PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL
Antigo Salão Holler revive momentos de glória durante gravação de documentário
Imóvel localizado na avenida principal de Ivoti e que passa por etapas de restauração sedia gravação
Última atualização: 23/04/2024 17:37
Um dos mais imponentes e históricos casarões em estilo enxaimel na região reviveu momentos de glamour – um fragmento de memória audiovisual, mesmo que representativa, à sua fase áurea. Em Ivoti, o prédio que abrigou antigamente o Salão Holler sediou gravações de um documentário no último sábado (20).
O projeto "Um olhar afetivo sobre o enxaimel de Ivoti" foi contemplado com uma verba de R$ 45.085,00 via edital da Lei Paulo Gustavo para a realização do documentário sobre casas enxaimel, bem como ações complementares sobre casas ecléticas centenárias e paisagens, com intervenções de 30 artistas com fototelas sobre fotos antigas que posteriormente serão expostas.
Ao todo, dez imóveis históricos foram retratados no documentário, além de depoimentos de pessoas da comunidade. O Salão Holler fechou a série de captações de imagens e sons.
"A ideia de hoje (sábado) é finalizarmos as gravações com a casa que consideramos a mais significativa, inclusive é a maior em estilo enxaimel ainda de pé no Rio Grande do Sul, com uma estrutura gigante em termos de madeira. Isso é uma fala do professor Günter Weimer, que é um especialista na área da arquitetura. Ivoti tem esse potencial e nós optamos em trazer um olhar para o enxaimel, despertando afetos e emoções", destaca a artista plástica Andréa Cristina Baum Schneck, que coordena o projeto "Um olhar afetivo sobre o enxaimel de Ivoti" desenvolvido pela Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos (Siehu), com apoio técnico de Jaqueline Brenner, historiadores, pesquisadores e voluntários.
A gravação realizada sábado contou com a participação da Orquestra Caxias Ensemble. Adair Mahle e Eduarda Luiza Griebeler participaram como ator e atriz, representando um casal e realizando uma dança no interior das dependências.
"A casa reverbera a sonoridade. É esse lugar que precisamos resgatar, de música, de sarau, de teatro, de arte, de projeção de cinema, de rodas de memórias e de conversas. Que essa casa possa ter o merecido valor e o merecido uso na comunidade", enfatiza Andréa.
"No Salão Holler, a ideia central foi trazer um olhar interessante e despertar a comunidade para esse espaço social que a casa era", conta Andréa. "A memória do salão como um espaço de dança, de convívio, de encontro de pessoas, de lazer, de alegria. Que ela seja para sempre uma boa lembrança, que impactou a comunidade por tantas outras coisas que aconteceram nela, tanto da família Holler quanto da família Exner. Durante 66 anos, praticamente, a casa foi ocupada pela família Exner", detalha Andréa, chamando a atenção ainda para a importância de preservar também todas as outras casas históricas, desde as bem pequenas, sejam em estilo enxaimel ou ecléticas.
Andréa ressalta ainda que o objetivo final também é criar um sentimento de pertencimento a partir de narrativas de vida das famílias.
"A Siehu não está investindo no restauro, a gente não pode fazer isso. Essa é uma responsabilidade do município. Mas apoiamos que o imóvel seja um espaço de múltiplo uso", destaca Andréa.
Características arquitetônicas
Para a arquiteta Jaqueline Brenner, o casarão possui características que merecem destaque. O porão, que era usado inicialmente como estábulo, é todo ele construído com paredes e pilares erguidos com grandes blocos de pedras grês, abundantes na região na época.
"Além de toda o madeiramento utilizado na estrutura das fachadas, a edificação possui ainda vigas de madeira que sustentam o piso do térreo e do sótão, cujas dimensões robustas possibilitam que se tenham espaços internos amplos, tanto no porão quanto no pavimento térreo. A estrutura da cobertura, executada de modo a permitir o uso do espaço abaixo dela como sótão, é toda ela em madeira aparente, deixando à mostra a forma de construir em madeira na época, com todos seus encaixes e também com a numeração das peças. É realmente um exemplar muito especial de construção dessa técnica tão usada pela imigração alemã, motivo pelo qual foi tombado a nível estadual pelo Iphae", detalha.
Em função do rebaixamento da Avenida Presidente Lucena, a casa sofreu alteração em sua fachada. As duas portas de acesso principal à edificação, que existiam na fachada frontal , foram transformadas em janelas e as escadarias que davam acesso a elas foram removidas.
"Essas características marcantes desta edificação, tão destacada e importante, localizada no coração de Ivoti, poderiam ser resgatadas de modo a retomar sua imagem original, com suas portas voltadas para a Presidente Lucena convidando a comunidade de Ivoti e visitantes a fazerem deste um espaço de convívio comum", avalia Jaqueline.
Patrimônio histórico
O antigo casarão do Salão Holler, que foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), fica na Avenida Presidente Lucena, no Centro de Ivoti.
A construção foi erguida no século 19, mas estava fechada desde 2010, com problemas estruturais.
Em julho de 2014, o imóvel foi doado à prefeitura.
Existe uma mobilização para o seu restauro, que está sob a responsabilidade da prefeitura.