OPERAÇÕES SUSPEITAS
Inquérito contra médico por mortes de pacientes também apura possíveis fraudes em convênios
Paciente de Novo Hamburgo com sequelas pós-cirúrgicas relata que recebeu cobrança por retirada de órgão que ela ainda tem
Última atualização: 15/01/2024 17:40
No inquérito contra o médico de Novo Hamburgo João Couto Neto por mortes e mutilações de pacientes, são também apuradas possíveis fraudes em convênios. Uma comerciante de 35 anos relata que, após cirurgia em julho de 2020, recebeu cobrança por retirada de órgão que ela ainda possui. Seria uma coparticipação de R$ 50 mil para o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores Municipais (Ipasem) de Campo Bom, que não quis se manifestar. O Hospital Regina, que lançou parte da conta, diz que o responsável pela descrição dos procedimentos é o médico. Couto não fala à reportagem desde 12 de dezembro, quando a Justiça o proibiu de fazer cirurgias. Ele afirma que é inocente.A paciente relata que foi operada por Couto para extração de cisto no ovário e que, pouco tempo depois, teve endometriose diagnosticada por uma ginecologista. Retornou ao consultório do médico, que indicou cirurgia de urgência sob argumento de que seria uma espécie de câncer.
A nova operação fez a hamburguense ficar três dias internada. Segundo ela, em nenhum momento Couto foi ao quarto examiná-la. Diz que era atendida pela equipe de enfermagem, mas que, nos prontuários, aparecia a assinatura do cirurgião.
Surpresas
Após alta, passou a ter falta de ar e febre. Voltou ao hospital e foi para a UTI, onde permaneceu 30 dias, dos quais três em coma. O médico do setor teria informado que era infecção generalizada decorrente da cirurgia. Já fora de perigo, em nova ressonância, ficou surpresa ao ver o laudo que mostrava a endometriose no mesmo lugar. Perplexidade maior veio ao receber a fatura de coparticipação do Ipasem. Ao pedir levantamento detalhado para saber o que era cobrado, constatou que, entre os procedimentos, aparecia histerectomia total, que é a retirada do útero. A comerciante ainda tem o órgão, conforme comprovado em exames. O hospital também fez o lançamento do procedimento não realizado.
“Ainda tenho problemas de saúde”, diz comerciante
A paciente diz que precisou fazer outras cirurgias, trocou de médico e segue sob tratamento, com riscos de que a infecção retorne. “Ainda tenho problemas de saúde”, observa a comerciante, que afirma ter entregue todos os documentos comprobatórios à Polícia, como laudos e faturas. Couto teria dito de forma insensível à família da paciente, quando estava em estado grave com infecção generalizada, que ela “sabia dos riscos da cirurgia de endometriose”.
Delegado pede informações sobre procedimentos
Na representação criminal contra o médico, o titular da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, Tarcísio Kaltbach, declara que a comerciante prestou depoimento minucioso, com informações relevantes para o conjunto das investigações. “Caracteriza muito bem a forma desumana e irresponsável do atendimento realizado pelo médico investigado”, comenta o delegado.
Ele acrescenta que, para aprofundar informações sobre erros médicos e apurar suspeitas de cobranças indevidas, estão sendo solicitados aos planos de saúde todos os procedimentos e valores cobrados pelo cirurgião.
Quando apreendeu celular e computador do investigado, além de prontuários de pacientes no Hospital Regina, no dia 12 do mês passado, a Polícia tinha 14 casos - cinco de mortes e nove de lesões graves. Nesta segunda-feira (9) já eram 94, com 23 mortes e 71 lesões.
Perfurações de intestino, pâncreas e aorta, além de pulmão 'colado' à pele e retirada de umbigo, estão entre os relatos contra Couto, especializado em cirurgia de hérnia abdominal. Ele está suspenso pela Justiça e pelo Conselho Regional de Medicina do rio Grande do Sul (Cremers).
Hospital diz que a responsabilidade é do cirurgião
A reportagem teve acesso a guias de serviços complementares emitidas pelo Hospital Regina, em que lança pelo menos nove procedimentos cirúrgicos da comerciante, entre eles a histerectomia total que não foi feita. Elas servem como “autorização de serviços complementares”, com a assinatura de um responsável pelo paciente para que o Ipasem cobre coparticipação. Há lançamentos também de exames, como ecografia. Em nota, o hospital diz que “os honorários médicos do procedimento, incluindo todas as intervenções realizadas, são faturados pelo médico através de seu credenciamento junto aos convênios e particulares por meio da sua pessoa jurídica”.
A instituição ainda coloca que “realiza somente o faturamento/cobrança quanto à estrutura disponibilizada (materiais, medicamentos, equipamentos e todo o custo com pessoas e demais despesas, como gases medicinais, água e luz)”. O hospital ressalta que instituiu a Comissão de Comunicação para Acolhida e Escuta dos Pacientes e Familiares, “um canal aberto e com o objetivo de ouvir estas pessoas. Reclamações, como esta, podem ser direcionadas para que sejam averiguadas e esclarecida a veracidade dos fatos”.
