Foi concluída a perícia feita em uma garrafa plástica utilizada pela advogada Alessandra Dellatorre, 29, no dia de seu desaparecimento, em 16 de julho de 2022, em São Leopoldo. O laudo, finalizado nesta semana, aponta a presença de uma mistura de substâncias compatíveis com uma bebida energética à base de café e um medicamento indicado para tratar déficit de atenção.
“Não foi constatada a presença dos venenos relacionados no ofício de solicitação da perícia, tampouco daqueles pesquisados após varredura toxicológica”, informam as peritas Viviane Fassina e Clarissa Bettoni, responsáveis pelo laudo. O medicamento identificado seria frequentemente usado por Alessandra.
Moradora de São Leopoldo, a jovem sumiu depois de sair de casa, no bairro Cristo Rei, para fazer uma caminhada. O objeto encontrado pelo pai de Alessandra no trajeto, em uma lixeira de rua, foi entregue à Polícia Civil e enviado ao Instituto-Geral de Perícias (IGP) dez dias após o desaparecimento.
Conforme as peritas, as condições em que a garrafa foi encontrada – aberta e com apenas poucos resíduos de coloração amarronzada internamente – e a amplitude de substâncias pesquisadas, exigiram um tipo de análise de alta complexidade.
“Requerendo tempo, estudos, desenvolvimento de metodologias e equipamentos de sensibilidade analítica adequadas”, explicam. “O interior da garrafa encaminhada foi lavado com metanol, sendo este lavado analisado por cromatografia gasosa e cromatografia líquida acopladas a espectrometria de massas.”
Investigações seguem
O advogado Matheus Trindade, que lidera a equipe contratada pela família de Alessandra para auxiliar nas buscas, considera que o resultado da perícia ajuda a explicar o longo trajeto que teria sido percorrido pela jovem no matagal próximo à Unisinos, conforme indicaram cães farejadores.
“Demonstra que seria possível ela ter percorrido aquele grande percurso em um único dia porque o medicamento, combinado com um suplemento de cafeína, vai dar ganho físico considerável, retardar bastante a fadiga muscular”, analisa. “A substância [bebida energética] é proibida no meio do esporte exatamente porque você pode ter ganho físico.”
Para o advogado da família, o resultado também afasta a hipótese de que o conteúdo da garrafa pudesse ter levado à morte de Alessandra. “Ainda partindo da questão de que ela saiu provavelmente desorientada de casa e que, com essa combinação, teria capacidade física para se locomover bastante, seguem as nossas investigações. Este laudo vem, no final das contas, só para enfraquecer, ainda mais, a tese de suicídio que tinha sido sustentada pela investigação principal no início”, destaca, referindo-se à principal linha de investigação da Polícia Civil.
Titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), o delegado André Serrão não comenta o andamento da apuração, mas pontua que, para a Polícia, a principal hipótese é de que o desaparecimento de Alessandra não esteja relacionado a algum crime. “As investigações seguem normalmente, e não se é possível concluir nada com base no laudo”, frisa.
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Buscas e recompensa
Moradora do bairro Cristo Rei, Alessandra foi vista pela última vez na tarde de 16 de julho de 2022, quando saiu de casa para fazer uma caminhada pelas proximidades. Aquela, segundo a família, era a segunda caminhada da jovem no dia. Um comportamento habitual, relatam os parentes. A diferença, naquele sábado, foi o trajeto escolhido por Alessandra para a caminhada. Normalmente, segundo a família, a jovem ficava apenas na Avenida Unisinos.
No dia do desaparecimento, de acordo com testemunhas, ela teria sido vista entrando em área de mata na Estrada do Horto, que liga São Leopoldo a Sapucaia do Sul. Já nas primeiras horas da confirmação do desaparecimento, Polícia Civil, Brigada Militar, Exército, Corpo de Bombeiros, familiares e moradores fizeram buscas pela advogada. O trabalho intenso na primeira semana, que se concentrou na área de mata, contou com o apoio de cães farejadores e helicópteros. Sozinhos, os pais também fizeram incursões pelo local.
No início de agosto, equipes voltaram para mais uma varredura na mata, mas não encontraram nenhum vestígio da jovem. Cartazes com a foto de Alessandra foram distribuídos por diversos pontos de São Leopoldo e também de cidades vizinhas. Além disso, um telefone de contato direto com a família foi disponibilizado, por meio do número (51) 99771-5838 e criado o perfil no Instagram @procurandoale.
Mobilizados, os pais de Alessandra chegaram a oferecer uma recompensa de R$ 15 mil a quem a entregasse viva à família. Informações sobre o paradeiro da advogada podem ser repassadas à Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121 ou à Brigada Militar pelo 190.