SOLIDARIEDADE
Morador de Sapiranga deixou emprego para transportar ilhados de barco
Usando embarcação da Defesa Civil, ele passa os dias transportando moradores de um lado para o outro sobre as águas do Rio dos Sinos
Última atualização: 20/11/2023 21:12
A enchente em Sapiranga impactou diretamente cerca de 70 famílias residentes no bairro Porto Palmeira. No intervalo entre sexta-feira (17) e sábado (18), o volume de chuvas atingiu expressivos 232mm, resultando no transbordamento do Rio dos Sinos e deixando toda a comunidade ilhada. A Estrada Presidente Kenedy, única via de acesso à localidade, encontra-se submersa e a única maneira de entrar e sair é de barco.
Neste cenário, um homem tem se destacado no trabalho voluntário à comunidade. Marcos Ferreira Braga, 39 anos, pegou para si a responsabilidade de auxiliar os moradores no transporte de barco. Até sexta-feira, dia em que a água começou a invadir pátios e casas, Marcos trabalhava em uma jazida de areia, mas deixou o trabalho para poder ajudar os demais. “Se não for eu, não tem ninguém que faça isso.”, afirma.Com um barco a motor cedido pela Defesa Civil, Marcos inicia os transportes às 5h30 para levar os moradores até a estrada, onde conseguem seguir a pé para seus compromissos. Durante todo o dia, são incontáveis viagens de um lado para o outro, levando não somente as pessoas, como também galões d’água, rações para animais e tudo o que for necessário.
Fazendo os transportes de pés descalços, Marcos ganhou um par de tênis do aposentado Jair Mariantti, 66 anos. O ex-industriário tinha em Porto Barrinha uma pequena chácara onde passava apenas os finais de semana, mas devido ao sossego e bom relacionamento com os moradores, passou a residir no local em definitivo. Desta vez, a água que corre sobre seu pátio ainda não entrou na sua casa, mas destruiu toda sua horta particular de onde tirava legumes e vegetais para ele e os vizinhos.
Trabalho reconhecido
Na tarde desta segunda-feira (20), quem precisou voltar para casa com as sacolas do supermercado foi Sônia Maria Ferreira Braga, 52, que é irmã de Marcos, e a sobrinha dos dois, Djeine Nayra Braga da Silva, 28. “Não é porque ele é meu irmão, mas ele é um anjo pra todo mundo. Passa o dia entrando e saindo da água para ajudar quem precisa”, comenta Sônia.
Abrigos disponíveis
O coordenador da Defesa Civil de Sapiranga, Sírio Baum, ressaltou a oscilação do nível do rio, indicando que, embora tenha temporariamente cessado a elevação, a situação na Serra sugere a possibilidade de novos aumentos nos níveis da água até esta terça-feira (21).
No momento, 37 pessoas encontram-se desabrigadas, buscando refúgio no Ginásio da Escola Dr. Décio e no pavilhão comunitário da igreja Porto Palmeira. Ainda, outras 245 pessoas estão desalojadas em decorrência dos impactos causados pela enchente. "O ginásio está à disposição daqueles que necessitam deixar suas residências, e a Defesa Civil, em colaboração com a Assistência Social, está fornecendo o apoio necessário durante esse período adverso", destacou Baum.
Já no pavilhão da igreja Porto Palmeira, famílias inteiras estão abrigadas, incluindo crianças e bebês. Loiva Hilária da Silva, 56, é uma das que teve a casa atingida e precisa do abrigo. Ela conta também que a filha ganhou seu neto há apenas oito dias, e que muita coisa foi perdida na invasão da água. “A gente perde tudo, tenta se recuperar, e depois perde tudo de novo. A água chega na altura das janelas e não tem o que fazer, temos que sair de casa com o que dá”, afirma.