A tragédia climática de 2024 vai ficar para sempre na memória de muitas pessoas, principalmente, daquelas que perderam seus entes queridos para a força na natureza. Apesar de ter acontecido em poucos segundos, as cenas do deslizamento de terra na Linha Pedras Brancas, no interior de Gramado, ainda permeiam os pensamentos de Kimberly Ludvig, de 15 anos.
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Foi na madrugada do dia 2 de maio que a vida dela mudou radicalmente. A jovem conseguiu sobreviver, mas perdeu a mãe, Nitiele Ludvig, de 36 anos, o irmão Kaique Andriel Ludvig Santos, de 13, e o padrasto Silvio Antônio Pellicioli, de 47.
Nesse mesmo episódio, também morreram os vizinhos da família, Matilde Verônica Zimmermann, de 47, Rudimar Branchine, de 62, e Jocemar Zimmermann Branchine, de 16 anos.
A casa em que Kimberly morava foi soterrada e ficou complemente destruída. Ela conta que só conseguiu sobreviver porque a cama em que ela dormia foi empurrada para fora da residência. A adolescente relata que estava com medo de que algo pudesse acontecer já no dia anterior, por causa do grande volume de chuva, e conversou com a mãe sobre o assunto.
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Deslizamento aconteceu na madrugada
Um forte trovão foi o anúncio do que estava para acontecer, por volta das 2h30 daquela quinta-feira. O som até hoje causa medo em Kimberly. “Escutei o barulho e a terra tremeu. Quando eu me dei conta, a chuva estava caindo no meu rosto. Eu escutei um grito, mas não sei de quem. Estava muito escuro. Deu um relâmpago e eu consegui ver tudo destruído. Pisei em algumas madeiras e tijolos para sair dali. Comecei a correr e pedir ajuda para os vizinhos”, relembra.
A jovem teve apenas leves arranhões na perna e foi para o hospital. Durante a tarde, recebeu a notícia da morte dos familiares. Com o difícil acesso, a chuva e os escombros, o Corpo de Bombeiros levou quase dez horas para retirar os três corpos do local.
Kimberly, a mãe e o irmão moravam há cerca de nove anos no interior de Gramado. Naturais de São Francisco de Paula, mudaram de cidade quando Nitiele e Silvio começaram o relacionamento. Mesmo não sendo biológico, Kimberly e Kaique consideravam Silvio como pai.
Saudade que não vai passar
Das lembranças físicas, sobraram apenas poucas roupas, alguns bichinhos de pelúcia e o cachorrinho Tropeço, que também sobreviveu ao deslizamento. As muitas fotos da família conseguiram ser recuperadas no celular. “Quando me dá saudade deles, eu olho nossas fotos”, comenta emocionada. “Esses três meses passaram rápido. É estranho por não ter a convivência familiar que eu tinha, mas estou me acostumando”, lamenta a adolescente.
Há algumas semanas, a jovem voltou para São Francisco de Paula para morar com a tia materna Luana Ludvig da Silva, de 29 anos. Agora, busca se adaptar com a nova rotina, a nova cidade, as novas companhias. Para lidar com tudo o que está passando, ela tem acompanhamento psicológico semanal.
Para dar orgulho à família, a jovem quer manter os desejos construídos junto com a mãe. “Quero estudar e fazer faculdade de Biologia”, adianta. “Eu guardo muitas coisas boas. Meu irmão e eu jogando futebol, a nossa família jantando junta, nossos passeios”, afirma.
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