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Investimento em infraestrutura é o principal desafio da educação gaúcha
Reconduzida ao comando da Secretaria da Educação, Raquel Teixeira diz já ter um diagnóstico dos problemas do setor
Última atualização: 24/01/2024 15:42
Ao tomar posse como governador reeleito, Eduardo Leite (PSDB) afirmou que o investimento em educação será a marca de sua nova gestão à frente do Executivo estadual. O tucano decidiu manter Raquel Teixeira, que já havia sido sua secretária na primeira gestão, à frente da Secretaria da Educação.
Em entrevista exclusiva o Grupo Sinos, Teixeira revela que problemas elétricos são os mais comuns nas escolas da rede estadual. A secretária ainda fala sobre o novo ensino médio e o investimento no ensino técnico do Rio Grande do Sul.
Levantamento está pronto, mas será apresentado por Leite
Logo após o governador Eduardo Leite (PSDB) tomar posse ele anunciou um grande plano de reestruturação na infraestrutura nas escolas públicas. Como ele vai funcionar e quais os primeiros passos dele?
Raquel Teixeira - A primeira medida que o governador Eduardo leite tomou quando disse que priorizaria a educação, e dentro do programa a infraestrutura das escolas que é historicamente um problema aqui no Rio Grande do Sul, ele criou a estrutura necessária para que isso aconteceu. Ele desvinculou a Secretaria de Obras, e dentro da da secretaria há uma subsecretaria de obras escolares, 80% da atribuição da Seop (Secretaria de Obras Públicas) hoje é reforma de escola dentro de uma subsecretaria específica. Hoje há um planejamento já estratificado com as escolas todas com o nível de demandas que elas requerem. Esse plano de atuação de infraestrutura vai ser detalhado pelo governador Eduardo Leite. Está pronto, há os caminhos, há questões de interferência imediata, há questões que o Agiliza resolve sem precisar passar pela Seop, há questões de autonomia financeira que estamos revendo, mas essa é parte de uma política importante que o próprio governador vai anunciar.
Em termos regionais quais apresentaram mais problemas e qual o problema mais comum encontrado nessa radiografia das escolas estaduais?
Raquel - O problema mais comum é rede elétrica e telhado, o Rio Grande do Sul tem um parque elétrico bastante antigo. A modernidade trouxe uma carga elétrica grande para as escolas, as redes que temos hoje não aguentam. Esse é um problema geral que abrange praticamente todas as escolas. A questão dos telhados é quase uma coisa comum. Telhados antigos, alguns com risco de cair, outros não, quase todos com problemas. Problemas primários temos desde o piso de uma quadra de esporte que precisa ser renovados, reforma de banheiros, mas coisas que também a autonomia financeira, o Agiliza pode resolver. Agora, há casos inclusive de possiblidade de derrubar a escola e fazer outra, são casos esporádicos, mas temos gravidade desse tipo.
Uma preocupação do atual governo é o tema das escolas técnicas, que são muito importantes aqui para a região. O que teremos de concreto em termos de investimentos para as escolas técnicas?
Raquel - Há dois anos estamos trabalhando nisso e as escolas técnicas profissionais tem hoje um quadro já diferente do que encontrei. Temos hoje ferramentas movidas e alimentadas pela aderência pedagógica e econômica, vários trabalhos em conjunto com o setor produtivo. Já definimos e modernizamos os currículos de quase todos os cursos técnicos. Hoje quatro cursos técnicos respondem por 80% da demanda que são: informática, administração, eletrotécnica e agricultura. Agora, a educação técnica e profissional faz parte do que a gente chama de itinerário formativo do ensino médio. O ensino médio passou por uma reforma profunda, esse ano 100% das escolas gaúchas já estão no novo currículo. Um cenário que se moderniza de forma que todos os alunos tenham oportunidade de sair do ensino médio com alguma formação técnica, até porque está provado que quem faz formação técnica tem melhor resultado no Enem e na Universidade.
