AMÉRICA DO SUL

Desbravador da Patagônia: a história do morador da região que foi ao sul do continente usando apenas mapas de papel

Ex-motorista de uma empresa de turismo, Pedro Valdir gosta de viajar "à moda antiga"; ele chegou na região argentina em quatro dias

Publicado em: 22/04/2024 14:28
Última atualização: 22/04/2024 20:46

Pedro Valdir Borniger, de 64 anos, saiu de Dois Irmãos às 14 horas do dia 13 de abril. Sozinho no carro, o morador do Vale do Sinos percorreu mais de quatro mil quilômetros até El Calafate, na Patagônia Argentina, onde chegou às 13 horas da última quarta-feira (17).


Viagem à Patagônia contou apenas com uso de mapas Foto: Arquivo Pessoal

A viagem pela América do Sul, que para muitos é até bem comum, para ele teve um diferencial: GPSs e outros aparelhos eletrônicos não foram utilizados. Toda a orientação e os caminhos a serem percorridos vieram por meio de mapas tradicionais, feitos de papel.

Conforme Borniger, a aventura não tem o intuito de ser disruptiva ou romper qualquer barreira criada pela tecnologia. A escolha pelo uso das cartas geográficas é bem mais simples do que se pode imaginar: “O celular eu só uso para fazer e receber ligações”, explica.

Por 32 anos, Borniger foi motorista de ônibus de uma empresa de turismo de Ivoti. Com ela, viajou diversas vezes pelo Brasil e pelo continente, sempre se orientando pelos mapas físicos. Afinal, quando iniciou na profissão, eram só esses que existiam.

Quando deixou a empresa durante a pandemia, em 2021, o morador de Dois Irmãos resolveu continuar suas viagens, mas desta vez sem as dezenas de passageiros e traçando seu próprio caminho. O que não mudou, foi a forma de se orientar. 


Viagem rumo à Patagônia Foto: Arquivo Pessoal

“Todos os anos, minha filha, meu genro e eu fazemos uma viagem. Ano passado, nós fomos até o Peru, conhecemos Machu Picchu. Eu também já cruzei o Deserto do Atacama sozinho, o que eu gosto é de aproveitar a viagem, curtir o caminho”, conta.

Desta vez, a filha Camila Borninger, 33, e o genro Martini Turcatto, 32, sugeriram que eles fossem conhecer a Patagônia. Entre os locais a serem visitados está o Parque Nacional Los Glaciares, uma das maiores geleiras do mundo.

“Eu falei para ela: 'filha, se tu não te importas, vocês vão de avião e eu vou de carro e a gente se encontra lá'”. A ideia foi aceita e a própria filha comprou um mapa novo para que o pai pudesse se guiar. “O antigo estava vergonhoso”, disse ela. O reencontro da família ocorreu na sexta-feira (19), no aeroporto de El Calafate.

Antes disso, porém, outro reencontro ocorreu. Em Rivera, o viajante parou em um hotel que ele costumava ficar com a agência de turismo. Ao pedir um quarto, foi reconhecido pelo dono do local, que decidiu lhe hospedar sem cobrar pela estadia. Também no Uruguai, passou por um pequeno perrengue ao enfrentar mudanças nos pedágios locais. Não muito adepto às tecnologias, ele se obrigou a contatar a filha no Brasil para que o ajudasse a pagar uma “tag” e poder prosseguir. Na Argentina, porém, o pagamento continuou sendo tradicionalmente no dinheiro.


Viagem à Patagônia contou apenas com uso de mapas Foto: Arquivo Pessoal

Após cerca de 1.000 quilômetros rodados por dia e muita chuva no caminho, o morador de Dois Irmãos, agora com a filha e o genro, deve aproveitar cerca de três semanas pelo sul da América do Sul, antes de retornar para casa. “E eu ‘jogo’ com qualquer um. Quem vier para cá usando o GPS do celular, pode sair junto comigo, mas vai chegar depois de mim”, finaliza aos risos.

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