No ano do Bicentenário, um dos principais símbolos da imigração alemã em São Leopoldo ficou de fora do roteiro das celebrações na cidade. A Casa do Imigrante, no bairro Feitoria, local que abrigou os primeiros imigrantes germânicos que chegaram a São Leopoldo em julho de 1824, sofreu danos com um desabamento no dia 5 de março de 2019.
Desde então, o local segue em ruínas. Selecionada para participar do projeto Iconicidades (para revitalização de espaços arquitetônicos simbólicos), do governo estadual em 25 de julho de 2022, a casa continua do mesmo jeito, sem expectativa de quando serão iniciadas as obras do projeto escolhido.
Tombado
De março de 2019 para cá, a principal preocupação de historiadores e de autoridades é em como recuperar o espaço, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae/RS), na cidade que ostenta o título de Berço da Colonização Alemã no Brasil, oficializado pelo governo federal em 2011.
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O descaso com o restauro do museu gera inconformidade também em quem mora próximo a casa. “É muito triste passar aqui pela frente e ver o museu deste jeito. Um desrespeito com a história da nossa cidade”, opina o aposentado Marcos Jung, 63 anos.
A artesã Amália Terezinha de Moura, 58, recorda com carinho os eventos realizados no local. “Era lindo de ver o pátio repleto de visitantes. A Casa do Imigrante é um símbolo importante para São Leopoldo que não podemos deixar abandonada e esquecida como está”, diz.
Procurada, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), responsável pelo concurso Iconicidades, informou, por meio de nota, que o projeto relativo à Casa do Imigrante já tramitou em suas diversas etapas a partir de uma atuação conjunta entre diversos órgãos públicos do Governo do Estado e da Prefeitura de São Leopoldo e que, no momento, encontra-se na fase de “trâmites para a assinatura do Estado, formalizando, então, a celebração do convênio que prevê a revitalização do espaço”.
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“Uma vez celebrado o convênio, os projetos de intervenção na Casa da Feitoria serão repassados ao município para que o mesmo execute a obra”, diz o texto.
Projeto pelo Iconicidades
Os vencedores do concurso Iconicidades foram revelados em julho de 2022. Para a Casa do Imigrante, o projeto escolhido foi o da arquiteta leopoldense Patrícia de Freitas Nerbas e de sua equipe. Além do prêmio de R$ 20 mil, Patrícia e os demais autores do projeto, Jordana Cristine Winter, Ketelyn Schiochet Jardim, Kauã Domingues de Oliveira e Vera Grieneisen, ficaram responsáveis pelo desenvolvimento dos projetos executivos e complementares.
Em 2022, em entrevista ao Jornal VS, Patrícia explicou o projeto, que, segundo ela, deverá levar traços de modernidade à Casa do Imigrante, mas sem que se percam suas principais características históricas.
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“No que se refere ao patrimônio, tentamos preservar a imagem consagrada da casa no imaginário da população local, por isso além da análise arquitetônica e seus traços históricos, foi feita uma análise contextualizada com a parte sentimental deste patrimônio e seu entorno. Buscamos manter o caráter que a casa possuía antes do desabamento, conforme exigências do edital”.
Uma obra de R$ 5 milhões
Ao todo, 28 projetos de todo o País foram inscritos para a Casa do Imigrante. Destes, 27 foram homologados, mas apenas 14 entregues no prazo. Além do projeto vencedor, outros dois foram premiados com valor em dinheiro (R$ 15 mil e R$ 10 mil) e um quarto recebeu menção honrosa.
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A elaboração do projeto arquitetônico executivo e museológico da Casa do Imigrante está orçada em R$ 607.321,14. A estimativa é que o total da revitalização e criação das novas estruturas custe cerca de R$ 5 milhões.
Município diz que enviou termo de convênio ao Estado em julho
Também em nota, a Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais (Secult) destacou que já foram realizadas todas as etapas necessárias, dos setores de fiscalização e conferência do Governo do Estado (DICON, ASJUR, CAGE, IPHAE), Corpo de Bombeiros, licenças da Prefeitura e, por fim, o Termo de Convênio n.º 2526/2024 que foi assinado pelo prefeito Ary Vanazzi e enviado para a SPGG no último dia 11 de julho para assinatura da secretária estadual de Planejamento, Governança e Gestão Danielle Calazans.
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“Desde então, não tivemos mais retorno sobre o assunto”, destaca a Secult na nota. Presidente do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, que é o responsável pela Casa do Imigrante, Cássio Tagliari, evita criar muitas expectativas em relação à revitalização do local. “Não tenho muito o que falar. Acho que agora é olhar para frente e torcer para que o assunto consiga se resolver no próximo governo”, diz.
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