Essa mudança do ensino médio já foi muito criticada por especialistas da área da educação pela retirada de algumas disciplinas da área de humanas a redução, por exemplo, na carga horária de história. Como o Rio Grande do Sul vai trabalhar essas disciplinas que não tem mais uma obrigatoriedade como no caso de sociologia ?
Raquel - Eu sinto muito mas tem vários equívocos nessa fala. Não procede a informação de que história, sociologia e filosofia foram retiradas do currículo, elas estão lá. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é uma modernização para o que se faz na educação do mundo inteiro. A BNCC faz duas mudanças muito profundas no sistema de educação. Primeiro, articula as competências cognitivas com as socioemocionais, isso nunca tinha acontecido. Segundo, articula teoria e prática, isso também não acontecia. E ao invés de trabalhar com a disciplina isolada, toda a educação hoje trabalha com o que a gente chama de área de conhecimento. Então você tem uma área que chama linguagem e suas tecnologias, língua portuguesa, língua estrangeira em geral, artes, educação física, as várias linguagens que as pessoas se expressam. O que é a área de ciências da natureza? Física, química, biologia, só que não aparece mais o nome isolado, não se trabalha com disciplina, mas com a área de conhecimento. O século XXI é o século da integração dos saberes. Até porque quando você vai articular teoria com a prática você tem que saber integrar os conhecimentos. Na vida prática o empregador vai precisar de alguém que saiba resolver o problema e não que saiba resolver uma fórmula de física ou uma questão pontual de matemática. Isso é uma mudança muito profunda que no início causou um estranhamento da parte das pessoas, mas hoje nas escolas isso está bastante trabalhado, nas escolas de educação básica. Algumas universidades, talvez ainda por não estarem no dia a dia da escola, da educação básica, possam questionar, mas são raras exceções. Essa é uma mudança que já foi, de modo geral, bastante absorvida. E filosofia, está lá, sociologia está lá a história dentro do que se chama área de conhecimento.
Essa mudança na BNCC não abre um precedente para que a gente reforce um antigo problema do Estado que são professores dando aulas fora da sua área de formação? Começamos o ano com professores suficientes?
Raquel - Nós não temos falta de professores, o que pode haver são faltas pontuais porque professor entra em licença médica, aparece com laudo. Você pode não ter um professor em uma determinada aula, em um determinado dia, mas nos quadros a gente está com professor com aula atribuída para todas as demandas. Ainda não terminamos o processo de matrícula, ele vai até o dia 17, pode ser que sejam necessárias novas turmas e novos contratos. Mas a nossa expectativa é que a gente tenha professores. Agora, o mundo todo está trabalhando com área de conhecimento, o mundo todo está fazendo flexibilizações, é muito difícil querer manter alguns entendimentos antigos por, talvez, um certo receio da mudança. Mudança causa insegurança mesmo, mas é uma mudança necessária. As escolas em sua grande maioria estão entusiasmadas, são escolas mais atrativas, mais mão na massa, mais com formação daquilo que o aluno precisa. O que a gente está tentando fazer, associar teoria e prática, é envolver o aluno, por isso a gente fala em metodologias ativas, porque as mentes dos alunos estão ativamente envolvidas no processo de aprendizagem. A aula expositiva é no máximo 10% do que foi exposto que o aluno aprende. Se o mundo mudou tanto, seria ingênuo pensar que a escola não ia mudar.
Perfil
Secretária de Educação do Rio Grande do Sul desde abril de 2021, Raquel Figueiredo Alessandri Teixeira é professora natural de Goiânia. É mestre e PhD em Linguística pela University of California em Berkeley (EUA), graduada em Letras e mestre em Letras e Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). Tem pós-doutorado em Língua e Cultura pela Escola de Altos Estudos de Paris e especialização em Etnolinguística pela Universidade Federal de Goiás.
Nos últimos 20 anos, foi secretária de Educação, secretária de Ciência e Tecnologia, secretária de Cultura, secretária de Cidadania e secretária de Esporte em Goiás. Foi também conselheira do Conselho Nacional de Educação, deputada federal por Goiás por oito anos e coordenadora da Escola de Formação de Professores de São Paulo.
