DIVERGÊNCIAS

Veja o que pensam as entidades da Região das Hortênsias sobre o possível fim da escala 6x1

Por ser uma cidade turística, com empreendimentos com funcionamento, em sua maioria, nos sete dias da semana, caso a PEC seja aprovada nos próximos meses, mudanças e impactos serão sentidos

Publicado em: 23/11/2024 14:37
Última atualização: 23/11/2024 16:04

Nas últimas duas semanas, um assunto tomou as redes sociais: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da escala 6x1 - seis dias de trabalho, um de descanso. A proposta parlamentar é a alteração para quatro dias trabalhados e três de folga.

Grande maioria das empresas segue a jornada de 44 horas Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

O texto atingiu no dia 14 de novembro o número de assinaturas necessário para começar a tramitar na Câmara dos Deputados. O projeto é de autoria da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), que formalizou uma iniciativa do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), do vereador eleito carioca Rick Azevedo (Psol).

O protocolo, contudo, é apenas o início. O documento ainda precisará passar por comissões e também pelo Senado.

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Na região

Um levantamento realizado pela Nexus Pesquisa e Inteligência de Dados, entre os dias 7 e 12 de novembro, mostra que 67% dos usuários de cinco plataformas e redes sociais da Internet, são favoráveis ao fim dessa escala. Foram analisadas em torno de 30 mil postagens.

O tema foi debatido, inclusive, por grupos de Gramado, que possuem opiniões divergentes sobre a escala 6x1. Por ser uma cidade turística, com empreendimentos com funcionamento, em sua maioria, nos sete dias da semana, caso a PEC seja aprovada nos próximos meses, mudanças e impactos serão sentidos no município.

O vereador Professor Daniel (PSDB) foi um dos políticos que abordou o assunto nesta semana e abriu em sua rede um questionário para a comunidade deixar suas opiniões. "Esse projeto, se tramitar e for aprovado, vai impactar na vida de todos, mas muito em especial na cidade de Gramado, onde a maioria trabalha na escala 6x1", diz.

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Entre as manifestações deixadas, pode-se encontrar divergências. "Não vejo problema na escala 6x1, trabalhei muito tempo nela", diz um. Outro morador afirma que "a proposta é essencial para o futuro da economia. Ninguém mais quer se submeter a jornadas de trabalho tão intensas".

Outras falas recorrentes são a necessidade desse tempo maior de descanso para momentos de lazer e com as famílias e as dúvidas em relação aos impactos econômicos para empresários, que precisariam fazer mais contratações.

O que pensam os sindicatos e associações

A reportagem entrou em contato com as entidades regionais relacionadas aos trabalhadores, para ouvir a opinião sobre a PEC 6x1. O Sindtur Serra Gaúcha e o Sindilojas Hortênsias informaram que preferem não se manifestar no momento. Já a CDL Gramado não retornou aos questionamentos.

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Fabiano Contini, presidente da Achoco:

“Tem que ver como será implantada, se terá flexibilização para regiões turísticas. Em um país continental, não podemos mais ter leis que beneficiem um setor e prejudiquem outros. Entendo que, por exemplo, em São Paulo, o trabalhador leve duas até quatro horas em deslocamento, mas não é o caso aqui.

Em uma região turística como a nossa, que temos falta de mão de obra em todos os setores, sem falar em qualificação que está precária, precisamos atender o turista os sete dias da semana. Vamos ser muito afetados de início, tendo até redução de salários e talvez o fechamento de algumas empresas. Vejo que vamos ter que nos adaptar com horários.

Investir em automação será talvez uma das soluções. Acredito que os micro e pequeno empresários vão sentir muito esta mudança. Discordo de quem diz que a nossa região vai ter aumento de mão de obra.”

Marcelo Wazlawick, presidente da Abrasel Hortênsias:

“Há um desejo legítimo das pessoas de trabalhar menos e ganhar mais. No entanto, para que isso se torne realidade, é fundamental aumentar a produtividade do trabalho em nosso País, ou seja, alcançar entregas maiores em menos tempo. Também sabemos que, de forma imediata, os custos da mão de obra no regime 5x2 poderiam aumentar em mais de 20%, agravando-se ainda mais no caso do regime 4x3 sugerido.

Não basta apenas tentarmos argumentar com aqueles que defendem os trabalhadores acreditando, com uma visão mais radical, que o empreendedor abusa do proletariado, explicando que podemos quebrar ou que enfrentamos dificuldades para gerar lucro suficiente desde a pandemia.

Muitas vezes, essas pessoas não compreendem ou não acreditam nessas dificuldades, especialmente se nunca viveram a complexa realidade de ser um proprietário em um país com tantos desafios fiscais, trabalhistas e econômicos.”

Rodrigo Callais, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado (Sintrahg):

”Somos totalmente favoráveis ao fim dessa jornada, inclusive, já apoiamos esse Movimento VAT e participamos. Enquanto sindicato sabemos bem a realidade dos trabalhadores e o quanto essa jornada 6x1 é prejudicial, seja pelo convívio social, familiar, que a pessoa perde, seja pela saúde mental.

Cada vez mais temos pessoas da categoria com graves problemas, isso em parte, fruto desse trabalho exaustivo, onde a pessoa tem apenas um dia para fazer todos seus deveres fora da profissão. Em Gramado e região, conhecemos isso e é muito perceptível a lógica de que a pessoa tem que trabalhar, trabalhar, trabalhar, principalmente nessas épocas de final de ano, quando as pessoas vivem apenas para o trabalho. E isso é naturalizado, como se fosse algo normal e fizesse parte. Mas as pessoas têm o direito de ter mais dias de folga e descanso.

A redução de jornada é uma necessidade histórica, já passou do tempo dos trabalhadores terem maior qualidade de vida. E nós vamos acompanhar."

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