Um espaço de abrigo e cuidado para animais silvestres machucados e em situação de perigo. O Gramadozoo há anos serve como esse refúgio. Aves, mamíferos, répteis. São inúmeros os animais que foram salvos graças ao trabalho realizado no zoo. Com recursos próprios da empresa – sem verba pública, a equipe tem um importante papel na preservação da fauna regional, já que o intuito é fazer com que os bichos voltem à natureza.
Um dos responsáveis por essa missão é o veterinário Jorge Lima. Ele conta que no ambulatório que existe no local consegue realizar alguns procedimentos para ajudar os animais, que chegam vítimas de atropelamento, com patas machucadas, órfãos. Os gambás são os que mais aparecem por lá precisando de cuidados.
De volta ao habitat
Um dos últimos animais que voltou à natureza, após passar por um período no zoo, foi um urubu-de-cabeça-preta. Ele foi levado por servidores da Prefeitura de Farroupilha por estar com a pata machucada, com suspeita de fratura. Uma luxação foi identificada, ele foi tratado e se recuperou. Em cerca de um mês, pôde voltar ao seu habitat.
“O urubu é um animal marginalizado e ninguém pensa em auxiliar, é visto como ruim. Só que ele tem um papel muito importante de limpar o ambiente. Se tem uma carcaça na beira da estrada, ele vai se alimentar daquilo. Sem o urubu, o mundo teria muito mais resíduos, que podem causar proliferação de doenças”, esclarece o veterinário.
O profissional comenta também que a ave possui um sistema digestivo que faz com que ela não passe mal ao ingerir esses “alimentos”. “Temos algumas aves de rapina que, quando se alimentam dessas carcaças, acabam se intoxicando”, revela.
A equipe está realizando, atualmente, o tratamento de um tucano-de-bico-verde que está em fase de adaptação. A ave chegou no zoológico como filhote órfão. Como é nativo da região, o veterinário vai acompanhar a troca de penas do animal para fazer uma avaliação geral e verificar se ele pode voltar a voar livre por aí.
Animais resgatados e que viviam em cativeiros
A educação ambiental com os grupos que visitam o parque é outra linha de atuação do Gramadozoo. Geralmente, a equipe leva um dos animais e conta a história dele e como foi parar no zoo. E são inúmeras as histórias.
Um carcará, uma ave de rapina, era criado dentro de um apartamento. Quando foi resgatado, praticamente não sabia voar e não tinha condições de viver na natureza. Tem também filhotes de jabutis que foram enviados em uma caixa via transportadora.
Até a própria onça que mora no local – o animal símbolo do zoo. Jorge comenta que ela vivia em um zoológico irregular dentro de um hotel, em Santa Catarina. A felina era alimentada com restos de comida e chegou com quase 30 quilos a mais do que o peso ideal.
Como o Gramadozoo não compra animais, todos os que estão no parque são porque não conseguem ser reinseridos na natureza. Cerca de 70% viviam em cativeiro ou eram alvo de contrabandistas, os outros 30% são os resgatados. “Somos um zoo 100% brasileiro”, adianta.
Os animais são destinados ao parque através da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), que acolhe conforme a possibilidade.
Jorge está no zoológico desde fevereiro de 2023 e é especialista na reprodução de aves. Emas e araras já nasceram através desse trabalho, assim como tucanos e até mesmo tartarugas.
No trabalho diário no local, o profissional fica responsável pelo manejo de todos os animais, cuidando da parte de nutrição, verificação dos recintos e também em uma medicina preventiva. “Esses aspectos são fundamentais para que os animais vivam bem”, atesta.
Monitoramento será por câmeras
Um dos projetos que o Gramadozoo está desempenhando é a construção de um recinto para os animais sem contato com humanos. A ideia é que esse trabalho regenerativo seja ainda mais eficaz.
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Jorge cita que será um ambiente controlado através de câmeras para monitoramento constante, e que nem a própria equipe deve ficar manuseando os bichos. “Vamos conseguir acompanhar a evolução do tratamento, como estão se alimentando, mas sem causar nenhuma aproximação. Para que esses animais de vida livre não se acostumem com a presença de pessoas”, relata.
Para o veterinário, a qualidade de vida desses animais após a soltura é o principal objetivo. “Na natureza, o gambá vai aprender a se alimentar sozinho. Mas quando o animal chega aqui debilitado, a gente acaba pegando ele, alimentando o filhote na mão, recebe frutas cortadas. Com o novo recinto, teremos um espaço que vai se aproximar ao máximo da natureza. Vamos colocar o alimento, mas escondido, pendurado, simular como ele vai encontrar no ambiente depois de solto”, salienta.
Projeto do recinto foi protocolado junto à Sema e aguarda análise, mas não tem um prazo para ser colocado em prática. Inicialmente, o intuito era que os visitantes pudessem chegar próximo aos animais, com um vidro que bloqueasse a visão deles, mas Jorge reforça que os cheiros impactariam e, assim, os visitantes terão acesso às câmeras para acompanhar os bichinhos.