“Sem um prédio adequado, não tem o que fazer”, lamenta Mateus Guedes dos Santos, 14 anos, aluno do 8º ano do Instituto Estadual de Educação Manoel de Almeida Ramos, de Capela de Santana.
A escola, que tem mais de 80 anos de existência, é a única no município a oferecer turmas do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio, mas desde outubro de 2013 precisa “peregrinar” por estruturas diferentes da cidade para receber seus estudantes. Atualmente, ela atende os 439 alunos, matriculados em 3 turnos, no “porão” de um salão paroquial. Tudo isso porque a obra de seu novo prédio nunca saiu do papel.
Diretor da instituição, Laércio Lancellotti explica que, em 2013, pelas condições que a sede apresentava, a escola passaria por reforma. Porém, ao avaliarem a estrutura, os engenheiros condenaram o local e recomendaram que fosse construído um novo prédio, obra de responsabilidade da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). Durante esse tempo, porém, a comunidade escolar precisaria se colocar em outro lugar temporariamente. “Acabamos saindo de lá, mas sem muito planejamento, daí viemos para essa peregrinação, que já dura 8 anos”, resumiu o diretor.
Mudanças
Conforme Lancellotti, na época, um projeto chegou a ser feito, mas a empresa que ganhou a licitação da obra teria desistido e o processo não mais andou.
Nesse tempo, entretanto, para seguir recebendo alunos, a escola se mudou para o salão paroquial da Igreja Santa Ana, que ainda não estava totalmente pronto. Com todas as turmas juntas no espaço, divididas em grandes mesas, o colégio ficou no local até março de 2014, quando passou para a sede de uma escola agrícola, numa área rural da cidade. O ponto era longe do Centro e carecia de estrutura adequada, mas foi a “casa” do Instituto até maio de 2015, quando voltou para o salão paroquial.
Por intermédio da prefeitura capelense, que se comprometeu a pagar o aluguel do local, a escola se instalou na parte inferior do salão, uma espécie de “porão”, que também ainda não estava totalmente pronto. “Não tinha mobílias, pintura, nada, só pedras. Estava em construção”, comenta o diretor, citando melhorias e adequações feitas para que a estrutura pudesse receber os alunos de forma mais apropriada.
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Garantindo o aluguel
O município ficou responsável pelo aluguel do “porão” do salão por um ano, enquanto o terreno ia sendo regularizado. Após, o Estado assumiu a locação do espaço por cinco anos, prazo que expirou em junho desse ano e ainda não foi renovado, conforme Lancellotti, que acompanha o processo diariamente. O medo agora é que, sem a renovação concluída e sem obra para a construção de um novo prédio, a escola tenha que procurar um novo lugar para se instalar. “Hoje, não tem nada. O único processo em andamento é o da renovação do aluguel mesmo”, coloca o diretor.
Receosa, a comunidade escolar se uniu e vem entrando em contato com a 2ª Coordenadoria Regional de Educação (2ª CRE), autoridades municipais, estaduais e políticos. Segundo Lancellotti, a ideia é tentar uma audiência com o Estado. “Num primeiro momento, nós precisamos garantir o aluguel, porque a escola não vai ficar pronta de hoje pra amanhã. Uma vez feito isso, vamos lutar para que tenha um processo de construção da nossa escola”, explica o diretor.
Espaço físico limitado
Enquanto isso, alunos como Mateus, citado no começo desta matéria, lidam com dificuldades diárias para seguirem os estudos na instituição. Apesar da organização invejável da escola nas instalações do “porão”, o ambiente não é o adequado. “A nossa maior dificuldade é a questão do espaço físico. Lá (na sede antiga, que foi condenada), nós tínhamos um laboratório de informática montado. Hoje temos só três computadores”, exemplifica a professora de Artes Gabriela Zanatta, 41, que há 19 anos atua na escola.
“A gente não pode fazer uso da biblioteca também, porque muitas vezes ela tem que estar guardando alguma coisa, porque não temos onde deixar”, acrescenta, lembrando que parte da biblioteca serve como depósito para materiais que a escola não tem onde acomodar. Além disso, com o crescimento do número de matrículas, a antiga sala multimídia precisou ser transformada em sala de aula.
Educação Física adaptada
Sem o espaço multimídia, sem biblioteca adequada e sem espaço para realizar o intervalo, os alunos ficam praticamente restritos somente às salas de aula da escola, que, em tempo de pandemia, carecem de ventilação apropriada, já que as janelas dos espaços são pequenas. “Nunca fizemos um intervalo lá na rua, é sempre aqui dentro, porque não temos um espaço fechado pra deixar o aluno em segurança”, enfatiza a professora Gabriela.
Até mesmo a disciplina de Educação Física precisa ser adaptada, pois não há ambiente para que atividades desportivas sejam repassadas. Com tudo isso, Gabriela reforça ser difícil oferecer uma dinâmica de aula para os alunos. “Eles querem também sair da sala de aula, e é até antipedagógico estar no mesmo ambiente sempre. É um direito da gente estar com nossa escola, de fato. Aqui, a gente tem o que precisa, só que não é o nosso lugar”.
"É um ideal de trabalho", diz educador
Ex-aluno da escola e, agora, conselheiro tutelar na cidade, Rodrigo da Luz, 26, se formou no Ensino Médio quando a escola ocupava a parte superior do salão paroquial. “Era todo mundo amontoado, um barulhão. Não tinha condições”, relata, sobre a época. Hoje, ele segue acompanhando os problemas enfrentados pela instituição. “É um pecado, porque eles tem que estar aqui, alugando, dependendo dos outros”.
Morador de Capela de Santana, sendo alfabetizado no próprio Instituto onde hoje é diretor, Laércio Lancellotti lamenta a situação que a escola vive atualmente. “É frustrante, por isso me sinto responsável. Para mim, é uma questão de ideal de trabalho”, diz, sobre a dedicação em tentar a construção do novo espaço da escola.
Processos estão em andamento, diz Seduc
Procurada, a Seduc informou, em nota, que “o processo de renovação do contrato de aluguel do Salão Paroquial está em andamento para a continuidade da locação do espaço. A locação se dará por um prazo de até cinco anos”. De acordo com a Secretaria, a renovação deve sair nas próximas semanas.
A Seduc esclareceu ainda que, “neste momento, o processo para construção de um prédio novo para abrigar a instituição de ensino encontra-se em fase de análise de projeto”. Porém, segundo a Secretaria, não é possível cravar o início da obra, pois o processo está cumprindo os prazos dos trâmites legais internos.
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