Faz pouco mais de um ano que a gerente de importação e assistência técnica Leandra Boaro, 54 anos, descobriu que tinha um talento, até então, nunca revelado. Ela é uma ótima organizadora de bingos e além de ofertar bons prêmios, ainda distribui atenção, abraços e sorrisos.
Quem atesta essa habilidade de Leandra são os moradores do Lar São Vicente de Paula, em Novo Hamburgo, onde ela bate ponto toda a terça-feira de manhã. “Ela vem aqui pra fazer a gente feliz”, declara Irineu Gomes, 84, que não perde a brincadeira. “O divertimento do jogador é ganhar e hoje eu levei um docinho”, comentou.
Durante duas horas da semana, Leandra dedica seu tempo para brincar, conversar e levar os moradores para tomar sol. “É tanto carinho e amor que eles dão pra gente que isso não tem preço. Se eu não venho, por causa de um compromisso inadiável, eu sinto falta”, conta.
Leandra é uma das voluntárias que dedica seu tempo ao lar de acolhimento de idosos carentes. Aliás, no São Vicente até a presidência é exercida voluntariamente, cargo que agora é ocupado por Leonício Fonseca, 57, que há 22 anos acompanha o trabalho da entidade.
A Organização das Nações Unidas (ONU), diz que o voluntário é uma pessoa que, “devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social ou outros campos”.
No Brasil, essa mão de obra que não tem preço mas que custa muito é lembrada em 28 de agosto, declarado desde 1985 como o Dia Nacional do Voluntariado. Vale lembrar que Igrejinha, no vale do Paranhana, é a Capital do Voluntariado.
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Com a enchente, nasceu uma voluntária que veio para ficar
Com a enchente de maio, a força dos voluntários, vindos de todos os cantos do Brasil e até do exterior, fez a diferença no Rio Grande do Sul e salvou a vida de muita gente. Muitos daqueles que se prontificaram a ajudar naquela época já voltaram a sua vida normal. Mas este não é o caso da advogada Milena Pereira Guarese, 37 anos.
Natural de Brasília e há cinco anos em Estância Velha, conheceu a enchente em terras gaúchas e auxiliou quando foi montado um Centro de Distribuição pela equipe de voluntários da Paróquia Sagrado Coração de Jesus. O serviço funcionou em um espaço cedido gratuitamente e recebeu ajuda também de missionários da Comunidade Shalom.
Na época, além das doações físicas, foram recebidas doações em dinheiro que são utilizadas para a compra de móveis. A logística é organizada por Milena, o esposo, Tomas Guarese, 36, e o padre Alex Graminho Boardman. Aos sábados, eles acionam voluntários da paróquia e partem para o bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, para fazer a entrega às famílias cadastradas previamente. “Isso virou um trabalho não remunerado, eu me sinto responsável. É um compromisso”, declara.
De acordo com Milena, mesmo que a situação das famílias atingidas pelas cheias fique estável, ela não vai mais parar com o voluntariado. “Eu vou arranjar uma outra forma de ajudar, porque isso de fato nos dá um sentido. Voltar para o meu conforto me faz lembrar que tem gente que não tem isso”, pontua.
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Quem se doa no voluntariado, recebe muito mais
Professora aposentada de matemática, Niva Helena Bonenberger, 72, é voluntária na Associação de Assistência em Oncopediatria – AMO Criança. Ela também auxilia a entidade na venda de números de ações que arrecadam fundos. Como os pacientes ficam muito tempo afastado da escola por causa das internações, o trabalho de Niva é importante para recuperar o tempo perdido.
Ela conta que no ano passado teve um aluno de 14 anos muito desanimado, pois ficou meses no hospital. “Aos poucos fui recuperando ele e melhorou tanto que disse que estava ajudando os colegas dele.
Na última aula, veio só pra saber da minha vida porque não tinha mais dúvida nenhuma”, se emociona. “A gente se doa, mas ganha muito em troca. Ainda mais que é com criança e com adolescente, que estão nesta fase difícil e ainda com doença. Mas eles ensinam muita coisa pra gente”, garante.
Já Liliane Marchisio, 45 anos, conta que aprendeu o sentido do voluntariado com a mãe, quando ela colocava para dentro de casa crianças que batiam à porta pedindo comida. Liliane atua no Natal da Vida, projeto é da JCI Novo Hamburgo, em parceria com a Catedral São Luiz Gonzaga e Pastoral da Criança.
Também é examinadora voluntária do Prêmio Nacional de Qualidade em Saneamento (PNQS), considerado o oscar do saneamento no Brasil e além disso atua com mentoria para mulheres em situação de pobreza que são mães. Ela atua como Head de Conteúdo de uma startup.
“Para ser voluntário é preciso ter empatia e sensibilidade, mas principalmente um olhar mais amplo sobre a necessidade da pessoa”, salienta.
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Para ela, a entrega do tempo em prol do próximo é o segredo para ser voluntário. “Tudo é planejamento. Tem uma cota da minha carga horária que conto como doação do meu tempo. Quem tem planejamento e organização consegue inserir o voluntariado na sua vida”, garante.
Quem quer ser voluntário, o que fazer?
A dica de Liliane, que também foi repetida por Niva, é que pessoas com o desejo de serem voluntárias procurem instituições ou pessoas inseridas na atividade para serem orientadas. “Quem faz voluntariado ganha muito mais do que quem é impactado por aquele serviço”, testemunha.
Por fim, os entrevistados, mesmo sem se conhecerem, citaram uma palavra em comum: compromisso com a atividade assumida. “Porque se não o tomamos como um compromisso, conosco mesmo e com os outros, é fácil nos perdemos em meio às pressões que recebemos de todas as áreas no dia a dia”, conclui Leandra.