A família de João Alexandre Gonçalves de Moraes, de 29 anos, viveu dias de angústia desde seu desaparecimento, no dia 2 de maio, até seu corpo ser encontrado pelo Corpo de Bombeiros no final da semana passada.
O designer gráfico havia ficado ilhado com o companheiro e um cachorro, no telhado casa que moravam, no bairro Passo da Estrela, em Cruzeiro do Sul.
João teria pedido aos socorristas para que resgatassem o namorado primeiro, pois caso algo acontecesse, ele sabia nadar. Após o primeiro resgate, o policial retornou içado em helicóptero da Brigada Militar, no entanto, antes de conseguir prender João, o imóvel em que ele estava foi arrastado pela enxurrada e o designer e o cão foram levados pela correnteza.
“Foi bem difícil o começo e aí depois tinha o vídeo, se tornou mais difícil ainda. Se tornava uma angústia diária, pois não tinha notícia. Não sabia se estava morto, se estava vivo ou onde e como estava. Então era uma angústia muito grande para nós”, afirma Robson Luis da Silveira, cunhado de João, casado com a irmã mais velha dele.
“Na última semana a mãe dele veio de Sapucaia. Ficou a semana toda caminhando na beira do rio no bairro onde ele morava. Mãe, né?”. “Ela [mãe do João] falou para nós que iria levar o filho dela de volta [para Sapucaia do Sul] de um jeito ou de outro”, completa.
A viagem de Marilene Prestes de Moraes, 58, parecia ser algo premeditado pelo instinto maternal. “Ela queria muito ir para o outro lado do rio, que era Estrela. Só que no final de semana anterior começou a chover e no sábado fui buscar ela em Lajeado. Trouxe para minha casa em Venâncio Aires e ela ficou aqui até a gente ficar sabendo do acontecido”, conta o familiar.
Por coincidência ou não, o corpo de João foi encontrado na quinta-feira (30) “do outro lado do rio”, às margens do Taquari, em Estrela, a cerca de 11 quilômetros do local onde ele desapareceu com a enxurrada. Os parentes foram informados pelos órgãos de segurança na sexta-feira (31).
Amigos e familiares se despediram de João em Sapucaia do Sul. O corpo dele foi sepultado na manhã do último domingo (2) no Cemitério Pio XII, no mesmo local da avó que cuidou do jovem em seus primeiros anos de vida.
Sonhava em ajudar a mãe
Para Robson o cunhado será lembrado como uma pessoa alegre, sonhadora e que sempre se esforçava para deixar bem as pessoas em seu redor. O jovem havia se mudado para o município do Vale do Taquari há cerca de um ano. Morava em uma casa de dois pisos com o companheiro e uma tia dele.
“Era um cara novo, com 29 anos. Ele tinha bastante sonhos”, relata o cunhado. Robson ainda conta que João pertencia a uma família de origem humilde e que sempre se dedicava a melhorar a vida da mãe e dos irmãos. “Queria construir um trailer de lanche para a mãe dele, que é um sonho dela. Um dos maiores sonhos dele era isso”, recorda.
De acordo com Robson, constantemente o cunhado falava sobre o trailer para a mãe e o desejo de arrumar o imóvel dela. “A casa não tem nem forro”, detalha. “O maior sonho dele era dar uma vida melhor para a mãe dele.”
O último contato
O amor pela família era uma marca presente na vida de João. Robson conta que falou com o cunhado pela última vez na madrugada do dia em que ele desapareceu. “Conversamos por volta das 2h40 da manhã”, recorda.
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“Ele já demonstrava preocupação, porque a água já passava a enchente de setembro. Eles moravam em uma casa de dois pisos e quando falei com ele a água já estava entrando no segundo piso. Então já estavam vendo para subir para o forro e ir para o telhado”, detalha.
Segundo Robson, o cunhado não relatou pânico ou medo na conversa. “A única coisa que disse foi que amava a família dele”, finaliza. Além da mãe, João deixou cinco irmãos, sobrinhos e também o companheiro.