BICENTENÁRIO
IMIGRAÇÃO ALEMÃ: Célia Heylmann, a guardiã da memória em Linha Imperial, Nova Petrópolis
Ex-professora é descendente do primeiro morador da localidade, Johann Grings
Última atualização: 25/07/2024 09:31
Célia Weber Heylmann, 58 anos, é uma apaixonada pela história e adotou para si uma missão: manter vivas as memórias da sua família e da região onde mora. Professora de língua alemã e português aposentada, é casada, tem um filho e uma neta.
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Figura conhecida em Linha Imperial, Nova Petrópolis, há anos ela é a roteirista do espetáculo Natal Cooperativo, realizado desde 2012 na localidade.
Foi durante 30 anos docente no Estado e pelo período de 38 anos atuou na rede privada, organizando nove intercâmbios para a Alemanha, em especial, para Emmelshausen, cidade coirmã de Nova Petrópolis. Agora ela se dedica a um outro projeto: preservar a história de Linha Imperial, que passa pela trajetória da própria família.
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Ela é descendente do primeiro morador de Linha Imperial, o imigrante Johann Grings, natural de Wiebelsheim, da região do Hunsrück. Ele chegou ao Brasil em 1862 com a missão de construir moinhos. “O meu tataravô veio com a ideia de voltar, mas não voltou. Casou e ficou por aqui”, conta.
Ela sempre teve presente seu passado familiar, pois Célia cresceu ouvindo histórias sobre o assunto. Mas foi na faculdade que seu interesse e sua ligação com a imigração ficaram mais íntimos.
Em 1983 iniciou a graduação em Letras na Unisinos e fez sua árvore genealógica. Sobrinha do arcebispo emérito da Arquidiocese de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, e do ex-capelão da Aeronáutica Antônio Guilherme Grings (falecido em 2008), conta que recebeu o apoio dos tios para melhorar seu alemão e fazer pesquisas sobre as origens da família.
Contato com a Europa
Assim, passou a trocar cartas em alemão com amigos dos tios que viviam no país europeu. Além disso, Célia decidiu escrever seu trabalho de conclusão de curso em alemão. “Aí me dei conta que tinha tanta coisa para não esquecer e que precisava fazer alguma coisa para que essas coisas não fossem esquecidas”, relembra.
Em meio a isso, o tio Guilherme (assim ele era chamado na família) havia escrito um livro sobre o Padre Theodor Amstad, patrono do cooperativismo. Na obra, ele indicava que o sacerdote rezava missas de três a quatro vezes por ano em Linha Imperial, onde até hoje o sacerdote é lembrado com carinho.
O templo funcionou de 1868 a 1897. O detalhe é que a antiga igrejinha (pois uma nova foi construída na localidade) ficava dentro das terras da família de Célia. Por isso também que há um cemitério nos arredores, onde foram sepultados os primeiros moradores. Toda essa memória é guardada por Célia.
“O alicerce desta igreja representa tudo aqui para mim”
Com o tempo, da capela onde Amstad rezava missas sobraram apenas as fundações. Mas isso foi suficiente para a professora aposentada dar início ao seu projeto de manter viva a memória de sua terra natal.
“Eu recebi a doação de uma casa enxaimel, de Linha Temerária, exatamente do mesmo tamanho que era a capela”, relata. O imóvel foi desmontado e trazido para Linha Imperial. Assim, a capelinha ressurgiu e se transformou em uma espécie de museu, onde vários objetos sacros são guardados.
Há documentos e lembranças dos dois religiosos Grings, além de peças que os próprios moradores da localidade não tinham mais o desejo de guardar e Célia recolheu. Um deles é um missal de 1862, em escrita gótica.
“A ideia é formar uma espécie de vilarejo aqui”, explica. Este lugar é o Memorial Hunsrücker, que hoje já conta, além da capela, com uma pequena escola, uma casa e uma serraria, que pertencia à família.
Em breve, o local deve receber outra casa enxaimel. O plano é construir também um café, que até o próximo ano possa receber turistas.
O espaço ainda terá o Caminho dos Mós, proposta que reúne as rodas de moinho fabricadas pelo tataravô de Célia. As pedras foram trazidas para o local e recebem identificação.
Por enquanto, Célia acolhe visitas de escolas e de pessoas que gostam de conhecer as memórias. Segundo ela, não há interesse comercial, mas de preservação.
“Vamos continuar enquanto nós conseguirmos. Os túmulos eu cuido, que eram do meu tataravô e do bisavô. O que eu temo é que os cemitérios possam desaparecer”, ressalta. “Tem muita coisa ainda para trazer para cá, mas precisamos de espaço para colocar os objetos, pois todos têm uma história”, conclui.