O debate sobre inteligência artificial ganha protagonismo no Prêmio Jabuti, com a desclassificação de uma obra ilustrada pelo designer Vicente Pessôa, do Clube de Literatura Clássica, uma editora da cidade de Dois Irmãos.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) tomou a decisão de desclassificar a edição de “Frankenstein”, que estava entre os semifinalistas da categoria Ilustração do Prêmio Jabuti. O motivo foi a utilização de inteligência artificial (IA) na criação das imagens, mais especificamente, do programa MidJourney.
Editora afirma que uso de IA não foi ocultado
“Na inscrição não tinha nenhum campo para preencher, que pudéssemos indicar que havia o uso de inteligência artificial. Mas no livro, que enviamos para eles, constava o uso do MidJourney, inclusive esse foi o primeiro livro completamente ilustrado por IA, com ampla divulgação pública deste fato”, revela Lorenzo Fioreze, sócio e diretor de marketing do Clube de Literatura Clássica.
Uso de IA nas produções será debatido pela CBL
A obra, que agora se encontra fora da corrida pelo Prêmio Jabuti, gerou um intenso debate sobre a fronteira entre a criatividade humana e a intervenção tecnológica. A resposta da CBL, emitida por nota, mencionou que a desclassificação se deu por falta de previsão no regulamento e que a discussão sobre o uso de IA nas produções artísticas será tema para as próximas edições do prêmio.
Debate filosófico
“Eu entendo que é um debate filosófico, mas discordo da desclassificação, pois é uma técnica artística. Os comandos que o Vicente teve que usar, requerem amplo conhecimento de design, história da arte, da própria história que estava sendo ilustrada. O MidJourney é apenas uma ferramenta, como o photoshop também é”, argumenta Fioreze, expressando a perspectiva da editora.
A decisão da Câmara Brasileira do Livro, em meio a um cenário global de debates sobre os direitos autorais no contexto da IA, coloca em xeque não apenas a obra em questão, mas também o papel do artista na era digital. Conforme a CBL, o Prêmio Jabuti, em suas futuras edições, promete trazer respostas para essa indagação, enquanto o embate entre a arte tradicional e a inovação tecnológica continua a moldar o panorama cultural contemporâneo.
Destacando a complexidade da questão, Lorenzo encerra com a sua perspectiva sobre o tema. “Não faz sentido criar uma categoria nova para obras com IA. O que precisa é ser reconhecido o papel do artista, que é conceber a arte e usar as técnicas que ele tem ao seu dispor, e isso inclui a inteligência artificial. Existe uma confusão sobre o que é, de fato, o trabalho artístico”, conclui.
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