Ao tomar posse como governador reeleito, Eduardo Leite (PSDB) afirmou que o investimento em educação será a marca de sua nova gestão à frente do Executivo estadual. O tucano decidiu manter Raquel Teixeira, que já havia sido sua secretária na primeira gestão, à frente da Secretaria da Educação.
Em entrevista exclusiva o Grupo Sinos, Teixeira revela que problemas elétricos são os mais comuns nas escolas da rede estadual. A secretária ainda fala sobre o novo ensino médio e o investimento no ensino técnico do Rio Grande do Sul.
Levantamento está pronto, mas será apresentado por Leite
Logo após o governador Eduardo Leite (PSDB) tomar posse ele anunciou um grande plano de reestruturação na infraestrutura nas escolas públicas. Como ele vai funcionar e quais os primeiros passos dele?
Raquel Teixeira - A primeira medida que o governador Eduardo leite tomou quando disse que priorizaria a educação, e dentro do programa a infraestrutura das escolas que é historicamente um problema aqui no Rio Grande do Sul, ele criou a estrutura necessária para que isso aconteceu. Ele desvinculou a Secretaria de Obras, e dentro da da secretaria há uma subsecretaria de obras escolares, 80% da atribuição da Seop (Secretaria de Obras Públicas) hoje é reforma de escola dentro de uma subsecretaria específica. Hoje há um planejamento já estratificado com as escolas todas com o nível de demandas que elas requerem. Esse plano de atuação de infraestrutura vai ser detalhado pelo governador Eduardo Leite. Está pronto, há os caminhos, há questões de interferência imediata, há questões que o Agiliza resolve sem precisar passar pela Seop, há questões de autonomia financeira que estamos revendo, mas essa é parte de uma política importante que o próprio governador vai anunciar.
Em termos regionais quais apresentaram mais problemas e qual o problema mais comum encontrado nessa radiografia das escolas estaduais?
Raquel - O problema mais comum é rede elétrica e telhado, o Rio Grande do Sul tem um parque elétrico bastante antigo. A modernidade trouxe uma carga elétrica grande para as escolas, as redes que temos hoje não aguentam. Esse é um problema geral que abrange praticamente todas as escolas. A questão dos telhados é quase uma coisa comum. Telhados antigos, alguns com risco de cair, outros não, quase todos com problemas. Problemas primários temos desde o piso de uma quadra de esporte que precisa ser renovados, reforma de banheiros, mas coisas que também a autonomia financeira, o Agiliza pode resolver. Agora, há casos inclusive de possiblidade de derrubar a escola e fazer outra, são casos esporádicos, mas temos gravidade desse tipo.
Uma preocupação do atual governo é o tema das escolas técnicas, que são muito importantes aqui para a região. O que teremos de concreto em termos de investimentos para as escolas técnicas?
Raquel - Há dois anos estamos trabalhando nisso e as escolas técnicas profissionais tem hoje um quadro já diferente do que encontrei. Temos hoje ferramentas movidas e alimentadas pela aderência pedagógica e econômica, vários trabalhos em conjunto com o setor produtivo. Já definimos e modernizamos os currículos de quase todos os cursos técnicos. Hoje quatro cursos técnicos respondem por 80% da demanda que são: informática, administração, eletrotécnica e agricultura. Agora, a educação técnica e profissional faz parte do que a gente chama de itinerário formativo do ensino médio. O ensino médio passou por uma reforma profunda, esse ano 100% das escolas gaúchas já estão no novo currículo. Um cenário que se moderniza de forma que todos os alunos tenham oportunidade de sair do ensino médio com alguma formação técnica, até porque está provado que quem faz formação técnica tem melhor resultado no Enem e na Universidade.
Essa mudança do ensino médio já foi muito criticada por especialistas da área da educação pela retirada de algumas disciplinas da área de humanas a redução, por exemplo, na carga horária de história. Como o Rio Grande do Sul vai trabalhar essas disciplinas que não tem mais uma obrigatoriedade como no caso de sociologia ?
