AEDES AEGYPTI
Mosquito da dengue coloca em risco saúde pública de cidades da região
Levantamento aponta que focos do mosquito estão acima do recomendado em cidades como Igrejinha, Novo Hamburgo e São Leopoldo
Última atualização: 23/01/2024 12:50
Os primeiros dados do ano sobre a presença do mosquito da dengue na região preocupam as prefeituras e motivam ações de prevenção. Em janeiro, os municípios realizaram o Levantamento Rápido de Índice para o Aedes aegypti (Liraa), que mostrou alta presença do mosquito.
Das doze cidades pesquisadas pela reportagem, sete tiveram resultados que as colocam na classificação de "em iminente perigo à saúde pública" - Campo Bom, Esteio, Igrejinha, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Taquara (três não fizeram o Liraa e duas tiveram índices baixos). Além disso, oito delas já registraram casos confirmados este ano - 14 casos no total.O Liraa é feito quatro vezes ao ano, seguindo diretrizes do Ministério da Saúde. O de janeiro ganha mais importância por ser realizado logo antes do período de maior proliferação do mosquito, que ocorre nos meses de março e abril.
A preocupação das prefeituras se justifica pelo histórico recente da doença. No ano passado, o País vivenciou um dos piores períodos em relação à dengue, com alta no número de casos e mais de mil óbitos, um recorde.
Somente no Rio Grande do Sul, 66 pessoas morreram de dengue, sendo nove em Novo Hamburgo, cidade com mais perdas, e seis em Igrejinha. Mais de 90% dos municípios gaúchos (454 dos 497) apresentaram infestação por Aedes em 2022.O único caso confirmado este ano em Novo Hamburgo é de um homem, de 25 anos, morador do bairro São Jorge. Os principais pontos de concentração de larvas são pratos para vasos de flor, baldes para coleta de água e outros recipientes. Estes locais correspondem a 57% dos focos. O índice de infestação está em 1,1% na cidade.
O trabalho de prevenção é realizado em duas frentes: o combate aos mosquitos e às larvas. Nos bairros que apresentam maior concentração de larvas, se concentram as visitas para verificar possíveis focos, orientar os moradores e aplicar larvicida.
Já nos locais em que há casos suspeitos, é feita a aplicação de inseticida, que combate o mosquito. Os bairros São Jorge, Canudos e Roselândia já tiveram aplicação de inseticida na semana passada.
Gerente de Vigilância em Saúde, Débora Bassani destaca a necessidade do engajamento da população. "Estamos fazendo nosso trabalho de forma cautelosa e incessante, para não enfrentarmos o que a gente teve no ano passado. Não estamos livres disso. Por isso, pedimos o apoio da população. É um trabalho que não depende só do órgão público, depende de cada um fazer sua parte."
Entenda a classificação do Ministério da Saúde
A classificação do Ministério da Saúde leva em conta o Índice de Infestação Predial (IIP). Municípios com índices inferiores a 1% são considerados em condições satisfatórias (risco baixo); entre 1% a 3,9%, em iminente perigo à saúde pública (médio); e acima de 3,9%, há risco de surto de dengue ou outras doenças relacionadas.
Além do levantamento, uma nova arma no combate ao mosquito vem sendo utilizada desde dezembro em algumas cidades. São as ovitrampas, armadilhas que simulam criadouro e atraem as fêmeas para colocarem os ovos. A partir da contagem dos ovos, é possível calcular a densidade da população do mosquito.
Casos de dengue confirmados em 2023
Campo Bom: 2
Ivoti: 2
Igrejinha: *2
Novo Hamburgo: 1
São Leopoldo: **2
Sapucaia: 2
Sapiranga: 1
Taquara: *2
*Casos informados pelos municípios e ainda não computados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES)
**Casos informados pela SES, mas não registrados pelo município.
'Para começar uma epidemia, é muito fácil'
Em Montenegro, no Vale do Caí, a Vigilância em Saúde tem realizado mutirões de orientação à população nos bairros. Ainda assim, o levantamento revela uma situação preocupante. Em janeiro, foram localizados 105 pontos com larvas do mosquito que transmite dengue e outras doenças. O número é superior, por exemplo, a todo o ano de 2020, quando foram localizados 78 focos. Ao longo de 2022, foram encontrados 361 focos.
