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DEVOÇÃO

Milhares de fiéis participam de mais de três horas de caminhada em Romaria a Nossa Senhora de Caravaggio em Canela

Cruzes nas costas, pessoas de pés descalços e orações recitadas em voz alta por mais de 7,5 quilômetros marcaram manhã deste domingo (26); veja fotos

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 26/05/2024 às 14h:16 Última atualização: 26/05/2024 às 14h:56
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Com cruzes fabricadas de maneira artesanal nas costas, pessoas de pés descalços, orações recitadas em voz alta por mais de 7,5 quilômetros.

Este domingo (26) é o Dia de Nossa Senhora de Caravaggio. Em Canela, a data é marcada pelo frio, chuva fraca e neblina que ia e vinha. Mas o clima não importava para os milhares de fiéis que buscavam pagar promessas, fazer pedidos, suplicar por milagres e para os inúmeros devotos que anualmente acompanham a Romaria.



Era por volta de 8 horas quando os moradores canelenses e da região se concentraram na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Catedral de Pedra, no Centro de Canela. A temperatura batia na casa dos 5°C, com sensação térmica próxima dos 0°C. Guarda-chuva e capas faziam parte das vestimentas escolhidas junto dos casacos mais grossos.

Um caminhão abriu os caminhos com o padre, coral católico e a banda marcial da Escola Neusa Mari Pacheco do bairro Canelinha. A imagem da santa percorreu por mais de três horas diferentes ruas e avenidas da cidade até a chegada no Santuário, que ocorreu por volta das 11h10.

A recepção ocorreu com momento de bênçãos e a queda de balões azuis, rosas e brancos do pórtico do Santuário. Aplausos e gritos de “Viva Nossa Senhora” eram entoados pelos presentes.

A cerimônia especial seguiu com a formação do terço do rosário, que circulou a imagem da Santa. Após, ainda teve uma apresentação especial de dança com os alunos da Escola Especial Rodolfo Schlieper.



Ao final, além da chuva de pétalas de rosa de cores branca e vermelha, houve uma homenagem ao Rio Grande do Sul, que passa por um momento de reconstrução após a tragédia climática que atingiu o Estado. Objetos da cultura do Estado foram apresentados pelos usuários da Apae Canela, que estavam pilchados, como a cuia do chimarrão, uma bandeira, o laço, entre outros.

“Maria não abandona o povo gaúcho. Viva Maria, viva Nossa Senhora de Caravaggio, viva a Mãe de Deus”, entoou o padre Eric Pozzobon, que completou “O povo gaúcho precisa ser reconstruído. É a terra da reconstrução. Nesse momento, rezo pelo povo. Muitos gostariam de estar aqui e não puderam. Você está aqui por aqueles que necessitam.”

Quem presidiu a missa foi o bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom João Francisco Salm. O momento, que teve início com músicas em homenagem a Nossa Senhora, também teve palavras do representante católico sobre o momento vivido.

Dom João Francisco Salm presidiu missa em homenagem a Nossa Senhora de Caravaggio, em Canela



Dom João Francisco Salm presidiu missa em homenagem a Nossa Senhora de Caravaggio, em Canela

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

“Eu quero acolher com muita alegria aqueles que vieram, os devotos de Nossa Senhora, uma acolhida muito especial a quem veio a pé de longe e aos que ainda sofrem com essas enchentes, essa destruição. Queremos dar as boas-vidas também a todos que prestaram seus serviços, que deram sua contribuição com material ou oração, amizade, apoio, que socorreram tantos em necessidade. Esse dia é um dia de gratidão a Deus, pelo amor que Ele tem para conosco e um dia de oração por todos aqueles que sofrem e que tem dificuldades de enfrentar a situação, para que tenham força e coragem”, comenta.

Centenas de pessoas ao longo do dia

Apesar do início oficial seguido de missa na metade da manhã, desde o início do domingo centenas de fiéis passavam pelo espaço religioso. Rosários eram abençoados junto da imagem de Nossa Senhora, na cripta do Santuário. Tudo era preparado para o momento especial, com a finalização dos últimos detalhes.

