CAUSA INDETERMINADA
Morre paciente que aterrorizou hospital de Novo Hamburgo com atos de canibalismo
Definido como "caso raro", ex-presidiário continuava a comer a própria carne, conforme relatos na clínica para onde foi transferido
Última atualização: 11/01/2024 13:03
O paciente de 24 anos que provocou pânico no Hospital Municipal de Novo Hamburgo por atos de canibalismo, entre outubro e novembro do ano que passou, morreu no último sábado (31) em uma clínica psiquiátrica da cidade. Foi durante novo surto, depois do meio-dia, quando passou a comer a metade de um dedo da mão que havia sobrado das automutilações. Também mordia com força os próprios lábios e a língua. A certidão de óbito aponta causa indeterminada. Nascido em São Leopoldo, estava internado por encaminhamento do sistema prisional.O ex-presidiário era mantido medicado em quarto isolado para que não atacasse outros pacientes e funcionários da clínica. Se não fosse contido, avançava em quem chegasse perto e tentava morder. Na última crise, recebeu sedação às pressas, por injeção, e foi se acalmando até perder os sinais vitais. Uma equipe do Samu foi chamada. Na ocorrência policial, ficou registrado que era conhecido como “canibal de Novo Hamburgo”.
Transferência do sistema prisional
“Ele estava há seis meses conosco. Um caso raro”, declara o presidente do Instituto de Saúde Mental Liberdade, no bairro Rio Branco, Wagner Medeiros Pinto. Ele conta que o paciente chegou à clínica por meio de convênio público. “Estava em ala da Susepe [Superintendência dos Serviços Penitenciários] no Hospital Vila Nova, em Porto Alegre, e foi transferido para cá. Quando a família não tem condições de arcar com os custos do tratamento, a prefeitura é acionada”, explica. Quem bancava a internação era a administração municipal da capital.
O homem tinha diagnóstico de esquizofrenia com surtos psicóticos severos capazes de levar à automutilação. A medicação prescrita tinha altas doses de risperidona, metoclopramida, ácido valpróico, carbonato de lítio, heparina sódica, entre outros, muitos deles injetáveis.
Dias de pânico no Hospital Municipal
Segundo o responsável pela clínica, foi necessário encaminhar o paciente ao Hospital Municipal no dia 9 de outubro. “Ele se mordeu e provocou corte profundo na língua. Sangrava muito. Nossa instituição é especializada em saúde mental. Tivemos que removê-lo para a emergência.” O pânico começou no hospital assim que a ambulância deixou o ex-presidiário.
Acompanhantes e familiares de pacientes reclamavam que o ambiente havia virado um “pesadelo”. Os doentes da unidade, entre idosos e acidentados, passaram a não conseguir repousar em razão dos gritos. No surto mais forte, na madrugada de 24 de outubro, a Guarda Municipal teve que intervir. “Ele conseguiu se soltar. A confusão foi das 3 às 5 horas. Imagina se atacasse os pacientes vizinhos, quase todos acamados, sem autonomia”, recorda uma testemunha.
Conforme ela, uma cena aterrorizante não sai da cabeça. “Ele já comeu os dedos dos pés e das mãos. Naquela madrugada, enquanto mastigava a própria carne, dava para ouvir os estalos dos ossos na boca, que ele lambia. Era como se estivesse apreciando uma comida, enquanto encarava a equipe de enfermagem com olhar ameaçador.”
Área foi isolada e sedação aumentada
Diante do medo das equipes de enfermagem e limpeza, o quarto foi lacrado e a fechadura retirada. A dose para sedação foi intensificada. Os relatos eram que o paciente não só gritava e tentava atacar, como xingava e cuspia no pessoal. Apesar da força física que demonstrava nos surtos, mesmo amarrado no leito, ele já estava em deterioração. Tinha perdido a maioria dos dentes e estava com vários hematomas por causa da insólita mastigação.
Um abaixo-assinado organizado por familiares de outros pacientes já pedia a transferência. Na primeira semana de novembro, foi levado de volta à clínica de saúde mental. “Mantínhamos ele contido”, diz o responsável. Ele acredita que a morte tenha sido causada por parada cardíaca. “Infelizmente já era previsível que ia acontecer”.
Familiares providenciaram enterro em São Leopoldo
Familiares fizeram o reconhecimento oficial do corpo na noite de sábado no Instituto-Médico Legal, em Porto Alegre, e providenciaram os atos fúnebres na terra natal. O ex-presidiário foi enterrado no domingo (1º) no Cemitério da Piedade, no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo. A certidão de óbito menciona que não tinha profissão, bens nem filhos.
Autolesões provocaram tumulto na cadeia
O leopoldense respondia por crimes como tentativa de homicídio, roubos e receptação. Já teve que ser contido por surtos no sistema prisional. O comportamento autodestrutivo mobilizou socorro em galeria da Penitenciária Estadual de Canoas na madrugada de 29 de junho de 2019. Carcereiros foram chamados por apenados, assustados com o um companheiro de cela que se lesionava com fortes socos no rosto. E não parou com as “autolesões” mesmo durante a intervenção dos agentes. Bateu tanto em si que precisou de socorro médico.
Na tarde de 21 de janeiro do mesmo ano, ele tinha esfaqueado um homem de 28 anos no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo. A vítima não soube informar o motivo das agressões. Nem o acusado. Em julho de 2016, ele foi indiciado na cidade natal por receptação no bairro Campina e roubo de veículo na Scharlau.
