Filosofia de vida
Montenegrino Guto Petry viaja o País domando cavalos
Na Argentina, Petry se especializou na técnica da doma índia. Desde que voltou ao Brasil, ele tem chamado atenção pelo modo como amansa os animais
Última atualização: 22/02/2024 13:44
A relação do homem com o cavalo faz parte da cultura do gaúcho desde sempre, seja por lazer, esporte ou trabalho. Apesar dessa familiaridade, algumas situações de amizade chamam atenção. É o caso de Guto Petry, de 23 anos, um apaixonado por cavalos cujo entrosamento e cumplicidade com os animais têm conquistado o Brasil. O montenegrino se especializou na doma índia, uma técnica de doma que é encarada como filosofia de vida, com origens no povo andino.
O diferencial nesse processo é o tempo para amansar o animal: um dia. Dependendo da relação de confiança que o potro cria com o domador, meia hora pode ser suficiente. Petry aprendeu a doma índia com o argentino Cristobal Scarpati, que, ao lado do filho Oscar Scarpati, são considerados autoridades no assunto, principalmente pelo resgate histórico da técnica. Cristobal aprendeu o domínio do cavalo com um índio da tribo ranquelina.
Desde que voltou ao Vale do Caí, em março do ano passado, Petry já domou cerca de 200 cavalos e tem viajado pelo País dando cursos sobre a técnica. "A agenda está cheia. Tem sido uma loucura", comenta.
'Relação de ser vivo para ser vivo'
Os índios domavam os cavalos selvagens, antes mesmo da chegada dos colonizadores europeus, sem o uso de ferramentas . "É uma relação de ser vivo para ser vivo, como se fosse de bicho para bicho", explica Petry.
O que os Scarpati ensinaram a Petry foi o resgate deste modo de agir dos índios, que era comum a outras tribos além da ranquelina, com os charruas, oriundos dos pampas. "Cada um tinha seu jeito de amansar, mas com base no respeito ao animal", salienta. A doma índia é baseada em quatro pilares conhecidos pela sigla "Pare": presença, atitude, respeito e entrega.
Para chegar a essa relação de confiança com o cavalo, o domador não usa nenhum equipamento e deve ficar com os pés no chão e estar sem camisa, para garantir o contato corpo a corpo. "O objetivo é que o animal perca o medo do cavaleiro e que passe a enxergar o ser humano não como alguém que o ameaça, mas alguém que está aí para ensinar", destaca.
É assim, em uma relação de cumplicidade, que Petry faz os cavalos deitarem ao seu lado e ficarem com a barriga para cima, mais lembrando um pet do que um animal com cerca de 400 quilos.
De moto pela América Latina
Como Petry conta, ele sempre foi um guri da cidade, criado na área urbana de Montenegro. Apesar disso, tinha o cavalo presente em seu imaginário, manifestado em desenhos e poesias. O único contato real que tinha com o pingo era quando passava as férias na casa de um tio que mora em Ivoti. "Lá, eu passava o dia em cima do lombo do cavalo", relembra.
Aos 13 anos, ele ganhou de presente da família o seu primeiro cavalo, um caso de amor à primeira vista. Paralelo, Petry participava do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Estância do Montenegro, onde conquistou troféus em diversas competições.