AMBIENTE DE BEM-ESTAR
Saúde mental impacta na produtividade profissional
Para psicóloga, é preciso falar e desmistificar o tema. Em Gramado, pesquisa sobre felicidade no trabalho está sendo aplicada; saiba mais
Última atualização: 26/04/2024 10:27
As empresas precisam começar a falar sobre saúde mental. Esse é o recado da psicóloga de Gramado, Tiziana Ludwig, que está estudando o impacto do tema dentro dos ambientes organizacionais. A profissional destaca que houve uma mudança de comportamento nos trabalhadores, após o período da pandemia, e que o esgotamento emocional é uma realidade cada vez mais presente.
No ano passado, o Ministério da Saúde inseriu 165 novas patologias que causam danos à integridade física ou mental do trabalhador. As doenças relacionadas com a saúde mental integram o documento, como a Síndrome de Burnout.
A própria pasta federal afirma que a doença é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, resultado de situações de trabalho desgastante. A principal causa é justamente o excesso de trabalho.
“É uma síndrome que deixa as pessoas doentes mesmo. Elas têm dor de cabeça, problemas gastrointestinais, insônia, tremedeira e taquicardia”, exemplifica a psicóloga. “Quando alguém tem uma dor física, procura o médico, mas quando tem uma doença psicológica, acha que vai passar sozinha e não é assim. Piora com o tempo. É preciso que as empresas consigam observar e também fazer os encaminhamentos devidos, claro, sem que isso se torne banal”, diz.
Mudança de cenário
Percebendo essas mudanças, Tiziana, que é sócia-proprietária do Instituto Ludwig & Poloni, empresa de treinamentos empresariais que atua há 11 anos em Gramado, fez uma pós-graduação em psicologia positiva, ciência do bem-estar e autorrealização.
Ao lado do sócio, o empresário Rogério Poloni, decidiram focar a atuação da empresa na área de saúde mental e estruturaram um programa sobre o assunto. “Antes, trabalhávamos no processual, manuais. Mas mudamos, porque o que realmente contribui para as empresas é um trabalho muito mais voltado ao bem-estar dos colaboradores”, atesta Rogério.
Contudo, eles citam que ainda há preconceito com o termo, como sendo “coisa de louco”. “Os processos, padrões, rotinas, as ferramentas de gerenciamento, não são mais suficientes dentro de uma organização. A parte do bem-estar emocional precisa ser tratada com a mesma relevância, pois é um processo contínuo de qualidade”, ressalta o empresário.
“Se cuidarmos da saúde mental das pessoas, isso vai ser bom pra todo mundo. Se uma equipe não está emocionalmente bem, não se consegue realizar nenhum procedimento operacional padrão com eficiência e com segurança nem para a empresa e nem para o cliente final. Precisamos falar sobre saúde mental para que a gente desmistifique o tema”, completa Tiziana.
Psicologia positiva
O movimento científico da psicologia positiva é um estudo sobre as qualidades das pessoas, tendo como premissa o foco na felicidade e em como as pessoas podem se tornar mais satisfeitas. Levando isso para o mundo corporativo, Tiziana frisa que é olhar para o que está dando certo, as forças e as potências do grupo.
“As empresas só fazem reunião para falar sobre o que está errado. E se a gente começar a fazer encontros para dizer sobre o que está bom? Isso faz com que a gente diversifique o olhar”, cita. “A questão da saúde mental e do bem-estar, não está vinculada a projetos superficiais, como a festinha de aniversário, dar um prêmio. É transformar as empresas em ambientes psicologicamente seguros, em um espaço que a organização se responsabiliza por ofertar um ambiente onde a pessoa possa ser quem ela é”, argumenta a psicóloga.
Para ela, a transformação das empresas ocorre através do desenvolvimento das lideranças. “Quando a gente muda a forma das lideranças enxergarem as situações e as pessoas, consegue transformar as empresas”, diz.
Possibilidade de inovar
Em um cenário em que os colaboradores se sentem bem, há a chamada segurança psicológica, quando estão confortáveis para expressar opiniões e compartilhar ideias e experiências. Tiziana comenta que há quatro estágios para que isso aconteça.
O primeiro deles é a inclusão. “Que é quando a pessoa se sente bem chegando na empresa e tem tempo para entender como as coisas funcionam, começa a fazer parte da equipe”, explica.
Após, é a vez da segurança do aprendiz. “É a empresa fornecendo os dados necessários para que aquele colaborador saiba o que tem que fazer. Se esse estágio é pulado, começam a existir cobranças sendo que a pessoa não recebeu as devidas orientações”, esclarece.
Depois é a segurança do colaborador. “Essa etapa é quando o funcionário começa a colaborar com a equipe, tem ideias, começa a arriscar”, declara.
Por fim, o último estágio é a segurança do desafiador. “Passando por todos os passos, o colaborador vai conseguir começar a questionar e sugerir novos processos. E isso oportuniza a inovação”, relata.
Pesquisa sobre felicidade entre os trabalhadores
Durante este ano, o Instituto Ludwig & Poloni aplicará uma pesquisa entre os trabalhadores de Gramado para entender como as pessoas se sentem nos ambientes corporativos. Os interessados podem responder aos questionamentos, através do site ludwigpoloni.com.br. Não é preciso se identificar.
Em uma amostra ainda pequena e parcial de 90 pessoas, 41% afirmam que sentem mais emoções negativas do que positivas no trabalho. Ainda, 35% dizem que o trabalho, literalmente, “tira o sono”.
“As perguntas têm como base a psicologia positiva, que considera aspectos, como sono, alimentação, exercício físico, relações. Vai ser importante ter esses dados para embasar cientificamente o tema”, justifica a psicóloga Tiziana.