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IMIGRAÇÃO ALEMÃ: Em Canoas, a família Gewehr se orgulha da herança alemã

Das bandinhas às receitas, casal preserva e transmite o legado dos imigrantes

Publicado em: 25/07/2024 09:28
Última atualização: 25/07/2024 09:29

Canoas é a terceira maior cidade do Rio Grande do Sul, com 347 mil habitantes. Em meio a todo esse tamanho, com pessoas oriundas de vários lugares, a família Gewehr garante: a cidade também é marcada pela presença da imigração alemã.


Rúbia, Sara, Lucas, Luiz Roberto, Sophia, Maia e Bianca gostam da cultura alemã Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Os empresários Luiz Roberto Gewehr (Beto), 57 anos, e Rúbia Chaves Gewehr, 49, residem no bairro Marechal Rondon. Eles têm cinco filhos, três de Beto, de um relacionamento anterior, e duas filhas juntos. A família costuma ser chamada no município quando o assunto é cultura germânica.

O casal já esteve presente na organização da Comenda Alemã de Canoas, que ocorre há 26 anos; na Noite Alemã, realizada anualmente; e ficou responsável pela parte cultural da 1ª Oktoberfest de Canoas, promovida em 2017.

Além disso, volta e meia eles são procurados pelas escolas que buscam, em especial, empréstimo de objetos.

Tudo começou em 1952, quando os pais de Beto vieram de Harmonia, no Vale do Caí, para morar em Canoas. Hugo e Ilka Gewehr, já falecidos, abriram um armazém com a cara da colônia no meio da cidade. “Vendia tamanco, feijão, arroz, agulha, panela, tinha de tudo”, lembra Beto.

Primeiro idioma foi o alemão

Até os 4 anos, Beto falava apenas o alemão aprendido com os pais. Hoje, se lembra de algumas coisas da língua materna quando visita os parentes no interior, já que em Harmonia a comunicação continua em Hunsrik, o que não acontece em Canoas.

O gosto pela herança deixada pelos imigrantes está presente na rotina e atividades da família. Lucas Gewehr, 32, filho de Beto, conta que dançou no antigo grupo da Ulbra, o Immer Freunde, e depois no Tanz mit uns, do Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre. Ele é casado com Bianca Gewehr, 30 anos, e tem uma filha, Maia, de 3 anos.

Questionados se a família ouve bandinha, Sophia, de 16 anos, até comenta: “Eu não aguento mais. O pai só ouve isso o dia inteiro”, o que arranca risos da família. “Liga o carro e já está na Rádio Imperial”, acrescenta Lucas, referindo-se ao gosto musical do pai.

A herança alemã também está presente nas receitas. Beto produz, a pedidos da família, Spritzbier no verão. E aprecia joelho de porco. 

Apaixonada pela cultura germânica

Rúbia Chaves Gewehr não tem ascendência alemã, mas é natural de São Leopoldo e cresceu em meio à cultura deixada pelos imigrantes. “Eu sempre gostei da cultura. Sou apaixonada”, garante.

Ela conta que o falecido pai tocava na antiga banda da prefeitura e o dia 25 de julho sempre foi muito comemorado. “Fiquei muito triste porque o museu estragou com a enchente”, comenta, referindo-se ao Museu Visconde de São Leopoldo, atingido pela cheia de maio. De acordo com ela, a cuca cremosa é uma receita que aprendeu e ainda hoje faz.

Inclusive, Rúbia é uma incentivadora para que os filhos aprendam a cultura e conta que já deu um aviso para Sophia: “Ela tem até os 18 anos para aprender alemão se quiser ganhar um carro.”

No ano passado, Beto e Rúbia foram os responsáveis por organizar o 3.º Encontro da Família Gewehr, na Paróquia São Cristóvão.


Beto e Rúbia guardam Bíblia escrita em alemão gótico Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Cantinho especial

A família conta com uma peça nos fundos da casa repleta de objetos que remontam à imigração alemã. Tem tamanco de madeira, coleção de canecos de chope e duas mesas especiais. Uma delas foi feita com a base de uma moenda, que virou uma bancada junto à churrasqueira, e a outra era uma carreta puxada por bois.

Ambas foram trazidas do interior, de familiares de Beto. O espaço ainda conta com uma canga de bois, uma plantadeira de milho e um ferro de passar a brasa, além de outros objetos. Eles guardam também uma Bíblia escrita em alemão gótico que pertenceu aos avós de Beto, impressa em 1912.

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