O paciente de 24 anos que provocou pânico no Hospital Municipal de Novo Hamburgo por atos de canibalismo, entre outubro e novembro do ano que passou, morreu no último sábado (31) em uma clínica psiquiátrica da cidade. Foi durante novo surto, depois do meio-dia, quando passou a comer a metade de um dedo da mão que havia sobrado das automutilações. Também mordia com força os próprios lábios e a língua. A certidão de óbito aponta causa indeterminada. Nascido em São Leopoldo, estava internado por encaminhamento do sistema prisional.O ex-presidiário era mantido medicado em quarto isolado para que não atacasse outros pacientes e funcionários da clínica. Se não fosse contido, avançava em quem chegasse perto e tentava morder. Na última crise, recebeu sedação às pressas, por injeção, e foi se acalmando até perder os sinais vitais. Uma equipe do Samu foi chamada. Na ocorrência policial, ficou registrado que era conhecido como “canibal de Novo Hamburgo”.
Transferência do sistema prisional
“Ele estava há seis meses conosco. Um caso raro”, declara o presidente do Instituto de Saúde Mental Liberdade, no bairro Rio Branco, Wagner Medeiros Pinto. Ele conta que o paciente chegou à clínica por meio de convênio público. “Estava em ala da Susepe [Superintendência dos Serviços Penitenciários] no Hospital Vila Nova, em Porto Alegre, e foi transferido para cá. Quando a família não tem condições de arcar com os custos do tratamento, a prefeitura é acionada”, explica. Quem bancava a internação era a administração municipal da capital.
O homem tinha diagnóstico de esquizofrenia com surtos psicóticos severos capazes de levar à automutilação. A medicação prescrita tinha altas doses de risperidona, metoclopramida, ácido valpróico, carbonato de lítio, heparina sódica, entre outros, muitos deles injetáveis.
Dias de pânico no Hospital Municipal
Segundo o responsável pela clínica, foi necessário encaminhar o paciente ao Hospital Municipal no dia 9 de outubro. “Ele se mordeu e provocou corte profundo na língua. Sangrava muito. Nossa instituição é especializada em saúde mental. Tivemos que removê-lo para a emergência.” O pânico começou no hospital assim que a ambulância deixou o ex-presidiário.
Acompanhantes e familiares de pacientes reclamavam que o ambiente havia virado um “pesadelo”. Os doentes da unidade, entre idosos e acidentados, passaram a não conseguir repousar em razão dos gritos. No surto mais forte, na madrugada de 24 de outubro, a Guarda Municipal teve que intervir. “Ele conseguiu se soltar. A confusão foi das 3 às 5 horas. Imagina se atacasse os pacientes vizinhos, quase todos acamados, sem autonomia”, recorda uma testemunha.
Conforme ela, uma cena aterrorizante não sai da cabeça. “Ele já comeu os dedos dos pés e das mãos. Naquela madrugada, enquanto mastigava a própria carne, dava para ouvir os estalos dos ossos na boca, que ele lambia. Era como se estivesse apreciando uma comida, enquanto encarava a equipe de enfermagem com olhar ameaçador.”
Área foi isolada e sedação aumentada
Diante do medo das equipes de enfermagem e limpeza, o quarto foi lacrado e a fechadura retirada. A dose para sedação foi intensificada. Os relatos eram que o paciente não só gritava e tentava atacar, como xingava e cuspia no pessoal. Apesar da força física que demonstrava nos surtos, mesmo amarrado no leito, ele já estava em deterioração. Tinha perdido a maioria dos dentes e estava com vários hematomas por causa da insólita mastigação.
Um abaixo-assinado organizado por familiares de outros pacientes já pedia a transferência. Na primeira semana de novembro, foi levado de volta à clínica de saúde mental. “Mantínhamos ele contido”, diz o responsável. Ele acredita que a morte tenha sido causada por parada cardíaca. “Infelizmente já era previsível que ia acontecer”.
Familiares providenciaram enterro em São Leopoldo
Familiares fizeram o reconhecimento oficial do corpo na noite de sábado no Instituto-Médico Legal, em Porto Alegre, e providenciaram os atos fúnebres na terra natal. O ex-presidiário foi enterrado no domingo (1º) no Cemitério da Piedade, no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo. A certidão de óbito menciona que não tinha profissão, bens nem filhos.
Autolesões provocaram tumulto na cadeia
O leopoldense respondia por crimes como tentativa de homicídio, roubos e receptação. Já teve que ser contido por surtos no sistema prisional. O comportamento autodestrutivo mobilizou socorro em galeria da Penitenciária Estadual de Canoas na madrugada de 29 de junho de 2019. Carcereiros foram chamados por apenados, assustados com o um companheiro de cela que se lesionava com fortes socos no rosto. E não parou com as “autolesões” mesmo durante a intervenção dos agentes. Bateu tanto em si que precisou de socorro médico.
Na tarde de 21 de janeiro do mesmo ano, ele tinha esfaqueado um homem de 28 anos no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo. A vítima não soube informar o motivo das agressões. Nem o acusado. Em julho de 2016, ele foi indiciado na cidade natal por receptação no bairro Campina e roubo de veículo na Scharlau.
Transferência do sistema prisional
“Ele estava há seis meses conosco. Um caso raro”, declara o presidente do Instituto de Saúde Mental Liberdade, no bairro Rio Branco, Wagner Medeiros Pinto. Ele conta que o paciente chegou à clínica por meio de convênio público. “Estava em ala da Susepe [Superintendência dos Serviços Penitenciários] no Hospital Vila Nova, em Porto Alegre, e foi transferido para cá. Quando a família não tem condições de arcar com os custos do tratamento, a prefeitura é acionada”, explica. Quem bancava a internação era a administração municipal da capital.