“Foi uma noite aterrorizante, a fumaça tomou conta de tudo e nos sufocou. O calor era muito forte, era muita gritaria e vi muita gente pulando do terceiro andar”. Esse é apenas um depoimento impactante de quem sobreviveu ao incêndio na Pousada Garoa, que deixou 10 pessoas mortas na madrugada desta sexta-feira (26), na Avenida Farrapos, em Porto Alegre.
O relato é do morador Marco Aurélio de Souza, 39 anos, que residia no local há pouco mais de um mês com a companheira, Terezinha Fátima Rodrigues Soares, 37. Conforme Souza, os momentos de terror vividos durante a madrugada jamais irão sair da sua memória. Ele conta que estava dormindo quando despertou com os gritos que vinham do prédio ao lado. Ele acordou a esposa e os dois saíram às pressas do local, que já estava tomado pela fumaça.
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No final da manhã, o casal retornou ao prédio para tentar resgatar alguns pertences, quando a irmã de Terezinha Fátima chegou ao local para resgatá-la. Abalada emocionalmente, a companheira de Souza não conseguiu falar. Ao ver a irmã, ambas se abraçaram e choraram.
“Não ia deixar ela morrer aqui”
Jorge Antônio Ferreira, 62, também morava na Pousada Garoa com a companheira Juliana Silva Dias, 43. Eles acordaram quando faltou luz no imóvel, e passaram a ouvir gritos de socorro. Ferreira saiu para tentar entender o que estava acontecendo e chegou a ajudar alguns hóspedes que estavam tentando escapar do prédio em chamas.
Quando o fogo alcançou proporção assustadora, Ferreira decidiu ir atrás da companheira para abandonar o local. “Me trancaram na porta, não queriam me deixar entrar. Mas enfrentei eles, não ia deixar ela [a companheira] morrer aqui. Foi uma tristeza, não gosto nem de lembrar”, recorda. Ferreira não conseguiu identificar quem tentou lhe impedir de retornar ao quarto.
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Quando entrou no prédio, ele conta que pegou a companheira pelo braço e deixou o local. O casal afirma que a moradia era insalubre e que nunca viram alguém do poder público fiscalizar o imóvel. “Isso aqui era só virado em lixo e baratas, só queriam nosso dinheiro, é uma vergonha. Nunca veio ninguém [da prefeitura fiscalizar a construção]”, garante.
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