CRIME ORGANIZADO

Líder de facção do Vale do Sinos vai a júri por mandar matar devedor

Forte esquema de segurança é preparado para a escolta do presidiário, que fugiu e foi recapturado após polêmica soltura

Publicado em: 04/12/2023 20:59
Última atualização: 04/12/2023 21:10

Apontado como líder da facção criminosa do Vale do Sinos que se tornou a maior do Estado, o traficante Marizan de Freitas, o Maria, 36 anos, vai a júri nesta quarta-feira (6), em Parobé, por mandar matar um devedor de droga na noite de 6 de julho de 2018. O outro réu é Gilberto de Souza Tambasco, o Paulista, 32, acusado de executar a ordem. Os dois negam envolvimento no homicídio. A vítima, Cristian André Boita, 24, foi assassinado com mais de dez tiros.


Marizan foi capturado em São Paulo, há quatro meses, após fuga da prisão domiciliar Foto: Polícia Civil

Um forte aparato de segurança é preparado para a escolta de Marizan, recolhido na Penitenciária de Alta de Segurança de Charqueadas (Pasc), e no entorno do fórum de Parobé. Já Tambasco, considerado matador da facção, está em prisão domiciliar humanitária em razão de problemas respiratórios. É réu de outros homicídios na região e já foi preso com fuzil. 

Morador de Taquara, Boita estava devendo dinheiro para a facção, possivelmente por não ter feito repasse da venda de droga e também devido a apreensões da Polícia. Dispondo-se a quitar o débito, conforme o Ministério Público, entrou em contato com Marizan e pediu autorização para explorar o tráfico em Parobé.

Emboscada

Ainda segundo a acusação, Marizan aceitou de forma dissimulada a proposta e armou uma emboscada. Da galeria na Pasc, passou a Boita o contato do comparsa Tambasco, que seria o encarregado de fornecer a droga para o novo ponto. O suposto matador da facção teria marcado encontro com Boita na Rua Andrade Neves, bairro Vila Nova. É onde aconteceu o assassinato, por volta das 20h30. Tambasco teria ido em uma moto de grande porte e usado uma pistola calibre 9 milímetros.

Para promotora, se trata de um “tribunal do crime”

O Ministério Público de Parobé frisa que os réus respondem a outros processos de homicídio na cidade. Segundo a promotora Sabrina Cabrera Batista Botelho, são sentenças de morte do “tribunal do crime da facção”. O promotor Leonardo Giardin acrescenta que a execução de Boita ocorreu minutos após a vítima ter pedido autorização a Marizan para traficar em Parobé. “O líder da facção é mais do que mandante deste crime. Ele é o mentor intelectual”, afirma Giardin.

O MP salienta que o líder, nascido em Campo Bom, já cumpriu pelo menos 11 de 38 anos que já tem de condenação por outros crimes, como tráfico de drogas, homicídios e lavagem de dinheiro. Em 2015 e 2020, estava entre as lideranças do crime organizado gaúcho transferidas para penitenciárias federais em outros estados.

No dia 30 de julho deste ano, foi capturado por policiais civis gaúchos em requintado restaurante de São Paulo. Ele tinha recebido, 16 dias antes, prisão domiciliar humanitária para fazer uma cirurgia. Depois do procedimento, fugiu. A capital paulista seria escala para esconderijo no Peru.

O vídeo da captura, na mesa durante almoço com familiares e amigos, ganhou repercussão nacional. Mesmo assim, conseguiu nova prisão domiciliar da Justiça, que não chegou a ser cumprida porque o MP conseguiu derrubar a decisão por meio de recurso. Marizan é ainda acusado de liderar lavagem de dinheiro em revendas de veículos.

Defesa cita “nova prova” e pede adiamento da sessão

O advogado Luiz Gustavo Puperi revelou, na tarde desta segunda-feira (4), que está pedindo o adiamento do júri. Por meio de nota, ele explica o motivo.

“Trata-se de uma ação penal de 2018, com muitas falhas na investigação. O inquérito chegou a permanecer meses literalmente parado sem nenhuma diligência investigativa. Enquanto isso, ameaças que a vítima vinha recebendo de outras pessoas no período anterior ao óbito jamais foram investigadas, desconhecendo a defesa as efetivas razões de tamanha negligência. Na última quinta-feira veio ao conhecimento da defesa a existência uma prova nova, consistente em um telefone celular pertencente à vítima. Este aparelho foi apreendido em maio de 2018 pela Polícia Civil, cerca de 40 dias antes dos fatos que serão julgados. Essa prova relevante foi omitida da defesa durante todo processo, e somente agora foi noticiada pelo próprio Ministério Público, que anexou aos autos ocorrência policial relativa à apreensão do aparelho, que está em poder do Estado. Diante da existência dessa prova nova, a defesa requereu na data de hoje o adiamento do julgamento, para que se possa averiguar o conteúdo desse aparelho de celular, já que existe no processo depoimento de testemunha no sentido de que a vítima recebia ameaças através de seu telefone no período em que foi apreendido. No mais, caso o julgamento efetivamente ocorra, a defesa acredita na absolvição do acusado.”

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