"Apesar dos mutirões, a gente encontrou muitos imóveis com larvas de Aedes, principalmente em ralos dos pátios, por onde passa a água da chuva. É muito passível de isso se tornar um problema maior. Com tanta larva, para começar uma epidemia é muito fácil", avalia a chefe da Vigilância em Saúde, Beatriz Garcia. Ela recomenda que os ralos sejam cobertos com tela, para evitar que a fêmea do mosquito ponha os ovos ali, ou que seja colocada água sanitária nestes pontos. O IIP de Montenegro ficou em 0,5%, considerado risco baixo, mas Beatriz pondera que o dado não representa fielmente a realidade do município.
Situação pela região
Canoas: dados de janeiro não estão disponíveis. Em dezembro de 2022, foram inspecionados 3.189 imóveis e eliminados 219 criadouros. As equipes agiram em 245 pontos estratégicos. Em dezembro, foram 101 casos confirmados de dengue.
Campo Bom: foram encontrados em janeiro 51 focos do mosquito. O IIP ficou em 2,3. Entre as ações, há um controle nas moradias. Em março, o município retoma as ações de orientação nas empresas e escolas. Uma equipe atende denúncias de situações de risco, que podem ser encaminhadas pelo WhatsApp (51) 99668 8442.
Estância Velha: o município não fez o Liraa em janeiro. Cerca de 30% dos focos estão nos recipientes usados para hidratar os animais. Hoje, os agentes de endemia estarão nos bairros Campo Grande (manhã) e União (tarde). O município dispõe ainda de uma equipe de agentes que visitam as residências em horário alternativo, após as 17h. Denúncias: 3551-1417.
Ivoti: o último Liraa abrangeu 483 imóveis, onde foram encontrados 772 focos de água parada e uma amostra de larvas do Aedes aegypti, índice de baixo risco de infestação. Visitas a imóveis e recebimento de denúncias seguem sendo feitos. Nos próximos meses, haverá mutirões.
Esteio: o índice ficou em 3,1, risco médio. Em janeiro de 2022, havia sido de 12,3, considerado risco de surto. Mesmo sem casos confirmados, a Vigilância mantém alerta.
Igrejinha: desde março de 2022, o município realiza ações diárias de controle e prevenção contra a proliferação do mosquito. O IIP ficou em 1,6. Em relação ao ano passado, o índice aumentou, mas o número de locais pesquisados também foi maior. O canal para denúncias é o (51) 99144-8954 (telefone e WhatsApp).
São Leopoldo: foram realizadas 3.001 visitas em 597 quarteirões, com 91 amostras coletadas. Destas, 74 deram positivo para o Aedes, com o IIP ficando em 2,3. As equipes da Vigilância seguem com as visitas de rotina nas residências e nos pontos estratégicos.
Sapiranga: o município não realizou o Liraa em janeiro. Sapiranga é uma das cidades que utiliza as ovitrampas. As 50 armadilhas instaladas coletaram 1.162 ovos.
Sapucaia do Sul: teve dois casos confirmados este ano, nos bairros Fortuna e Colonial. Em janeiro, foram encontrados 18 focos. O índice ficou em 1,28, mantendo o status de alerta de um ano atrás. Em 2022, teve o primeiro óbito por dengue da história. Entre as ações executadas estão a blitz das piscinas e a distribuição de repelente para gestantes.
Taquara: o tem um caso confirmado este ano, uma idosa, de 80 anos, moradora do bairro Santa Teresinha. Foram coletadas 36 amostras, das quais 17 tinham larvas do mosquito. Elas estavam nos bairros Empresa, Santa Teresinha, Alto Santa Rosa, Santa Maria, Cruzeiro, Mundo Novo, Medianeira e Morro do Leôncio. O IIP ficou em 1,8. Além das visitas em residências, a Vigilância monitora 16 pontos estratégicos.
País teve recorde de mortes em 2022
No ano passado, o Brasil teve 1.016 mortes em decorrência de dengue confirmadas, de acordo com o mais recente Boletim Informativo do Ministério da Saúde, de janeiro de 2023. Havia ainda 109 mortes em investigação. O dado representa um aumento de 313% em relação a 2021, quando foram registradas 246 mortes.
Foi o ano com maior número de mortes por dengue registrado no País. Até então, o ano de 2015 era o mais mortal, com 986 óbitos. O RS foi o quinto estado com mais mortes, atrás de São Paulo (282), Goiás (162), Paraná (109), Santa Catarina (88).
Os primeiros dados do ano sobre a presença do mosquito da dengue na região preocupam as prefeituras e motivam ações de prevenção. Em janeiro, os municípios realizaram o Levantamento Rápido de Índice para o Aedes aegypti (Liraa), que mostrou alta presença do mosquito.
