SÃO LEOPOLDO
"É incrível o poder que as crianças têm": Monitora escolar que perdeu tudo na enchente celebra volta às aulas
Na Emei Amor Perfeito, no bairro Rio Branco, seis servidores da instituição foram diretamente afetados pelas enchentes
Última atualização: 03/06/2024 11:13
A segunda-feira (3) chuvosa é de volta às aulas em 19, das 50 escolas da rede municipal de ensino de São Leopoldo.
E nas salas, a chuva, sobretudo os estragos causados por ela na cidade, foi o tema abordado entre professores e estudantes no reencontro após um mês de suspensão das atividades por conta das enchentes nesta manhã.
Na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Amor Perfeito, no bairro Rio Branco, os pequenos, de 5 anos, tiveram uma lição de resiliência, com o relato emocionado da monitora Marília Ferreira de Oliveira, 59 anos.
Moradora do bairro Rio dos Sinos, Marília teve a casa inteira submersa. Nesta terça-feira (4), completa um mês morando de forma improvisada com o marido, o filho, a nora e três netos em barracas montadas na Igreja Vida no Calvário, no bairro Jardim América.
A volta ao trabalho foi uma das poucas vezes que Marília saiu do abrigo. À casa que deixou para trás, alagada no começo de maio, ainda não teve coragem de voltar. “Meu marido foi até lá. Disse que está tudo revirado, perdemos tudo”, lamenta.
Segundo ela, esta é a primeira vez que a família passa por este tipo de situação. “É um estresse emocional muito grande, mas para nós foi um alento podermos ficar em família na igreja”, diz. Mesmo não se sentindo preparada psicologicamente para voltar ao trabalho, Marília conta que teve uma grata surpresa no reencontro com a turminha. “É incrível o poder que as crianças têm. O acolhimento que eles fizeram para nós. Me fez muito bem”, revela em lágrimas.
De acordo com a diretora da escola, Fernanda Oliveira, seis servidores da instituição foram diretamente afetados pelas enchentes. Destes, quatro perderam tudo. Além disso, 10 famílias de alunos também tiveram perdas.
“Dos 53 funcionários da escola, 51 voltaram hoje. Também 90% das crianças já retornaram”, comenta Fernanda, destacando que o educandário conta com 130 crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, matriculadas.
“Estamos muito tristes com toda esta situação, mas felizes em poder retornarmos, fazer esta acolhida às crianças, que é algo que as famílias precisam, deste carinho, desta atenção, de um local seguro para deixar os seus filhos para que os pais possam trabalhar”, frisa.
Segundo Fernanda, a volta será de readaptação. “É o momento de ouvirmos as famílias e os alunos. De acolhermos. Não vamos ignorar o assunto das enchentes, mas também não vamos potencializá-los. É um trauma que temos que cuidar, mesmo as crianças vendo este assunto com outros olhos, com leveza”, comenta.
Retorno gradual
Em São Leopoldo, 13 escolas municipais serviram de abrigos para famílias e não retornaram nesta segunda-feira. De acordo com a secretária de Educação Renata de Matos, nas demais escolas afetadas pela cheia, o retorno será gradual.
“Assim que elas tiverem condições de receber os alunos, após a remoção dos entulhos, limpeza e desinfecção”, explica a secretária. Conforme ela, ao todo 18 educandários sofreram danos com a enchente. Nestes locais, a volta às aulas deverá ocorrer no mesmo momento das obras.
“Vamos priorizar a reforma de banheiros e refeitórios e utilizarmos os demais espaços das escolas, como salas em andares superiores, para realocarmos os estudantes”, explica.
Segundo a secretária, os alunos não terão prejuízos na carga horária das aulas devido aos dias parados. “A carga horária será mantida com a recuperação através de atividades domiciliares, remotas, híbridas”, conta. Na cidade, ainda não há uma estimativa do prejuízo total causado à educação pela enchente.