SÃO LEOPOLDO

"Já era para ter sumido daqui", lamenta dono de loja da Rua Independência após prejuízos

Comerciantes das primeiras quadras da rua de São Leopoldo já vinham enfrentando quedas nas vendas por conta das obras

Publicado em: 13/06/2024 08:09
Última atualização: 13/06/2024 10:16

“Já era para ter sumido daqui”. Com esta frase o empresário Zahran Mustafa resume os últimos meses do negócio que mantém há quase 32 anos na esquina da segunda quadra da Rua Independência, no Centro de São Leopoldo.

Após ver as vendas e o movimento na loja de roupas despencarem por conta da obra de revitalização da Rua Grande, Mustafa agora contabiliza novos prejuízos, trazidos pela enchente. No estabelecimento dele, a água atingiu cerca de 1,70 metro.

Zahran Mustafa avalia se vale a pena continuar com loja Foto: Renata Strapazzon/GES-Especial

Todos os esforços feitos na tarde do dia 3 de maio para erguer araras foram em vão. “Ninguém imaginava que fosse subir tanto. Perdemos mercadorias, instalações. Reabrimos do jeito que conseguimos, mas com três portas fechadas e um banheiro interditado”, lamenta ele, que estima perdas em torno de R$ 120 mil no local.

Mustafa conta que em janeiro, quando o trecho da rua foi bloqueado para as obras, o local registrou queda de 80% nas vendas. Agora, o acúmulo de mais este prejuízo, faz com que o empresário repense a continuidade do negócio.

“Esta semana vai ser decisiva para que continuemos ou para que fechamos as portas em definitivo. Estamos fazendo as contas, colocando no papel todo o investimento que seria necessário, porque não é somente o estoque que foi perdido, para ficarmos, teremos que refazer a loja. Vamos ter que investir, e o recurso não está vindo”, lamenta.

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de São Leopoldo, Olinto Menegon lembra que o comércio ainda não havia se recuperado das perdas provocadas pela pandemia, que agora se somam aos danos da enchente.

Mesmo assim, ele, que também teve dois estabelecimentos atingidos pela cheia, busca vislumbrar um futuro positivo. “A obra da Independência não calculo como prejuízo porque a entidade foi unânime em apoiar o governo em algo que era preciso ser feito. Agora é a hora de remodelação de negócios, de se aproveitar os auxílios e recursos emergenciais e os benefícios do governo”, pontua.

“Não será uma retomada a curto prazo, mas a médio prazo. Mesmo com todas as adversidades da pandemia, o comércio vinha crescendo gradativamente e nós vamos voltar a este cenário novamente. Muitas pessoas já estão aproveitando os auxílios para fazer compras para remontar seu lar. É muito precoce para o empresário pensar em fechar seu negócio”, diz.

“Os benefícios oferecidos às empresas são bastante atraentes e a entidade está fazendo o que pode para auxiliar nesta retomada”, conta.

“Um ano muito duro”, destaca o presidente do Sindilojas

Presidente do Sindilojas de São Leopoldo, Walter Seewalt, classifica 2024 como “um ano muito duro” para o comércio, mas também busca uma visão otimista de superação.

“Vai ser um ano muito duro, muito difícil. As empresas estão tentando ao máximo não desligarem seus funcionários. Se vier algum auxílio do governo federal ou estadual serás muito bem-vindo, e a gente anseia isso, para que possamos manter nossos funcionários ativos”, comenta.

Comerciantes das primeiras quadras da rua já vinham enfrentando quedas as vendas por conta das obras Foto: Renata Strapazzon/GES-Especial

Sobre a obra na Independência, Seewalt destaca a esperança de negócios futuros, com o movimento que a rua revitalizada deverá atrair.

“A maioria dos empresários sofreu muito com esta revitalização já no início das obras. Mas é uma obra extremamente necessária, que vai deixar a cidade muito linda, muito agradável. Acreditamos que teremos um fluxo muito grande de transeuntes e de consumidores também, mas hoje está passando por este movimento todo de recuperação”, analisa.

Diretor da Acist-SL mostra preocupação com o fechamento de comércios

O diretor de Comércio da Acist-SL, Felipe Feldmann, destaca que o Centro vem recebendo um grande número de consumidores, por ter sido um dos primeiros pontos onde a água baixou na cidade, enquanto os demais centros de comércio continuaram por mais tempo alagados.

"Observamos que os moradores dos bairros mais impactados, como Campina, Vicentina, Rio do Sinos e Feitoria, procuram na variedade de lojas da Independência e das ruas adjacentes, artigos de primeira necessidade para o retorno das suas atividades e residências, como vestuário, linha branca, móveis e materiais de construção”, aponta.

Em contraponto, Feldmann destaca que a enchente, que atingiu as cinco primeiras quadras da Independência, fez com que alguns empresários que já haviam enfrentado dificuldades devido às obras de revitalização, optassem por não reabrir os comércios, encerrando as atividades.

“O que deve ocorrer com outros estabelecimentos nos demais locais atingidos, prejudicando muito a economia e empregos do Município, em um momento que precisamos de muitos recursos para reconstrução dos lares e negócios”, lamenta Feldmann.

Prefeitura elabora diagnóstico do cenário econômico

De acordo com o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turístico e Tecnológico (Sedettec), Juliano Maciel, a Prefeitura trabalha na construção de um “diagnóstico realista do cenário econômico da cidade pós-enchente”.

“A partir disso, e em conjunto com as entidades representativas de cada setor, trabalharemos para viabilizar as pautas principais. CDL, Sindilojas e Acist têm nos relatado as principais demandas do comércio, setor extremamente afetado em várias regiões da cidade. Num primeiro momento, entendemos ser fundamental o acesso a crédito com linhas atrativas e subsidiadas. É o caso do Pronampe, por exemplo. Nos próximos dias anunciaremos um novo programa em parceria com o Sebrae, que se enquadra perfeitamente nas necessidades dos pequenos comércios”, adianta.

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