MAIS DE 30 ANOS DE PRISÃO

Leandro Boldrini é condenado por homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica

Réu foi absolvido do crime de ocultação de cadáver

Publicado em: 23/03/2023 19:16
Última atualização: 26/02/2024 09:51

Após quatro dias de júri, a Justiça condenou nesta quinta-feira (23) Leandro Boldrini, pai do menino Bernardo, a 31 anos de 8 meses pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Ele foi absolvido do crime de ocultação de cadáver.

Preso desde 2014, pai de Bernardo chora no plenário Foto: Márcio Daudt/DICOM-TJRS

Ao todo, 10 testemunhas foram ouvidas, sendo cinco de acusação e outras cinco de defesa. Por questões de saúde, Boldrini não assistiu a três dias de seu julgamento – incluindo a decisão – e não prestou esclarecimentos à promotoria do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e à defesa.

Em 2019, o réu havia sido condenado a 33 anos de prisão pelo crime, que aconteceu em 2014, em Três Passos. No entanto, dois anos depois, o Tribunal de Justiça do Estado anulou o julgamento que o condenou.

Primeiro dia

Na segunda-feira (20), os promotores que representam o MPRS exibiram vídeos e áudios que ajudam a comprovar o envolvimento do médico no assassinato. Após, a delegada Caroline Bamberg Machado, que investigou o crime na época, depôs por quase seis horas. Ela foi a primeira a ser ouvida. “O que se percebeu durante a investigação, é que ele [Leandro] foi o mentor”, afirmou a delegada.

Segundo dia

A delegada regional de Três Passos, Cristiane de Moura e Silva Braucks, que participou das investigações em 2014, foi a primeira a depor na terça-feira (21). Ela falou por cerca de quatro horas.

A segunda foi Andressa Wagner, ex-secretária de Boldrini, que pediu para que sua imagem e voz não fossem divulgadas durante a audiência. A última a prestar depoimento foi Juçara Petry, ex-vizinha de Bernardo, que cuidava dele com frequência. A testemunha se emocionou durante o julgamento e disse que o menino “era um pedacinho” dela.

Terceiro dia

A quinta pessoa a ser ouvida foi a psicóloga que atendia Bernardo, Ariane Schmitt, na quarta-feira (22). “Órfão de mãe morta e de pai vivo”, disse ela.

Ainda pela manhã, deu-se início às oitivas das testemunhas arroladas à defesa do réu. O primeiro foi Luiz Gomes Pinto, ex-funcionário do acusado, seguido de Marlise Cecília Renz, trabalhou com Leandro no Hospital de Três Passos, Lori Heller, ex-babá de Bernardo, Rosângela Andreia Pinheiro, que também trabalhou com o réu, e Andrigo Rebelato, primo do acusado.

O caso

Bernardo desapareceu em 4 de abril de 2014. Seu corpo foi encontrado 10 dias depois, enterrado em uma cova vertical dentro de uma propriedade às margens de um riacho na cidade vizinha de Frederico Westphalen. No mesmo dia, o pai e a madrasta da criança, Graciele Ugulini, foram presos por serem, respectivamente, o mentor intelectual e a executora do crime.

A amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, também foi presa por ajudar no assassinato. Dias depois, Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, foi preso por ser quem preparou a cova onde o menino foi enterrado. Os quatro réus foram condenados em 2019, mas o júri de Leandro foi anulado em dezembro de 2021.

Outros envolvidos

Além do pai de Bernardo, outros três foram condenados, em 2019, pelo assassinato do menino: a madrasta, Graciele Ugulini, a 34 anos de prisão; a amiga de Graciele, Edelvânia Wirganovicz, a 22 anos; e o irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz, a nove anos.

O que motivou

Leandro e Graciele não queriam dividir com Bernardo a herança deixada pela mãe dela, Odilaine (falecida em 2010), e o consideravam um estorvo para o novo núcleo familiar. O casal ofereceu dinheiro para Edelvânia ajudar a executar o crime.

Passo a passo do crime

O assassinato de Bernardo teve início em Três Passos, por volta das 12 horas, e terminou com sua execução, às 15 horas do mesmo dia, em Frederico Westphalen. Graciele, a pretexto de agradar o menino, o conduziu até Frederico Westphalen. Ao iniciar a viagem, ainda em Três Passos, deu ao enteado midazolam – medicação de uso controlado – sob argumento de que era preciso evitar enjoos. Em seguida, já na cidade vizinha, Graciele e Bernardo se encontraram com Edelvânia, amiga da madrasta. Os três seguiram para local antecipadamente escolhido na Linha São Francisco, distrito de Castelinho, próximo a um riacho, onde a cova foi aberta dias antes por Evandro.

Dando sequência ao crime, Graciele, sempre com integral apoio moral e material de Edelvânia, mais uma vez enganando a vítima, agora a pretexto de lhe dar uma “picadinha”, para ser “benzida”, aplicou em Bernardo injeção de midazolam em quantidade suficiente para lhe causar a morte, conforme laudo pericial que atesta a presença do medicamento no estômago, rins e fígado da vítima. O menino acabou morto por uma superdosagem de medicamento.

Segundo a denúncia, o médico Leandro Boldrini, com amplo domínio do fato, interessado no desfecho da ação, concorreu para a prática do crime contra seu próprio filho como mentor e incentivador da atuação de Graciele. Ele participou “em todas as etapas da empreitada delituosa, inclusive no que diz respeito à arregimentação de colaboradores, à execução direta do homicídio, à criação de álibi, além de patrocinar despesas e recompensas, bem como ao fornecer meios para acesso à droga midazolam, utilizada para matar a vítima”. Depois de matar e enterrar o filho, Leandro fez um falso registro policial do desaparecimento de Bernardo para que ninguém descobrisse o crime.

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