Em Linha Imperial

IMIGRAÇÃO ALEMÃ: Tataranetos do 1º gerente da Sicredi Pioneira continuam o cooperativismo

Há quase 122 anos em Nova Petrópolis, José Neumann Sênior participou da fundação da primeira entidade privada de crédito do Brasil

Publicado em: 24/04/2024 03:00
Última atualização: 25/04/2024 13:17

Imigração e cooperativismo são quase um sinônimo no Rio Grande do Sul, uma história que foi iniciada pelo padre jesuíta Theodor Amstad em 1902.

Com o apoio de outros 20 imigrantes, o sacerdote fundou em 28 de dezembro de 1902, no salão de bailes de Linha Imperial, em Nova Petrópolis, a Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos de Nova Petrópolis, hoje Sicredi Pioneira. Foi a primeira instituição financeira privada do Brasil.

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Padre Amstad teve ao seu lado Franz Hillebrand, como secretário; Anton Maria Feix no cargo de presidente; e Josef Neumann Sênior na função de gerente. Todos eram oriundos da Boêmia, hoje República Tcheca, e eram falantes da língua alemã.


Gabriel, Bárbara, Morgana e Guilherme herdaram o legado dos fundadores Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Quase 122 anos depois, o legado de Amstad permanece vivo em Linha Imperial. Na família Neumann, os ensinamentos têm passado de geração para geração. As irmãs Morgana Neumann, 28 anos, e Bárbara Neumann Hillebrand, 31, são primas de Gabriel Kuhn Neumann, 14, e Guilherme Kuhn Neumann, 12.

Eles são tataranetos do primeiro gerente da cooperativa e têm na ponta da língua a trajetória da família quando o assunto é cooperar. Josef Neumann Sênior foi gerente até 1910, ano em que assumiu a função José Neumann Filho, que ficou até 1928, quando faleceu. Depois assumiu José Otto Neumann, que já havia sido secretário do pai (José Neumann Filho) e trabalhou na cooperativa por cerca de 50 anos.


José Neumann Sênior Foto: Divulgação/Sicredi

Então a função de gerente passou a ser exercida por Werno Blásio Neumann, tio-avô dos jovens, tendo Guido Otto Neumann, avô dos três, como secretário. "Os nossos pais chegaram a morar em uma das sedes da cooperativa", contam.

Legado preservado

Os seis filhos de Guido, incluindo os pais dos primos, não tiveram relação direta com a cooperativa, embora permaneçam ligados às ações comunitárias de Linha Imperial. Já a nova geração, continua o legado do vô Guido.

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Gabriel, aluno do 9º ano da Escola Estadual Padre Amstad, é tesoureiro da Cooperativa Escolar Amstad. A bióloga Morgana é professora de dança dos grupos iniciais do Böhmerlandtanzruppe e tesoureira da Associação Concórdia de Linha Imperial, além de ter sido uma das fundadoras da Cooperativa Escolar da Escola Bom Pastor. Já Bárbara é coordenadora de núcleos da Sicredi, serviço que faz o elo entre a comunidade e a cooperativa.


Morgana e Bárbara, descendentes do primeiro gerente da primeira cooperativa de crédito do RS Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Em comum, os três participam do Natal Cooperativo, evento que desde 2012 é realizado em Linha Imperial. Em todas as edições, o espetáculo fala sobre o número sete, em alusão aos sete princípios do cooperativismo.

No ano passado, a peça da escritora Célia Weber Heylmann foi intitulada Os 7 Anjos e as Estações de Vivaldi. Foi uma homenagem aos 300 anos da composição "As Quatro Estações de Vivaldi".

A iniciativa celebra a integração entre o espírito cooperativo e religioso do Natal e conta com o envolvimento da comunidade, com a participação de 200 pessoas.


Natal Cooperativo de 2023 de Linha Imperial Foto: Divulgação

Linha Imperial vive lições de Amstad até hoje

Gabriel conta que guarda um ensinamento do padre Amstad. "Ele sempre dizia que se tem uma pedra no caminho, fica mais fácil remover em grupo, com a ajuda de várias pessoas". O jovem explica que isso vale para tudo na vida, assim como as atividades domésticas - afinal, se todos ajudam, as tarefas ficam prontas logo.

Segundo Bárbara, dificilmente algum morador de Linha Imperial saberá listar os sete princípios do cooperativismo: adesão voluntária e livre; gestão democrática; participação econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação; e interesse pela comunidade.


Memorial do Padre Theodor Amstad Foto: Débora Ertel/GES-Especial

No entanto, a prática mostra que a comunidade vive esses ideais de maneira espontânea, onde cooperar faz parte do dia a dia. "Aqui faz parte da característica das pessoas. Os princípios acontecem mesmo que não se elenquem", destaca.

Para Bárbara, a comunidade se sente feliz com o investimento local feito para preservar a história do cooperativismo. Linha Imperial conta o Memorial Amstad, inaugurado em maio de 2023, e a Casa Cooperativa. "O vô sempre contava essa história na família e quando chegava na parte depois dele, a história meio que parava. Hoje ele pode ter orgulho dos netos que continuam o cooperativismo", finaliza Morgana.


Memorial do Padre Theodor Amstad Foto: Débora Ertel/GES-Especial

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