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EM BUSCA DA CARTEIRA ASSINADA

LGBTs buscam espaço no mercado de trabalho formal da região metropolitana

Pesquisas apontam que população transexual e travestis enfrentam mais preconceito

Taís Forgearini
Publicado em: 21/04/2023 às 11h:09 Última atualização: 04/03/2024 às 15h:55
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O mercado de trabalho para pessoas LGBTQIAPN+ é apontado por pesquisas e estudos como mais difícil. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas 4% das pessoas transexuais possuem emprego formal no País, outros 6% trabalham na informalidade e 90% recorrem a prostituição.

Nicole Parizzi está em busca da carteira assinada



Nicole Parizzi está em busca da carteira assinada

Foto: Taís Forgearini/GES-Especial

Com o objetivo de fomentar a inserção de pessoas transexuais e travestis no mercado de trabalho, as Agências FGTAS/Sine de Canoas, Esteio, Nova Santa Rita e Sapucaia do Sul promoveram na quinta-feira (20) atendimento preferencial para 20 vagas temporárias de auxiliar de operações de logística.

“Uma empresa de Nova Santa Rita procurou nos procurou para divulgar as vagas especialmente para um público que precisa de mais atenção oportunidades. Do total de 100 vagas, 20 foram reservadas para atender pessoas que residem em uma dessas quatro cidades, ou seja, para cada município foi destinado cinco vagas”, explica Marisete Zanatta, coordenadora do Sine de Canoas.

Até a metade da manhã desta quinta-feira, no Sine Canoas apenas uma pessoa havia procurado pelas vagas, Nicole Parizzi, de 32 anos, ela se identifica como travesti. Para a coordenadora do Sine alguns fatores podem ter sido responsáveis pela baixa procura. “Não sei se faltou divulgação ou se a função não reflete o que as pessoas estão procurando”, aponta Marisete.

Nicole conta que ficou sabendo da vaga por meio de um post no Instagram que um amigo fez. “Vim aqui hoje em busca de um trabalho formal. A única vez que tive carteira assinada foi quando morei em São Paulo.”

Dificuldades encontradas

Natural de Belo Horizonte-MG, Nicole se mudou há seis anos para Canoas. Ela ressalta a dificuldade de conseguir trabalho formal. “Aqui só trabalhei em funções informais. Já fui auxiliar de padeiro, o meu último trabalho foi em um restaurante, mas logo me dispensaram. Disseram que o movimento estava fraco”, diz a moradora do bairro Igara.

Nicole cursou até o último ano do ensino médio, porém não concluiu os estudos. “Meu sonho é fazer algo voltado para a gastronomia, eu adoro cozinhar. Mas no momento não vejo possibilidade de retornar os estudos. É complicado”, enfatiza.

A mineira aponta o preconceito como principal barreira. “É sempre o mesmo discurso quando vou procurar trabalho ‘a vaga já foi preenchida’ ou ‘vamos retornar, te ligamos’. Nunca retornam.”

Continuidade no atendimento e esperança da carteira de trabalho assinada

Conforme o Sine Canoas, as vagas estarão disponíveis até 30 de abril. “Esperamos que elas sejam preenchidas antes, mas caso, não ocorra, estarão abertas até o fim do mês em qualquer um dos quatro Sines [Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul e Nova Santa Rita]”, destaca a coordenadora do Sine Canoas.

Marisete observa que a maioria das pessoas LGBT preferem não se identificar de imediato. “Existe ainda uma certa vergonha, quando uma pessoa chega aqui é raro é se apresentar e dizer que veio por uma vaga destinada para a comunidade”, reflete.

Nicole diz estar esperançosa para conseguir a vaga de auxiliar de operações de logística. “Embora seja uma vaga temporária é uma porta de entrada, uma oportunidade. Na verdade, estou aceitando qualquer setor. O que quero é uma chance de ter um trabalho formalizado e com todos os direitos que um trabalhador comum”, salienta.

A moradora do Igara diz que ainda não conseguiu o nome social nos documentos. “Quero mudar nos documentos o meu nome de batismo masculino”, conclui.

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