Das doze cidades pesquisadas pela reportagem, sete tiveram resultados que as colocam na classificação de "em iminente perigo à saúde pública" - Campo Bom, Esteio, Igrejinha, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Taquara (três não fizeram o Liraa e duas tiveram índices baixos). Além disso, oito delas já registraram casos confirmados este ano - 14 casos no total.O Liraa é feito quatro vezes ao ano, seguindo diretrizes do Ministério da Saúde. O de janeiro ganha mais importância por ser realizado logo antes do período de maior proliferação do mosquito, que ocorre nos meses de março e abril.
A preocupação das prefeituras se justifica pelo histórico recente da doença. No ano passado, o País vivenciou um dos piores períodos em relação à dengue, com alta no número de casos e mais de mil óbitos, um recorde.
Somente no Rio Grande do Sul, 66 pessoas morreram de dengue, sendo nove em Novo Hamburgo, cidade com mais perdas, e seis em Igrejinha. Mais de 90% dos municípios gaúchos (454 dos 497) apresentaram infestação por Aedes em 2022.O único caso confirmado este ano em Novo Hamburgo é de um homem, de 25 anos, morador do bairro São Jorge. Os principais pontos de concentração de larvas são pratos para vasos de flor, baldes para coleta de água e outros recipientes. Estes locais correspondem a 57% dos focos. O índice de infestação está em 1,1% na cidade.
O trabalho de prevenção é realizado em duas frentes: o combate aos mosquitos e às larvas. Nos bairros que apresentam maior concentração de larvas, se concentram as visitas para verificar possíveis focos, orientar os moradores e aplicar larvicida.
Já nos locais em que há casos suspeitos, é feita a aplicação de inseticida, que combate o mosquito. Os bairros São Jorge, Canudos e Roselândia já tiveram aplicação de inseticida na semana passada.
Gerente de Vigilância em Saúde, Débora Bassani destaca a necessidade do engajamento da população. "Estamos fazendo nosso trabalho de forma cautelosa e incessante, para não enfrentarmos o que a gente teve no ano passado. Não estamos livres disso. Por isso, pedimos o apoio da população. É um trabalho que não depende só do órgão público, depende de cada um fazer sua parte."
Entenda a classificação do Ministério da Saúde
A classificação do Ministério da Saúde leva em conta o Índice de Infestação Predial (IIP). Municípios com índices inferiores a 1% são considerados em condições satisfatórias (risco baixo); entre 1% a 3,9%, em iminente perigo à saúde pública (médio); e acima de 3,9%, há risco de surto de dengue ou outras doenças relacionadas.
Além do levantamento, uma nova arma no combate ao mosquito vem sendo utilizada desde dezembro em algumas cidades. São as ovitrampas, armadilhas que simulam criadouro e atraem as fêmeas para colocarem os ovos. A partir da contagem dos ovos, é possível calcular a densidade da população do mosquito.
Casos de dengue confirmados em 2023
Campo Bom: 2
Ivoti: 2
Igrejinha: *2
Novo Hamburgo: 1
São Leopoldo: **2
Sapucaia: 2
Sapiranga: 1
Taquara: *2
*Casos informados pelos municípios e ainda não computados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES)
**Casos informados pela SES, mas não registrados pelo município.
'Para começar uma epidemia, é muito fácil'
Em Montenegro, no Vale do Caí, a Vigilância em Saúde tem realizado mutirões de orientação à população nos bairros. Ainda assim, o levantamento revela uma situação preocupante. Em janeiro, foram localizados 105 pontos com larvas do mosquito que transmite dengue e outras doenças. O número é superior, por exemplo, a todo o ano de 2020, quando foram localizados 78 focos. Ao longo de 2022, foram encontrados 361 focos.
"Apesar dos mutirões, a gente encontrou muitos imóveis com larvas de Aedes, principalmente em ralos dos pátios, por onde passa a água da chuva. É muito passível de isso se tornar um problema maior. Com tanta larva, para começar uma epidemia é muito fácil", avalia a chefe da Vigilância em Saúde, Beatriz Garcia. Ela recomenda que os ralos sejam cobertos com tela, para evitar que a fêmea do mosquito ponha os ovos ali, ou que seja colocada água sanitária nestes pontos. O IIP de Montenegro ficou em 0,5%, considerado risco baixo, mas Beatriz pondera que o dado não representa fielmente a realidade do município.