Ana Lopes, de 51 anos, e Claudete Perotto, de 74, são amigos e há muitos anos frequentam não apenas no dia 26 de maio o local. “Viemos até fora do dia da festa, somos muito devotas de Nossa Senhora de Caravaggio”, afirma Ana. “Eu venho desde a realização da segunda festa, são mais de 60 anos vindo. Viemos agora de manhã e assistiremos a missa”, comenta Claudete. Atualmente, as homenagens em festa completam 64 edições.

Amigas vão todos os anos até o Santuário de Caravaggio



Amigas vão todos os anos até o Santuário de Caravaggio

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Outros devotos chegavam também de caminhadas, mas de diferentes bairros. Foi o caso da Fabi Freitas, de 41 anos, que veio acompanhada do sobrinho, Pedro Henrique Santana, de 12 anos. De pés descalços, durante mais de três horas percorreu o percurso entre o bairro Sesi, onde mora, até o Saiqui, onde fica o templo de Caravaggio.

O filho de Fabi tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e se apresentou pela Escola Especial Rodolfo Schlieper. “Vim para apoiar ele e para cumprir uma promessa, sobre uma cirurgia que meu gurizinho fez e foi bem-sucedida”, revela.

Fiéis caminham de pés descalços até o Santuário de Caravaggio



Fiéis caminham de pés descalços até o Santuário de Caravaggio

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

“Sou devota de Nossa Senhora do Caravaggio desde que me conheço, graças a Deus. Tenho muita fé, peço tudo a ela. E fiz outra promessa, pois estou fazendo minha autoescola. Mesmo em chuva não importa, vale qualquer desafio”, frisa. 

Quem também veio cedo e ia acompanhar a missa foi o prefeito de Canela, Constantino Orsolin. “Fiz minha caminhada. Fico impressionado com a fé e determinação desse povo, o que vi de gente caminhando nesse frio, nessa chuva, de pé descalço, pagando suas promessas. Isso é muito bonito”, coloca.

O recado do chefe do Executivo municipal sobre a situação atual é enfático. “Ninguém passou por tanta dificuldade quanto Nossa Senhora, principalmente na hora que crucificaram seu filho. Mas ela tinha certeza que o Deus criador de todas as coisas estava junto com ela. Assim, que o povo de Canela não perca seus sonhos, o amanhã será melhor que hoje. Nós podemos reconstruir aquilo que perdeu. Infelizmente perdemos um casal, a família Moraes. Mas temos água funcionando, luz, internet, hospital, postos de saúde, escolas funcionando. Temos muitas coisas em pé e somos já abençoados por isso. E que a gente trabalhe junto, com as mãos dadas, pois é mais fácil de carregar esse peso”, pontua.

Prefeito de Canela Constantino Orsolin na Romaria de Caravaggio



Prefeito de Canela Constantino Orsolin na Romaria de Caravaggio

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Desde às 4 horas em caminhada

Marcos José Marcon, de 20 anos, veio de Nova Petrópolis com a mãe, em mais de 6 horas de caminhada. “Saímos às 4 horas de lá, foi a primeira vez. Não consigo explicar, foi uma graça de Deus. Minha mãe deu a ideia e disse ‘então vamos”, conta.



“Aproveitamos pois queremos alcançar uma graça. Foi uma experiência muito boa, viemos rezando o rosário por todo o caminho”, diz.

Gastronomia típica

Após a missa, toda a comunidade é convidada a prestigiar a alimentação tradicional que é oferecida no local. Churrasco, galeto, quentão, pastéis, bolos. A diversidade é garantida pelos voluntários.

Uma das banquinhas mais procuradas era a dos pastéis. A expectativa conforme Valmor Hanel, de 65 anos, era comercializar mais de 1,4 mil unidades. “São 12 anos participando das vendas e de todas as romarias. A movimentação está bem boa, mas a expectativa fizemos menor neste ano, devido aos últimos acontecimentos”, explica.

Pastéis são vendidos na gastronomia do Santuário de Caravaggio



Pastéis são vendidos na gastronomia do Santuário de Caravaggio

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

“Às vezes nos outros anos dava os picos, 200 pessoas na fila, mas este ano está dando para rodar bem”, justifica.

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