Nas últimas duas semanas, um assunto tomou as redes sociais: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da escala 6×1 – seis dias de trabalho, um de descanso. A proposta parlamentar é a alteração para quatro dias trabalhados e três de folga.
O texto atingiu no dia 14 de novembro o número de assinaturas necessário para começar a tramitar na Câmara dos Deputados. O projeto é de autoria da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), que formalizou uma iniciativa do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), do vereador eleito carioca Rick Azevedo (Psol).
O protocolo, contudo, é apenas o início. O documento ainda precisará passar por comissões e também pelo Senado.
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Na região
Um levantamento realizado pela Nexus Pesquisa e Inteligência de Dados, entre os dias 7 e 12 de novembro, mostra que 67% dos usuários de cinco plataformas e redes sociais da Internet, são favoráveis ao fim dessa escala. Foram analisadas em torno de 30 mil postagens.
O tema foi debatido, inclusive, por grupos de Gramado, que possuem opiniões divergentes sobre a escala 6×1. Por ser uma cidade turística, com empreendimentos com funcionamento, em sua maioria, nos sete dias da semana, caso a PEC seja aprovada nos próximos meses, mudanças e impactos serão sentidos no município.
O vereador Professor Daniel (PSDB) foi um dos políticos que abordou o assunto nesta semana e abriu em sua rede um questionário para a comunidade deixar suas opiniões. “Esse projeto, se tramitar e for aprovado, vai impactar na vida de todos, mas muito em especial na cidade de Gramado, onde a maioria trabalha na escala 6×1”, diz.
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Entre as manifestações deixadas, pode-se encontrar divergências. “Não vejo problema na escala 6×1, trabalhei muito tempo nela”, diz um. Outro morador afirma que “a proposta é essencial para o futuro da economia. Ninguém mais quer se submeter a jornadas de trabalho tão intensas”.
Outras falas recorrentes são a necessidade desse tempo maior de descanso para momentos de lazer e com as famílias e as dúvidas em relação aos impactos econômicos para empresários, que precisariam fazer mais contratações.
O que pensam os sindicatos e associações
A reportagem entrou em contato com as entidades regionais relacionadas aos trabalhadores, para ouvir a opinião sobre a PEC 6×1. O Sindtur Serra Gaúcha e o Sindilojas Hortênsias informaram que preferem não se manifestar no momento. Já a CDL Gramado não retornou aos questionamentos.
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Fabiano Contini, presidente da Achoco:
“Tem que ver como será implantada, se terá flexibilização para regiões turísticas. Em um país continental, não podemos mais ter leis que beneficiem um setor e prejudiquem outros. Entendo que, por exemplo, em São Paulo, o trabalhador leve duas até quatro horas em deslocamento, mas não é o caso aqui.
Em uma região turística como a nossa, que temos falta de mão de obra em todos os setores, sem falar em qualificação que está precária, precisamos atender o turista os sete dias da semana. Vamos ser muito afetados de início, tendo até redução de salários e talvez o fechamento de algumas empresas. Vejo que vamos ter que nos adaptar com horários.
Investir em automação será talvez uma das soluções. Acredito que os micro e pequeno empresários vão sentir muito esta mudança. Discordo de quem diz que a nossa região vai ter aumento de mão de obra.”
Marcelo Wazlawick, presidente da Abrasel Hortênsias:
“Há um desejo legítimo das pessoas de trabalhar menos e ganhar mais. No entanto, para que isso se torne realidade, é fundamental aumentar a produtividade do trabalho em nosso País, ou seja, alcançar entregas maiores em menos tempo. Também sabemos que, de forma imediata, os custos da mão de obra no regime 5×2 poderiam aumentar em mais de 20%, agravando-se ainda mais no caso do regime 4×3 sugerido.
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Não basta apenas tentarmos argumentar com aqueles que defendem os trabalhadores acreditando, com uma visão mais radical, que o empreendedor abusa do proletariado, explicando que podemos quebrar ou que enfrentamos dificuldades para gerar lucro suficiente desde a pandemia.
Muitas vezes, essas pessoas não compreendem ou não acreditam nessas dificuldades, especialmente se nunca viveram a complexa realidade de ser um proprietário em um país com tantos desafios fiscais, trabalhistas e econômicos.”
Rodrigo Callais, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado (Sintrahg):
”Somos totalmente favoráveis ao fim dessa jornada, inclusive, já apoiamos esse Movimento VAT e participamos. Enquanto sindicato sabemos bem a realidade dos trabalhadores e o quanto essa jornada 6×1 é prejudicial, seja pelo convívio social, familiar, que a pessoa perde, seja pela saúde mental.
Cada vez mais temos pessoas da categoria com graves problemas, isso em parte, fruto desse trabalho exaustivo, onde a pessoa tem apenas um dia para fazer todos seus deveres fora da profissão. Em Gramado e região, conhecemos isso e é muito perceptível a lógica de que a pessoa tem que trabalhar, trabalhar, trabalhar, principalmente nessas épocas de final de ano, quando as pessoas vivem apenas para o trabalho. E isso é naturalizado, como se fosse algo normal e fizesse parte. Mas as pessoas têm o direito de ter mais dias de folga e descanso.
A redução de jornada é uma necessidade histórica, já passou do tempo dos trabalhadores terem maior qualidade de vida. E nós vamos acompanhar.”