As fortes chuvas que impactaram a região atingiram moradias de famílias, mas também os negócios dos produtores rurais. Com a diminuição da instabilidade nos últimos dias, gramadenses que vivem da agricultura fizeram levantamentos e conferiram os estragos da ausência de sol, constante umidade e excesso de água nos cultivos.
A engenheira agrônoma e chefe do escritório municipal da Emater em Gramado, Janete Basso Costa, afirma que a situação no momento é de grandes dificuldades para quem mora e depende financeiramente da agricultura.
“O excesso de chuvas vem ocorrendo desde o inverno e se estende pela primavera, com previsão de ir até o final do verão. A intensidade do fenômeno El Niño atinge diretamente todas as atividades agrícolas desenvolvidas no município”, ressalta.
Dados
As maiores perdas devem ser nas lavouras de grão, em especial, nas de milho. “Houve desde a perda de sementes, por não haver germinação, além da perda das plantas já em desenvolvimento vegetativo”, explica Janete.
A redução na safra de milho está estimada em 30%. Entretanto, este número pode aumentar nas próximas semanas. Outro cultivo que terá grande diminuição na expectativa de produção é o de morango, que tem safra mais tardia em Gramado, devido à presença do frio. Cerca de 60% do previsto inicialmente deve ser perdido. “No caso do morango, a redução da produção ocorre desde o mês de agosto e é a maior diminuição entre os cultivos praticados”, lamenta a extensionista.
Outras frutas que devem ter problemas na próxima safra são os citros, laranja e bergamota.
“Para a safra seguinte estima-se redução de 50% na produtividade. Mas praticamente todas as culturas de verão foram afetadas, sejam as temporárias ou perenes. Se persistirem as chuvas intensas nos próximos meses, poderá ter um agravamento da situação”, complementa Janete.
A estimativa é que os prejuízos aos produtores rurais, de forma direta, cheguem a R$ 8 milhões.
“É muito triste”
O cultivo que deve ter perdas mais significativas é o de morangos. Em setembro, o Jornal de Gramado apontou que a safra deveria ser de, aproximadamente, 350 toneladas. Na produção da família Augsten, na Linha Ávila, os 29 mil pés de morango deveriam dar em torno de 25 toneladas da fruta.
Com as chuvas, os números mudaram radicalmente – a redução deve ser de 50%. “O cenário atual traz como a pior safra enfrentada desde o início do cultivo pelos meus pais, há 30 anos”, coloca.
“Com a chuva temos umidade e por consequência flores não são polinizadas e nem fecundadas, gerando o abortamento das flores e frutos. Nem as abelhas conseguem sair de suas colmeias e irem até as estufas. Outro fator crucial são as poucas horas de luz solar, necessárias para as plantas se nutrirem”, explica a produtora Cassi Augsten.
Já Nelson Dias cultiva citros e aipim na Linha Caboclo. Conforme o agricultor, um deslizamento de terra atingiu a área destinada ao aipim.
“Está péssima. Tenho sete hectares, o ideal seria ter 25 toneladas de laranja e duas de aipim. Mas 80% da produção está perdida, além de 30% da próxima. Esperamos que o tempo melhore, é muito triste ver o serviço de um ano perdido”, diz.
Perdas de ordem social
Os cultivos perdidos representam não apenas o auxílio na manutenção financeira das famílias, mas também um cunho social. “Com a sequência de episódios climáticos, muitas famílias repensam em continuar ou não na atividade. Semanalmente enviamos informações sobre a situação das principais atividades agrícolas do município e esperamos que haja ações do governo para o enfrentamento das mudanças climáticas, que são inegáveis e estão criando grupos de ‘refugiados do clima'”, coloca a representante da Emater.
“Precisamos agir rapidamente com ações de preservação do solo, água e do ambiente para reduzir os impactos sociais, econômicos e ambientais”, finaliza.
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