Familiares, amigos e artistas se despedem nesta quarta-feira (6) de Flávio Scholles, de 74 anos. O artista plástico gaúcho e de renome internacional morreu na terça-feira (5), em hospital de Dois Irmãos, por conta de um câncer que descobriu há cinco meses. O velório ocorre no Cemitério Jardim da Memória, em Novo Hamburgo, e a cerimônia de cremação está marcada para as 17 horas de hoje.
Na capela 4, onde é velado, a arte está presente. O quadro com sua obra de arte mais famosa, Cristo de Mãos Vazias, seu jaleco e seu chapéu transformam o espaço em lembrança do legado que deixou.
A trajetória na vida pessoal e no mundo das artes o define como uma “pessoa única”, conforme relato da neta do artista. “Existem pessoas boas que se vão e, conforme vai passando o tempo, às vezes encontra alguém com os mesmos jeitos. Mas eu sinto que ele era uma pessoa única. As histórias dele, as vivências dele, tudo que ele me ensinou, a forma como ele seguiu a vida dele, como ele encarou os desafios na vida, acho que era uma pessoa muito forte, muito corajosa por ter quebrado tabus”, declara a neta, a estudante de Biomedicina, Marina Scholles, 20 anos.
Marina lembra que o avô contava que muitas pessoas, entre familiares e amigos, não o apoiaram na arte. “Ele teve esse momento muito sozinho, foi uma trajetória muito sozinha pra ele ser a pessoa até hoje. Eu o admiro muito por tudo e não só como artista. Ele era um avô incrível, ele era um pai incrível, ele fazia de tudo pela gente”, salienta ao lembrar que diariamente ele dizia o quanto amava ela e sua mãe Rudaia. “Várias vezes ele falava que éramos a luz e as fadas da vida dele.”
Emocionada, Rudaia Scholles, filha única do artista plástico, seguiu os passos do pai. Scholles passou a criar a filha sozinho quando ela tinha três anos, após o divórcio da esposa. “Eu fui criada por ele, estudei artes, fiquei do lado dele até hoje. Também é muito difícil pensar como vou seguir sem ele, mas pretendo honrar e levar adiante esse trabalho lindo que ele deixou”, frisou.
Rudaia acrescenta que ele era especial. “Ele disse para mim que ‘se eu cair duro ali, tu pode ter certeza, eu fiz tudo que eu pude, eu fiz o meu melhor, eu fui feliz. Então, a minha missão eu cumpri”, conta emocionada.
Legado artístico
O artista plástico Marciano Schmitz esteve pela manhã no velório. Ele relembrou o movimento de artes, Casa Velha, iniciado por Scholles, que revolucionou a arte na região. “A obra é o próprio legado. Pode parecer uma coisa meio demagógica, mas o que importa para o artista não é o ato, não é a pessoa. O que importa é a linguagem dele, é o discurso dele, é a vivência dele, é o testemunho dele.”
Schmitz ainda acrescenta, “cada vez que uma pessoa olhar um quadro dele, vai lembrar de sua história, de falar a verdade, de ser franco”.
O fotógrafo João Ricardo da Silva, 61 anos, realizou trabalhos em parceria com Scholles, como a reprodução das obras de arte para o livro e na participação no documentário Scholles – Sementes da Cor. “Acompanhei todo o trabalho. Foi uma pessoa muito importante que vai fará falta”, declara o fotógrafo.
Quem também foi se despedir de Scholles e abraçar a família foi o aposentado Jorbes Fagundes da Silva, 76. Nos últimos três anos, ele era cuidador do artista. “Ele era quase um pai”, comentou o idoso emocionado no velório.
LEIA TAMBÉM