ÁFRICA NO PRATO

Jovem de 18 anos cria startup que serve pratos típicos da culinária africana em eventos no RS

Projeto iniciado em sala de aula por Luiza Oliveira, a Ipanu, tenta agora crescer e oferecer comidas de diferentes países do continente

Publicado em: 02/05/2023 14:39
Última atualização: 06/03/2024 11:43

Caminhando pelas ruas das grandes e médias cidades do País, e mesmo das menores, é comum nos depararmos com restaurantes das mais variadas culturas. Italiana, alemã, japonesa, são culinárias presentes no dia a dia. Mas onde está a comida africana?


Luiza Oliveira, 18 anos, criadora da startup Ipanu Foto: Reprodução Feevale

Embora extremamente presente e influente na cultura e na cozinha brasileira, os pratos típicos do continente são muito pouco conhecidos no Brasil. Foi a partir desse incômodo que a jovem Luiza Oliveira, 18 anos, deu os primeiros passos na criação da Ipanu, uma startup voltada à releitura gastronômica dos países do continente.

"Nossas amigas brancas sempre tiveram a oportunidade de ir jantar com suas famílias de origem italiana em um restaurante italiano, ou alemão, e a gente nunca teve essa oportunidade", reflete a jovem empreendedora natural de Porto Alegre e moradora do bairro Bom Jesus, na zona Leste da capital.

Luiza teve a ideia de criar uma empresa ao participar do projeto Escola Startup – Season 1: Food Makers, oferecido pela Rede Calábria. "Fiz mais para descobrir o que eu queria da minha vida e acabei montando uma empresa", lembra ela que ingressou no curso logo após concluir o ensino médio.


Jovem de 18 anos cria startup que serve pratos típicos da culinária africana em eventos no RS Foto: Arquivo pessoal


Junto com outras colegas negras, elas tiveram a ideia de mostrar um lado da cultura do continente que sequer tinham sido ensinadas. "Nas escolas a gente só aprende sobre a parte da escravidão e não é dito mais nada sobre a cultura africana", lembra Luiza. A maioria das colegas acabou deixando o projeto, que hoje é tocado por ela e outras duas amigas.

Essa falta de informação básica foi um dos desafios às jovens, que mesmo na internet tiveram dificuldades para saber mais sobre as comidas típicas do continente. "Por mais que tenhamos feito uma pesquisa a fundo, ainda foi superficial porque pouca coisa aparece para gente nas buscas."

Ao final da pesquisa, elas decidiram produzir seis pratos de diferentes países do continente. O cardápio da Ipanu conta com dois da África do Sul: o bobotie e kingklip. De Angola foram escolhidos a muamba de galinha e o calulu de carne. Do Quênia veio nyoma choma enquanto biryanis é o prato típico de Zanzibar, um arquipélago na Tanzânia.

Para conseguir se aproximar ao máximo dos pratos feitos nos países, elas contam com o apoio de um congolês que mora no Brasil e também têm buscado com chefes de outros países africanos.

Mesmo assim, adaptações precisam ser feitas, como o caso do kingklip, prato à base de um peixe de mesmo nome que só existe no litoral africano. Outra alteração típica é a troca da carne de carneiro por bovina.

Porém, Luiza conta ter facilidade para encontrar outros ingredientes utilizados na cozinha africana. "A gente teve que fazer releituras de alguns ingredientes, mas os temperos são de fácil acesso, eles usam bastante o azeite de dendê", exemplifica.

Foco em gestão

A relação de Luiza com a cozinha começou ainda em casa, mas a ideia de transformar o hobby familiar em profissão veio mesmo na hora de se inscrever para o curso da Rede Calabria. "Achei que o curso seria mais voltado para a área da gastronomia, mas era um curso de startup para montar a empresa."

Com a surpresa dentro do curso, Luiza acabou descobrindo um interesse maior em gerir o negócio e fazer a Ipanu acontecer. Recém aprovada para a faculdade de administração, ela projeta focar na gestão para ajudar no crescimento da empresa. "Quero focar agora mais nesta área administrativa, claro também estar na área da gastronomia, mas primeiro estabilizar na parte administrativa", explica.

Em busca de investimento

O foco em gestão se explica pelo momento da startup, que ainda tenta captar recursos para expandir o negócio. No momento o trabalho da Ipanu tem sido voltado mais para atendimento personalizado, já que ainda não há um espaço físico para receber os clientes. "Trabalhamos com eventos, para que as pessoas possam pedir em seu aniversário."

A cozinha da empresa ainda é na casa de Luiza, mas o objetivo dela é conseguir sair do modelo caseiro de trabalho. "Estamos em busca de algum investimento para a gente ter um espaço físico onde as pessoas possam visitar a gente."

Em fevereiro o projeto foi um dos finalistas do Prêmio Jovens Visionários Prudential, que destinou recursos de R$ 25 mil e R$ 15 mil, respectivamente, para o primeiro e segundo colocado. Como o projeto da Ipanu não esteve nas primeiras posições, o projeto não recebeu recursos mas Luiza tem contato com mentorias dos organizadore para alavancar o negócio.

Um dos desafios encontrados por Luiza é vencer um certo estranhamento por parte do público e mesmo de investidores. "É um pouco complicado quando a gente fala do grande público, porque muitas pessoas dizem que acham legal mas ao mesmo tempo que não serve para elas, não se caracteriza com o que elas idealizam."

Mesmo assim, ela garante que já consegue encontrar pessoas com interesse em ter a culinária africana no dia a dia. O principal objetivo de Luiza é proporcionar no Rio Grande do Sul essa experiência gastronômica trazendo mais diversidade também na mesa dos gaúchos.

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