RECONSTRUÇÃO

Moradores do Vale do Caí acumulam prejuízos nas áreas urbanas e no interior três meses depois da cheia histórica

Cidades como São Sebastião do Caí, Montenegro e Pareci Novo ainda enfrentam consequências da catástrofe

Publicado em: 02/08/2024 11:13
Última atualização: 02/08/2024 11:14

Assim como acontece no Vale do Sinos, no Vale do Caí moradores de diferentes cidades lutam para se reerguer três meses após a enchente histórica.


Juliana Elias não teve forças para retirar escombros Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Em São Sebastião do Caí, em que 36,3% da população foi atingida pela enchente, o cenário da catástrofe ainda segue presente para os moradores do bairro Navegantes. No local, há residências fora do lugar, muros destruídos, janelas quebradas pela força da água e a marca em imóveis. Na barranca do Rio Caí, as árvores caídas mudaram a aparência de quem costumava olhar o nível do rio.

Na residência da servente Juliana Elias, 34, antes mesmo de receber o Auxílio Reconstrução, do governo federal, ela conta que já tinha conseguido arrumar as portas, janelas e assoalho da residência. Apesar de ter feito a reposição de móveis e eletrodomésticos, ela afirma que vive apenas com o essencial.

“A vida não voltou ao normal. Estamos tentando. Trabalhamos e compramos as coisas, mas tudo com receio. Desta vez diminuí as coisas que eu tinha. Por exemplo, de um roupeiro de seis portas, agora tenho um de quatro”, comenta.

Mesmo que o visual da parte interna e da frente da casa já estejam melhores do que foi há três meses, ela ainda precisa conviver com o lixo e os restos da residência do ex-sogro nos fundos de casa. Conforme a moradora, ela ainda não encontrou ânimo para limpar e, às vezes, prefere nem olhar.

“Existia uma casa aqui. Não tenho nem vontade de mexer. A vontade que eu tenho era de ir embora, mas não dá”, reclama. Além do cenário destruído, Juliana precisa conviver com o medo também. “Quando chove a gente já entra em pânico”, confessa.


Três meses depois da enchente, ainda há cenários de destruição em São Sebastião do Caí Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Prefeito estima mais um mês para reconstrução

Além das famílias que ainda se organizam com a retomada de suas vidas, outros aspectos também seguem refletindo na vida de quem mora em São Sebastião do Caí.

Conforme o prefeito Júlio Campani, os resquícios da enchente seguem presentes na Estrada da Vigia e Estrada Várzea do Rio Branco, onde dois desmoronamentos afetaram as localidades e ainda não receberam consertos, pois estão aguardando retorno da Defesa Civil Nacional.

“Não temos problemas de pontes bloqueadas e nossas escolas conseguiram retomar suas atividades. A agricultura foi duramente atingida, mas estamos esperando a disponibilização de alguns recursos. A limpeza da cidade nós continuamos, mas já é incomparável o cenário com o que tínhamos há tempos atrás. Eu estimo que em mais um mês as coisas efetivamente estejam todas equalizadas”, projeta Campani.


Escola Adenillo Edgar Rubenich não vai retomar atividades Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Montenegro terá que construir escola para alunos afetados

Já na cidade vizinha, Montenegro, assim como outros municípios, tenta se reconstruir após a maior enchente da cidade. Três meses depois, a maioria dos serviços já estão em operação, exceto a Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Adenillo Edgar Rubenich que, conforme a Secretaria de Educação, terá o atendimento transferido para outro endereço.

Segundo a secretária de Educação, Ciglia da Silveira, afirma que desde a enchente, a administração tomou a decisão de não retomar as aulas no prédio, que sofre anualmente com as cheias. Com isso, 80 alunos estão tendo aula na Emei Áurea dos Santos Noval, e outros 150, através de um convênio com o Estado, na Escola Estadual de Ensino Médio Delfina Dias Ferraz.

Por isso, já está em processo de licitação pela prefeitura a construção de uma escola modular para abrigar os alunos em uma nova instituição. “Vamos começar o ano de 2025 em uma escola nova. Só dependemos agora dos trâmites burocráticos. Por conta da agilidade, em até 60 dias a escola pode ficar pronta”, comenta Cigilia. O endereço escolhido é de um terreno do município, no bairro São João, onde não é afetado pela enchente. “É triste, porque é uma escola tão bem cuidada e ter que deixar assim”, lamenta.


Setor primário foi muito afetado em Pareci Novo, no Vale Caí Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Em Pareci Novo, impacto foi na agricultura

Já em Pareci Novo, conhecida por ser a capital das flores, mudas e frutas, o impacto da enchente é relacionado às perdas nas propriedades rurais. No viveiro de Valdir da Silva, 55, é possível notar os estragos causados pela água. Além da produção perdida, ele segue no processo de reconstrução da estufa e do galpão onde armazena as mudas frutíferas.

“O que está impactando bastante são as vendas. Hoje, o pessoal passa aqui e vê tudo destruído e acha que não estamos trabalhando”, menciona, se referindo a falta de mudas para venda. “A estufa estava cheia, infelizmente perdi tudo. Em uma época normal, estaria tudo cheio de muda”, afirma. Segundo Silva, que cria as mudas e vende de forma direta, o prejuízo na propriedade foi de R$ 300 mil, sendo 10 mil mudas em somente um dos viveiros.

Para conseguir reformar a propriedade, Silva vai contar com financiamentos bancários, que ainda não foram aprovados. Em relação às vendas, ele afirma que houve uma baixa em 60% do que costuma vender em uma época normal.


Água chegou a 2,5 metros na propriedade de Alcione Foto: Laura Rolim/GES-Especial

Água chegou a 2,5 metros em propriedade

Um pouco adiante da propriedade de Silva, o viveiro de Alcione Colling, 48, também foi afetado pela água, que entrou acima dos 2,5 metros na propriedade. Três meses depois, ele e a família ainda encontram alternativas para se reerguer.

“Perdemos muitas mudas. O que estou fazendo é tentar tirar o que sobrou deste terreno e levar para outro que não pega enchente”, afirma o produtor. Além das plantas, a família também perdeu motores, estufa e parte da irrigação.

Antes da enchente, ele estava preparado para construir um açude no terreno ao lado, no entanto, agora, não pretende mais investir na localidade. “Enquanto não fizerem mudanças no rio, não temos como investir aqui”, reforça. Segundo Alcione, a enchente também impactou nas entregas das mudas, por conta das estradas. Além disso, ele e a família pretendem se mudar da residência em que moram em São Sebastião do Caí.

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