Raquel - Eu sinto muito mas tem vários equívocos nessa fala. Não procede a informação de que história, sociologia e filosofia foram retiradas do currículo, elas estão lá. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é uma modernização para o que se faz na educação do mundo inteiro. A BNCC faz duas mudanças muito profundas no sistema de educação. Primeiro, articula as competências cognitivas com as socioemocionais, isso nunca tinha acontecido. Segundo, articula teoria e prática, isso também não acontecia. E ao invés de trabalhar com a disciplina isolada, toda a educação hoje trabalha com o que a gente chama de área de conhecimento. Então você tem uma área que chama linguagem e suas tecnologias, língua portuguesa, língua estrangeira em geral, artes, educação física, as várias linguagens que as pessoas se expressam. O que é a área de ciências da natureza? Física, química, biologia, só que não aparece mais o nome isolado, não se trabalha com disciplina, mas com a área de conhecimento. O século XXI é o século da integração dos saberes. Até porque quando você vai articular teoria com a prática você tem que saber integrar os conhecimentos. Na vida prática o empregador vai precisar de alguém que saiba resolver o problema e não que saiba resolver uma fórmula de física ou uma questão pontual de matemática. Isso é uma mudança muito profunda que no início causou um estranhamento da parte das pessoas, mas hoje nas escolas isso está bastante trabalhado, nas escolas de educação básica. Algumas universidades, talvez ainda por não estarem no dia a dia da escola, da educação básica, possam questionar, mas são raras exceções. Essa é uma mudança que já foi, de modo geral, bastante absorvida. E filosofia, está lá, sociologia está lá a história dentro do que se chama área de conhecimento.
Essa mudança na BNCC não abre um precedente para que a gente reforce um antigo problema do Estado que são professores dando aulas fora da sua área de formação? Começamos o ano com professores suficientes?
Raquel - Nós não temos falta de professores, o que pode haver são faltas pontuais porque professor entra em licença médica, aparece com laudo. Você pode não ter um professor em uma determinada aula, em um determinado dia, mas nos quadros a gente está com professor com aula atribuída para todas as demandas. Ainda não terminamos o processo de matrícula, ele vai até o dia 17, pode ser que sejam necessárias novas turmas e novos contratos. Mas a nossa expectativa é que a gente tenha professores. Agora, o mundo todo está trabalhando com área de conhecimento, o mundo todo está fazendo flexibilizações, é muito difícil querer manter alguns entendimentos antigos por, talvez, um certo receio da mudança. Mudança causa insegurança mesmo, mas é uma mudança necessária. As escolas em sua grande maioria estão entusiasmadas, são escolas mais atrativas, mais mão na massa, mais com formação daquilo que o aluno precisa. O que a gente está tentando fazer, associar teoria e prática, é envolver o aluno, por isso a gente fala em metodologias ativas, porque as mentes dos alunos estão ativamente envolvidas no processo de aprendizagem. A aula expositiva é no máximo 10% do que foi exposto que o aluno aprende. Se o mundo mudou tanto, seria ingênuo pensar que a escola não ia mudar.
Perfil
Secretária de Educação do Rio Grande do Sul desde abril de 2021, Raquel Figueiredo Alessandri Teixeira é professora natural de Goiânia. É mestre e PhD em Linguística pela University of California em Berkeley (EUA), graduada em Letras e mestre em Letras e Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). Tem pós-doutorado em Língua e Cultura pela Escola de Altos Estudos de Paris e especialização em Etnolinguística pela Universidade Federal de Goiás.
Nos últimos 20 anos, foi secretária de Educação, secretária de Ciência e Tecnologia, secretária de Cultura, secretária de Cidadania e secretária de Esporte em Goiás. Foi também conselheira do Conselho Nacional de Educação, deputada federal por Goiás por oito anos e coordenadora da Escola de Formação de Professores de São Paulo.