BELEZA
Maquiadora da corte do carnaval de São Leopoldo é especialista em pele negra
Marília dos Santos Gonçalves Pereira, 34 anos, tem o seu espaço no Município e conta as mudanças que percebeu ao longo dos seus sete anos trabalhando na área
Última atualização: 24/01/2024 14:50
As grandes mudanças sociais, muitas vezes estão ocultas em pequenos detalhes do cotidiano - como a simples disponibilidade da cor de uma base. A maquiadora e empreendedora Marília dos Santos Gonçalves Pereira, de 34 anos, tem o seu espaço em São Leopoldo e se especializou em maquiagem para pele negra. Ela foi convidada este ano para ser a responsável pela maquiagem da corte do carnaval de São Leopoldo, e conta as mudanças que percebeu ao longo dos seus sete anos trabalhando na área.
Marília trabalhava como jornalista, na área de política, quando decidiu começar a vender cosméticos. Para isso, buscou fazer um curso de maquiagem no Senac em Porto Alegre. Ela percebeu que havia algo errado quando, na própria marca de cosméticos que vendia, não encontrava seu tom de pele. Além disso, a professora do curso de maquiagem também não conseguia acertar a cor da pele dela, a deixando muito clara, muito escura ou acinzentada.
"Aquilo me deixou muito intrigada. Todas as mulheres negras raramente se maquiavam, porque não tinha produto adequado e não existiam maquiadoras que sabiam maquiar a pele negra naquela época. Então decidi que eu ia fazer isso, afinal, todas têm o direito de ter acesso a maquiagem e se sentirem bonitas", disse ela.
Depois, começou a atuar como maquiadora em salões afro e foi adquirindo experiência. "Essa especialização em pele negra foi autodidata, uma necessidade. Fui procurando, estudando colorimetria. Eu me identifiquei como uma mulher negra dentro da maquiagem. Continuei procurando, assistindo vídeos, participei de workshops, sempre tinha uma maquiadora que falava sobre pele negra, fui testando nas minhas amigas, família até chegar no método que tenho hoje."
Espaço para todos
Mostrando sua técnica na Kemilly Tauane Carvalho Peres, a maquiadora explica que, apesar de ter se especializado em pele negra, atende mulheres e homens de todas as etnias e tem habilidade tanto para maquiagem social, usada em eventos como formaturas e casamentos, quanto para maquiagem artística, como a dos desfiles de carnaval.
“Eu já trabalhei em espaços afro, não acho muito interessante ter essa separação. Por isso, procurei montar o meu espaço pensando em todos, quero que todos estejam no mesmo espaço. Eu não específico se é um local para brancas ou negras, eu maquio qualquer mulher e homem, mas acho importante dizer que sou especialista em pele negra”, disse ela.
A chegada das paletas de cores para pele negra
Uma das primeiras marcas com foco em pele negra, que Marília teve acesso, foi a Divas Bllack, criada por uma mulher negra gaúcha, Rosane Terrago. “Demorou para as marcas terem produtos pensando na nossa beleza. Agora temos marcas brasileiras como a Bruna Tavares, com uma cartela de cores que vai desde a negra mais clara até a negra retinta. Temos também uma diversidade de produtos nas marcas Boca Rosa, Mary Key e no cenário internacional a marca Fenty Beauty, da Rihanna, também foi muito importante”, ressalta.
A maquiadora também explica que além da base, agora as mulheres tem o acesso aos contornos mais escuros, pós e outros itens de maquiagem pensados para ressaltar a beleza da pele negra, com diversos preços. Uma verdadeira revolução no mercado de maquiagens, que reflete a luta das mulheres negras por inclusão e a necessidade de ter os seus tons refletidos nos produtos das prateleiras.
“Todas as marcas hoje tem pelo menos um tom mais escuro, porque é feio comercialmente uma marca conhecida não ter uma cartela de cores para pele negra. Antes, mal se falava nisso.
O poder da maquiagem e os seus efeitos
Marília sabe que uma boa maquiagem tem o poder de tornar uma data memorável e aumentar a confiança, mas que também pode ter o efeito contrário. “É lindo quando elas se olham e se acham bonitas. Atendi uma mulher negra que a irmã dela é branca e maquiadora, e não conseguia fazer a pele dela. Como muitas vezes na maquiagem ficamos acinzentadas, mais claras, começamos a nos achar feias de maquiagem.” Ela acrescenta que ouviu relatos de mulheres negras que vão fazer a maquiagem, chegam em casa e tiram.
“Tenho uma amiga que casou há dez anos e nunca mostrou as fotos, porque ela está cinza. É um trauma em um momento que deveria ser especial. Maquiei uma menina para uma formatura e ela disse, a minha formatura foi especial, porque tu me deixou da cor que eu sou. Fico emocionada, é uma realização muito boa.”
