“Querida Suleica! Alguém tinha que trabalhar, enquanto eu pesquisava e alguém tinha que cuidar da empresa, enquanto eu escrevia. Dedico a ti e em memória de meu pai estas lembranças de 180 anos da colonização alemã.”
É assim que o pesquisador Erni Guilherme Engelmann, falecido em 2023, começa a trilogia “A saga dos alemães, do Hunsrück para Santa Maria do Mundo Novo”, que tem edição bilíngue (alemão/português). Os livros foram lançados em 2004, 2005 e 2007.
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A empresária e presidente da Apae de Igrejinha Suleica Engelmann, 71 anos, é a viúva de Engelmann e tornou-se parceira e cúmplice da paixão que o marido tinha pela história da colonização.
A trilogia é um marco para a história do Vale do Paranhana. Retrata a chegada das famílias dos imigrantes e todos os desafios enfrentados.
Natural de Três Coroas, Suleica acompanhou de perto o trabalho do marido para reconstruir a história dos antepassados. O casal, que não teve filhos, casou em 1981. A partir daí, ela passou a conviver com o interesse e a curiosidade de Engelmann pelas memórias da imigração.
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“Eu conheço todos os cemitérios, visitei todas as comunidades evangélicas. Eu gostava de ir com ele para o interior de carro. Este era o nosso passeio de domingo”, recorda.
Engelmann levou dez anos pesquisando até que juntou todo o material que deu origem aos três livros. De acordo com Suleica, ele esperava ansiosamente pela comemoração dos 200 anos, o que não foi possível. Para deixar registrado o seu legado para Igrejinha e região, os estabelecimentos comerciais da família receberão uma placa contando a sua história.
Lembranças familiares remontam aos bailes de Linha Café, no interior de Três Coroas
Vinda da família Petry, Suleica também coleciona suas memórias, que vão além da trilogia publicada pelo esposo. Com a família falando o dialeto alemão, a língua faz parte da sua rotina até hoje, sendo uma herança valiosa.
Seus avós, Ceciliano e Pauline Hermann, tinham um salão de baile em Linha Café, interior de Três Coroas. Suleica, junto com os pais Alzemiro e Aracy Petry e o irmão, iam de bicicleta até o local, onde a família ajudava a organizar a festa.
Nesta época, como não havia cobrança de ingresso, só podia dançar ao som da bandinha típica quem dava uma contribuição. Os dançarinos recebiam uma fitinha mimosa, presa junto à roupa, o que identificava o direito à pista de baile.
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Nas festas, como conta Suleica, participava a família inteira e, quando as crianças queriam dormir, eram acomodadas em um dos quartos que ficava junto ao salão. “O colchão era de palha. Era a coisa mais divertida encher aqueles colchões”, diz com um sorriso no rosto.
Na colônia ela lembra que o forno era de barro, utilizado para fazer os pães, cucas e assados de carne de porco. Segundo Suleica, o forno na casa da mãe, falecida em 2022, foi atingido pela enchente. Restaram os tijolos, que foram guardados por uma sobrinha para reaproveitar depois.
“Tenho saudades dos almoços em família na casa dos meus pais em Três Coroas e na mãe do Erni. Estes almoços sempre foram com comida alemã feita pelas mães”, diz.
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Como não conseguiram ter herdeiros, apesar de terem vontade de aumentar a família, Suleica e o esposo sempre foram muito ligados aos parentes.
“Nossos sobrinhos e sobrinhos netos são como se fossem filhos e netos. Sempre estiveram presentes em nossas vidas e ainda estão”, comenta. Para ela, o vínculo familiar é uma cultura que também foi deixada pelos imigrantes.