No inquérito contra o médico de Novo Hamburgo João Couto Neto por mortes e mutilações de pacientes, são também apuradas possíveis fraudes em convênios. Uma comerciante de 35 anos relata que, após cirurgia em julho de 2020, recebeu cobrança por retirada de órgão que ela ainda possui. Seria uma coparticipação de R$ 50 mil para o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores Municipais (Ipasem) de Campo Bom, que não quis se manifestar. O Hospital Regina, que lançou parte da conta, diz que o responsável pela descrição dos procedimentos é o médico. Couto não fala à reportagem desde 12 de dezembro, quando a Justiça o proibiu de fazer cirurgias. Ele afirma que é inocente.A paciente relata que foi operada por Couto para extração de cisto no ovário e que, pouco tempo depois, teve endometriose diagnosticada por uma ginecologista. Retornou ao consultório do médico, que indicou cirurgia de urgência sob argumento de que seria uma espécie de câncer.
A nova operação fez a hamburguense ficar três dias internada. Segundo ela, em nenhum momento Couto foi ao quarto examiná-la. Diz que era atendida pela equipe de enfermagem, mas que, nos prontuários, aparecia a assinatura do cirurgião.
Surpresas
Após alta, passou a ter falta de ar e febre. Voltou ao hospital e foi para a UTI, onde permaneceu 30 dias, dos quais três em coma. O médico do setor teria informado que era infecção generalizada decorrente da cirurgia. Já fora de perigo, em nova ressonância, ficou surpresa ao ver o laudo que mostrava a endometriose no mesmo lugar. Perplexidade maior veio ao receber a fatura de coparticipação do Ipasem. Ao pedir levantamento detalhado para saber o que era cobrado, constatou que, entre os procedimentos, aparecia histerectomia total, que é a retirada do útero. A comerciante ainda tem o órgão, conforme comprovado em exames. O hospital também fez o lançamento do procedimento não realizado.
“Ainda tenho problemas de saúde”, diz comerciante
A paciente diz que precisou fazer outras cirurgias, trocou de médico e segue sob tratamento, com riscos de que a infecção retorne. “Ainda tenho problemas de saúde”, observa a comerciante, que afirma ter entregue todos os documentos comprobatórios à Polícia, como laudos e faturas. Couto teria dito de forma insensível à família da paciente, quando estava em estado grave com infecção generalizada, que ela “sabia dos riscos da cirurgia de endometriose”.
Delegado pede informações sobre procedimentos
Na representação criminal contra o médico, o titular da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, Tarcísio Kaltbach, declara que a comerciante prestou depoimento minucioso, com informações relevantes para o conjunto das investigações. “Caracteriza muito bem a forma desumana e irresponsável do atendimento realizado pelo médico investigado”, comenta o delegado.
Ele acrescenta que, para aprofundar informações sobre erros médicos e apurar suspeitas de cobranças indevidas, estão sendo solicitados aos planos de saúde todos os procedimentos e valores cobrados pelo cirurgião.
Quando apreendeu celular e computador do investigado, além de prontuários de pacientes no Hospital Regina, no dia 12 do mês passado, a Polícia tinha 14 casos - cinco de mortes e nove de lesões graves. Nesta segunda-feira (9) já eram 94, com 23 mortes e 71 lesões.
Perfurações de intestino, pâncreas e aorta, além de pulmão 'colado' à pele e retirada de umbigo, estão entre os relatos contra Couto, especializado em cirurgia de hérnia abdominal. Ele está suspenso pela Justiça e pelo Conselho Regional de Medicina do rio Grande do Sul (Cremers).
Hospital diz que a responsabilidade é do cirurgião
A reportagem teve acesso a guias de serviços complementares emitidas pelo Hospital Regina, em que lança pelo menos nove procedimentos cirúrgicos da comerciante, entre eles a histerectomia total que não foi feita. Elas servem como “autorização de serviços complementares”, com a assinatura de um responsável pelo paciente para que o Ipasem cobre coparticipação. Há lançamentos também de exames, como ecografia. Em nota, o hospital diz que “os honorários médicos do procedimento, incluindo todas as intervenções realizadas, são faturados pelo médico através de seu credenciamento junto aos convênios e particulares por meio da sua pessoa jurídica”.
A instituição ainda coloca que “realiza somente o faturamento/cobrança quanto à estrutura disponibilizada (materiais, medicamentos, equipamentos e todo o custo com pessoas e demais despesas, como gases medicinais, água e luz)”. O hospital ressalta que instituiu a Comissão de Comunicação para Acolhida e Escuta dos Pacientes e Familiares, “um canal aberto e com o objetivo de ouvir estas pessoas. Reclamações, como esta, podem ser direcionadas para que sejam averiguadas e esclarecida a veracidade dos fatos”.
A nova operação fez a hamburguense ficar três dias internada. Segundo ela, em nenhum momento Couto foi ao quarto examiná-la. Diz que era atendida pela equipe de enfermagem, mas que, nos prontuários, aparecia a assinatura do cirurgião.
Surpresas
Após alta, passou a ter falta de ar e febre. Voltou ao hospital e foi para a UTI, onde permaneceu 30 dias, dos quais três em coma. O médico do setor teria informado que era infecção generalizada decorrente da cirurgia. Já fora de perigo, em nova ressonância, ficou surpresa ao ver o laudo que mostrava a endometriose no mesmo lugar. Perplexidade maior veio ao receber a fatura de coparticipação do Ipasem. Ao pedir levantamento detalhado para saber o que era cobrado, constatou que, entre os procedimentos, aparecia histerectomia total, que é a retirada do útero. A comerciante ainda tem o órgão, conforme comprovado em exames. O hospital também fez o lançamento do procedimento não realizado.