Situação pela região
Canoas: dados de janeiro não estão disponíveis. Em dezembro de 2022, foram inspecionados 3.189 imóveis e eliminados 219 criadouros. As equipes agiram em 245 pontos estratégicos. Em dezembro, foram 101 casos confirmados de dengue.
Campo Bom: foram encontrados em janeiro 51 focos do mosquito. O IIP ficou em 2,3. Entre as ações, há um controle nas moradias. Em março, o município retoma as ações de orientação nas empresas e escolas. Uma equipe atende denúncias de situações de risco, que podem ser encaminhadas pelo WhatsApp (51) 99668 8442.
Estância Velha: o município não fez o Liraa em janeiro. Cerca de 30% dos focos estão nos recipientes usados para hidratar os animais. Hoje, os agentes de endemia estarão nos bairros Campo Grande (manhã) e União (tarde). O município dispõe ainda de uma equipe de agentes que visitam as residências em horário alternativo, após as 17h. Denúncias: 3551-1417.
Ivoti: o último Liraa abrangeu 483 imóveis, onde foram encontrados 772 focos de água parada e uma amostra de larvas do Aedes aegypti, índice de baixo risco de infestação. Visitas a imóveis e recebimento de denúncias seguem sendo feitos. Nos próximos meses, haverá mutirões.
Esteio: o índice ficou em 3,1, risco médio. Em janeiro de 2022, havia sido de 12,3, considerado risco de surto. Mesmo sem casos confirmados, a Vigilância mantém alerta.
Igrejinha: desde março de 2022, o município realiza ações diárias de controle e prevenção contra a proliferação do mosquito. O IIP ficou em 1,6. Em relação ao ano passado, o índice aumentou, mas o número de locais pesquisados também foi maior. O canal para denúncias é o (51) 99144-8954 (telefone e WhatsApp).
São Leopoldo: foram realizadas 3.001 visitas em 597 quarteirões, com 91 amostras coletadas. Destas, 74 deram positivo para o Aedes, com o IIP ficando em 2,3. As equipes da Vigilância seguem com as visitas de rotina nas residências e nos pontos estratégicos.
Sapiranga: o município não realizou o Liraa em janeiro. Sapiranga é uma das cidades que utiliza as ovitrampas. As 50 armadilhas instaladas coletaram 1.162 ovos.
Sapucaia do Sul: teve dois casos confirmados este ano, nos bairros Fortuna e Colonial. Em janeiro, foram encontrados 18 focos. O índice ficou em 1,28, mantendo o status de alerta de um ano atrás. Em 2022, teve o primeiro óbito por dengue da história. Entre as ações executadas estão a blitz das piscinas e a distribuição de repelente para gestantes.
Taquara: o tem um caso confirmado este ano, uma idosa, de 80 anos, moradora do bairro Santa Teresinha. Foram coletadas 36 amostras, das quais 17 tinham larvas do mosquito. Elas estavam nos bairros Empresa, Santa Teresinha, Alto Santa Rosa, Santa Maria, Cruzeiro, Mundo Novo, Medianeira e Morro do Leôncio. O IIP ficou em 1,8. Além das visitas em residências, a Vigilância monitora 16 pontos estratégicos.
País teve recorde de mortes em 2022
No ano passado, o Brasil teve 1.016 mortes em decorrência de dengue confirmadas, de acordo com o mais recente Boletim Informativo do Ministério da Saúde, de janeiro de 2023. Havia ainda 109 mortes em investigação. O dado representa um aumento de 313% em relação a 2021, quando foram registradas 246 mortes.
Foi o ano com maior número de mortes por dengue registrado no País. Até então, o ano de 2015 era o mais mortal, com 986 óbitos. O RS foi o quinto estado com mais mortes, atrás de São Paulo (282), Goiás (162), Paraná (109), Santa Catarina (88).
Das doze cidades pesquisadas pela reportagem, sete tiveram resultados que as colocam na classificação de "em iminente perigo à saúde pública" - Campo Bom, Esteio, Igrejinha, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Taquara (três não fizeram o Liraa e duas tiveram índices baixos). Além disso, oito delas já registraram casos confirmados este ano - 14 casos no total.O Liraa é feito quatro vezes ao ano, seguindo diretrizes do Ministério da Saúde. O de janeiro ganha mais importância por ser realizado logo antes do período de maior proliferação do mosquito, que ocorre nos meses de março e abril.