A semana da Páscoa trouxe uma polêmica na cidade de Nova Petrópolis, na Serra. As peças utilizadas na decoração da “Páscoa no Mundo”, edição de 2024 da celebração no município, não são novas. Até o ano passado, elas eram obras de arte produzidas por artistas locais, mas foram repintadas.
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A situação pegou os artistas de surpresa. Zana Costa, responsável por duas das obras de arte produzidas no ano de 2018 e que faz parte do grupo de artistas visuais da cidade, lamenta que as peças estejam sendo utilizadas como uma mera decoração e que a arte tenha “desaparecido”.
“A secretaria de Turismo confirmou para uma pessoa do grupo que eram os mesmos ovos e que precisaram ser restaurados. Isso não é restauro, é apagamento”, afirma.
Na manhã deste sábado (30), os artistas fizeram uma manifestação na área central de Nova Petrópolis. Cerca de 40 pessoas fizeram uma caminhada até uma das rótulas onde há a “decoração”.
“Foi uma manifestação artística. Na semana passada, recebemos uma nota via Conselho de Cultura e houve também uma nota da Prefeitura em que lamentaram se houve incômodo, mas que as peças precisavam ser repintadas. Temos uma reunião marcada para quarta (03), e queremos saber intenção a deles. Saber que laudo foi feito para apontar que os ovos estavam sem condição de restauro. Sabemos como artistas que por pior que esteja uma peça conseguimos restaurar”, ressalta Zana.
A manifestação contou com a cobertura de um dos ovos de Páscoa, que foi pintado de branco com corações coloridos. O grupo colocou, de forma temporária, um tecido preto com os dizeres “era arte” e as assinaturas dos participantes da ação. Além disso, conforme a artista, o ato terminou com uma grande roda de conversa.
“Retiramos o tecido porque a intenção não é danificar o patrimônio público, faz parte da decoração atual da cidade. Depois, fomos até a Praça das Flores e tivemos uma longa conversa com propostas que levaremos até a prefeitura como forma de reparação. Queremos que isso se reverta em ações educativas em incentivo às artes visuais”, explica Zana Costa.
Veja o que diz a prefeitura
“A Administração Municipal de Nova Petrópolis informa que as peças da “Páscoa no Mundo” foram criadas em 2018, destinando-se ao evento municipal Magia da Páscoa. Infelizmente, com o passar dos anos, as peças sofreram deterioração. Em 2023 foram realizados reparos nas estruturas, utilizando-as no evento Magia da Páscoa daquele ano. Em 2024, no entanto, com o avanço da deterioração, não foi mais possível fazer uma reforma estrutural que mantivesse a pintura original, conforme a empresa especializada contratada pelo Município.
A Administração Pública sensibiliza-se com o desconforto porventura causado, ressalvando que jamais agiu em desconsideração aos artistas e demais envolvidos. O intuito quanto ao uso das peças sempre foi de dar a maior visibilidade possível. Quando não mais era viável sua recuperação, entendeu-se por, ao menos, fazer o aproveitamento das partes possíveis.”
A administração citou também ações e investimentos na área cultural da cidade.
“O Plano Municipal de Cultura foi aprovado em 2023 e já se encontra com diversas ações em execução, o que demonstra a preocupação permanente da Administração Municipal em fomentar o setor cultural através de suas atividades. Novas ações e possibilidades continuam em análise no Município, de modo que os diversos eixos culturais tenham assegurada o seu espaço e valorização.”
Carta aberta dos artistas
Antes mesmo da manifestação, o grupo divulgou uma carta aberta sobre o ocorrido. Confira parte do texto:
“Mesmo que uma obra de arte seja vendida ou doada, o direito autoral sempre é do artista. A prefeitura tinha a posse das obras, um bem artístico e cultural da cidade, dos seus munícipes. Dessa forma, seis obras de arte, patrimônio público foram destruídas.
Não temos mais palavras para expressar o descaso com os artistas locais e suas obras. Enquanto algumas cidades constroem espaços para tornar acessível a Arte para sua comunidade e dar visibilidade à produção de seus artistas, fomentando a cultura e a expressão artística, vemos em nosso município o apagamento da cultura atual construída. Uma cidade que valoriza tanto a cultura de seus antepassados, mas não se mostrou capaz de valorizar a cultura que é produzida hoje.”
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