso Nacional.
Integrante da Comissão do Ensino Médio do Conselho Estadual de Educação, o ex-diretor do Instituto Ivoti, Ruben Werner Goldmeyer, avalia que o aumento da carga horária é um dos aspectos positivos da nova política do ensino médio. “Principalmente porque na proposta anterior tinha diminuído e agora se aumentou para 3 mil horas”, destaca.
Goldmeyer chama atenção para o aumento de possibilidades na formação do jovem e também para a manutenção do projeto de vida, o que inclusive rendeu diretrizes do Conselho Nacional de Educação. “Muito interessante valorizar essa proposta e ela aparece muito no final do terceiro ano, quando é o momento do jovem olhar para frente”, destaca o educador, justamente porque o estudante vai decidir se continua os estudos, dedica-se ao trabalho ou faz as duas coisas ao mesmo tempo.
Em relação à rede privada, o conselheiro avalia que haverá pouca alteração em relação ao trabalho que já é realizado, pois as escolas foram adaptando seus currículos para ofertar melhor qualidade no ensino aos alunos.
Nos 80 anos do Pasqualini, ensino integral é o presente
Gabrielly dos Santos Dapper, 15 anos, Guilherme Vargas dos Santos, 14, e Andressa Gabrielly da Rosa Rieffel, 15, concluíram o 9º ano do ensino fundamental no Colégio Estadual Alberto Pasqualini, de Novo Hamburgo.
Em 2025, a escola dará início ao ensino médio integral e o trio recebeu uma missão especial. Fazer a acolhida dos estudantes que darão início a essa nova fase da instituição que, no próximo ano, completará oito décadas de história.
Essa dinâmica faz parte da proposta implantada pela Seduc, como maneira de envolver os jovens e suas famílias. Tanto que em novembro eles participaram de uma formação com a equipe da 2ª Coordenadoria Regional de Educação (2ª CRE) para estimular a liderança.
Guilherme, que quer ser professor de português, não disfarça a expectativa com o futuro e mudança na rotina, pois em 2025 vai passar nove horas do dia no Pasqualini. “Serão mais matérias, mais tempo com os professores e os colegas. Acho que teremos mais comunicação e mais empatia. As minhas expectativas estão bem altas”, diz o jovem. “Acho que a gente vai se acostumar fácil, pois isso já vai nos preparar para a vida adulta”, projeta Gabrielly.
Conforme a diretora Eleisa Mathias, foi solicitado ao Estado a cobertura da quadra de esportes. Além disso, são esperados outros investimentos e melhorias na estrutura da escola.
Em 2023, o colégio tinha sete turmas de 1º do ensino médio diurno e dois no noturno. Ela acredita que a quantidade de estudantes matriculados à noite deverá aumentar, pois nem todos os jovens têm disponibilidade apenas para estudar e precisam trabalhar, principalmente para ajudar a família. “Mas desde que houve o anúncio do ensino integral, muitos estão procurando a escola para se informar”, comenta.
Eleisa e a orientadora educacional Sirlei Moraes acreditam que o novo ensino médio era necessário. “Sempre precisamos evoluir”, pondera a diretora. E, no caso do Pasqualini, a mudança será mais radical, pois junto vem o ensino integral. “O entorno do Pasqualini merece também um ensino de excelência. Isso será mais atrativo para os adolescentes e vai desenvolver a liderança”, comemora.
Como será implantação na rede estadual de ensino
Conforme a diretora do Departamento Curricular da Educação Básica da Seduc, Sherol Santos, o ensino médio na rede estadual vai passar por uma revisão das matrizes curriculares: “Estávamos implementando um modelo que sofreu ajustes significativos. Isso nos obriga a olhar novamente para nossa proposta pedagógica e realizar as adaptações necessárias para atender às demandas dos alunos”, explicou ela na live.
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Os estudantes que ingressarão no 1º anos do ensino médio no próximo ano serão contemplados com as alterações completas. Já os alunos da 2º e 3º anos terão uma matriz curricular de transição. As aulas começam em 10 de fevereiro.
Segundo a Seduc, estão sendo desenvolvidos materiais de apoio, como cadernos de metodologias ativas e outros conteúdos para que os professores planejem suas aulas a partir da nova legislação.
Já para os estudantes, serão elaborados cadernos de exercícios para que possam estudar e se preparar para o Enem. Outro ponto de apoio será o site do Ensino Médio Gaúcho, que terá atualizações detalhadas sobre o processo de reestruturação.
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Além disso, ao longo do primeiro semestre será realizada uma consulta pública sobre a proposta de itinerários formativos, com uma feira agendada para o segundo semestre, onde será realizada uma escuta ativa com estudantes e pesquisa de interesse. A implementação completa dos itinerários formativos, para todas as séries, é prevista para 2026.