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Jornalista será a primeira mulher trans a concluir mestrado na Universidade Feevale

Conforme a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, apenas 0,02% das pessoas trans e travestis têm acesso às universidades

Publicado em: 03/07/2024 20:58
Última atualização: 03/07/2024 21:07

A jornalista Luiza Eduarda dos Santos se tornará, nesta quinta-feira (4), a primeira mulher trans a concluir um mestrado pela Universidade Feevale. Luiza será mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Processos e Manifestações Culturais, com a pesquisa Entre Abjeções e Invasões de Espaço: o discurso do trans panic e a ONG Minha Criança Trans.


Luiza Eduarda conclui mestrado nesta quinta-feira (4) Foto: Divulgação

A proposta da dissertação de Luiza é inspirada na sua condição da transexualidade e de seu longo engajamento com o transativismo. O trabalho visa demonstrar como agem alguns dos vários segmentos discriminatórios e apontar possíveis alternativas de enfrentamento, contribuindo com a busca de uma sociedade mais empática, altruísta e humana.

A dissertação versa sobre o discurso do trans panic a partir de postagens na rede social Instagram, levando em conta a participação da ONG Minha Criança Trans na Parada do Orgulho LBGT de São Paulo, em junho de 2023.

A proposta analisa a disseminação do discurso de pânico contra as pessoas trans, estratégia adotada, em especial, nas redes sociais, para criar medo e disseminar mitos, estigmas e tabus contra pessoas trans, a fim de desumanizar, ridicularizar, negar acesso a espaços e direitos, bem como criminalizar pessoas trans através do medo da convivência social.

Luiza diz ser um privilégio e uma honra concluir o mestrado. “Conforme a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, apenas 0,02% das pessoas trans e travestis têm acesso às universidades. Por isso, é uma responsabilidade muito grande porque não é apenas por mim, mas é representar uma comunidade de pessoas muito estigmatizada e alvo de muita violência devido à transfobia”, afirma.

"Uma pesquisa corajosa", diz orientadora

Para a professora da Feevale e orientadora de Luiza, Saraí Patricia Schmidt, a dissertação representa um importante movimento na reconstrução da pesquisa brasileira.

"Estamos muito mobilizados com a pesquisa da Luiza, que representa uma conquista para o grupo de pesquisa Criança na Mídia e para a pós-graduação na Feevale. Uma dissertação que analisa a relação da mídia e a discriminação das infâncias num contexto de violências como o Brasil representa a determinação da pesquisadora em tempos de exclusão. Uma pesquisa corajosa, feita com rigor acadêmico e que amplia o debate sobre os direitos humanos", destaca.

A banca será composta, ainda, pelas professoras Claudia Schemes, da Universidade Feevale, e Thais Furtado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ativista de movimentos sociais 

Luiza Eduarda é ativista dos movimentos sociais na área de gênero e sexualidade, bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e integrante do grupo de pesquisa da Feevale Criança na Mídia: Núcleo de Pesquisa em Comunicação, Educação e Cultura.

Luiza explica que o mestrado serviu de motivação para a recuperação de seu processo de transição de gênero. “Muitas pessoas consideraram uma loucura começar a fazer o mestrado tão próximo da cirurgia de mudança de sexo. Mas fazer mestrado era um objetivo que eu tinha há muitos anos e que eu tive que adiar em função do processo de transição. E, por isso, eu queria aproveitar cada momento desde o início”, afirma.

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