Conhecido como um gremista “doente”, Gaspar Staudt, 64 anos, tem uma outra paixão que o acompanha há 55 anos. Desde os 9 anos trabalha como padeiro, atividade que começou na Panificadora Ivoti, a primeira do município.
“Se entregar uma enxada pra ele, nem sabe por onde segura. Agora se dá cinco quilos de farinha, ele sabe o que fazer”, explica a esposa Adelurdes Schallenberger Staudt, 62. Casados há 42 anos, eles têm três filhas: Monalisa, Tiessa e Letíca.
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De uma família de 11 irmãos, aos 11 anos parou de estudar para se dedicar à padaria em turno integral. Desde criança, já fazia a massa e controlava a temperatura do forno. “Com 9 anos entregava pão de carroça e de cavalo”, conta.
Foi com a mãe, Maria Frida Staudt, que aprendeu a receita de bolo de chocolate que faz até hoje para seus clientes. “Eu gosto é de trabalhar, de fazer as coisas fresquinhas e ver que o pessoal gosta”, diz ele.
Aliás, quando assunto são as receitas, Gaspar explica onde guarda o modo de fazer cada prato. “Receita tenho tudo na cabeça”, garante. “Às vezes eu quero fazer uma receita de outro ano. Aí começo a pensar, pensar e faço de novo”, resume.
Descendente dos imigrantes alemães, fala o Hunsrik e a cada frase dita em português costuma concluir com um “iô” ao final. A expressão é típica de quem teve o “alemão da colônia”, como costumam dizer, como língua materna.
O produto de maior sucesso do padeiro é a cuca de linguiça, receita que Gaspar não revela de jeito nenhum. “Tem um esquema para fazer”, comenta, entre risos. “Dá um pouco de trabalho como eu faço, mas é bem recheada. Tem até padaria que indica para comprar comigo, pois eles não fazem mais”, explica.
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Há três anos, a alegria de atender os pedidos da clientela foi substituída pela preocupação e muitas sessões de hemodiálise. Gaspar teve insuficiência renal, o que mudou sua vida radicalmente, obrigando-o a vender a padaria. “Foi bem difícil parar de trabalhar”, conta ele, que sempre teve no trabalho o maior legado deixado de herança por seus antepassados.
A situação era tão crítica que o morador de Ivoti estava na fila de transplante e chegou a ser chamado para receber um novo órgão por três oportunidades. Mas o procedimento não saía porque sempre surgia um impedimento.
Em meio ao tratamento, em casa produzia agrados para a equipe médica e os outros pacientes. Assim, levava bolos, roscas, cuca e outras delícias para Porto Alegre, deixando a sessão de hemodiálise menos difícil.
Da fila de transplante para o trabalho
Em dezembro de 2023, ao buscar atendimento médico por um problema no braço, recebeu uma notícia inesperada: os rins tinham voltado a funcionar. “O médico me disse que isso era um milagre, pois não tinha explicação”, lembra.
De lá para cá, o forno acoplado ao fogão a lenha instalado nos fundos da casa está sempre aquecido. E como a notícia da cura se espalhou pela cidade, os pedidos para o padeiro voltar a vender seus produtos se tornaram mais frequentes.
Assim, desde julho Gaspar oferta em sua casa uma variedade de panificados, receitas que foi desenvolvendo ao longo da vida. Com a ajuda da filha Tiessa Staudt, 31, divulga o que tem para venda nas redes sociais.
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Gaspar aposta que o neto de 5 anos, que vive no Peru, tem futuro na padaria. O menino gosta de ajudar cozinhar e já sabe quebrar ovos com maestria. “Quando ele vem, sempre me ajuda”, conta.