As grandes mudanças sociais, muitas vezes estão ocultas em pequenos detalhes do cotidiano - como a simples disponibilidade da cor de uma base. A maquiadora e empreendedora Marília dos Santos Gonçalves Pereira, de 34 anos, tem o seu espaço em São Leopoldo e se especializou em maquiagem para pele negra. Ela foi convidada este ano para ser a responsável pela maquiagem da corte do carnaval de São Leopoldo, e conta as mudanças que percebeu ao longo dos seus sete anos trabalhando na área.
Marília trabalhava como jornalista, na área de política, quando decidiu começar a vender cosméticos. Para isso, buscou fazer um curso de maquiagem no Senac em Porto Alegre. Ela percebeu que havia algo errado quando, na própria marca de cosméticos que vendia, não encontrava seu tom de pele. Além disso, a professora do curso de maquiagem também não conseguia acertar a cor da pele dela, a deixando muito clara, muito escura ou acinzentada.
"Aquilo me deixou muito intrigada. Todas as mulheres negras raramente se maquiavam, porque não tinha produto adequado e não existiam maquiadoras que sabiam maquiar a pele negra naquela época. Então decidi que eu ia fazer isso, afinal, todas têm o direito de ter acesso a maquiagem e se sentirem bonitas", disse ela.
Depois, começou a atuar como maquiadora em salões afro e foi adquirindo experiência. "Essa especialização em pele negra foi autodidata, uma necessidade. Fui procurando, estudando colorimetria. Eu me identifiquei como uma mulher negra dentro da maquiagem. Continuei procurando, assistindo vídeos, participei de workshops, sempre tinha uma maquiadora que falava sobre pele negra, fui testando nas minhas amigas, família até chegar no método que tenho hoje."
Espaço para todos
Mostrando sua técnica na Kemilly Tauane Carvalho Peres, a maquiadora explica que, apesar de ter se especializado em pele negra, atende mulheres e homens de todas as etnias e tem habilidade tanto para maquiagem social, usada em eventos como formaturas e casamentos, quanto para maquiagem artística, como a dos desfiles de carnaval.
“Eu já trabalhei em espaços afro, não acho muito interessante ter essa separação. Por isso, procurei montar o meu espaço pensando em todos, quero que todos estejam no mesmo espaço. Eu não específico se é um local para brancas ou negras, eu maquio qualquer mulher e homem, mas acho importante dizer que sou especialista em pele negra”, disse ela.
A chegada das paletas de cores para pele negra
Uma das primeiras marcas com foco em pele negra, que Marília teve acesso, foi a Divas Bllack, criada por uma mulher negra gaúcha, Rosane Terrago. “Demorou para as marcas terem produtos pensando na nossa beleza. Agora temos marcas brasileiras como a Bruna Tavares, com uma cartela de cores que vai desde a negra mais clara até a negra retinta. Temos também uma diversidade de produtos nas marcas Boca Rosa, Mary Key e no cenário internacional a marca Fenty Beauty, da Rihanna, também foi muito importante”, ressalta.
A maquiadora também explica que além da base, agora as mulheres tem o acesso aos contornos mais escuros, pós e outros itens de maquiagem pensados para ressaltar a beleza da pele negra, com diversos preços. Uma verdadeira revolução no mercado de maquiagens, que reflete a luta das mulheres negras por inclusão e a necessidade de ter os seus tons refletidos nos produtos das prateleiras.
“Todas as marcas hoje tem pelo menos um tom mais escuro, porque é feio comercialmente uma marca conhecida não ter uma cartela de cores para pele negra. Antes, mal se falava nisso.
O poder da maquiagem e os seus efeitos
Marília sabe que uma boa maquiagem tem o poder de tornar uma data memorável e aumentar a confiança, mas que também pode ter o efeito contrário. “É lindo quando elas se olham e se acham bonitas. Atendi uma mulher negra que a irmã dela é branca e maquiadora, e não conseguia fazer a pele dela. Como muitas vezes na maquiagem ficamos acinzentadas, mais claras, começamos a nos achar feias de maquiagem.” Ela acrescenta que ouviu relatos de mulheres negras que vão fazer a maquiagem, chegam em casa e tiram.
“Tenho uma amiga que casou há dez anos e nunca mostrou as fotos, porque ela está cinza. É um trauma em um momento que deveria ser especial. Maquiei uma menina para uma formatura e ela disse, a minha formatura foi especial, porque tu me deixou da cor que eu sou. Fico emocionada, é uma realização muito boa.”