A manhã desta terça-feira (12) foi marcada por uma manifestação pacífica em Cambará do Sul.
Moradores, comerciantes e demais empresários da cidade, colocaram faixas na área central e próximo do escritório da Urbia Cânions Verdes, concessionária dos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral, para protestar contra a situação turística no município.
Dados apontam que houve uma redução de 30% no número de visitantes em 2022, quando comparado com 2019.
Com faixas escritas como “Parque não é shopping”, “Não elitizem os parques”, “Somos todos parque” e “Fracionem os ingressos individualmente”, cerca de 100 pessoas estiveram presentes na Casa do Turista, na área central de Cambará do Sul.
O principal pedido é pelo fracionamento dos ingressos. Atualmente, a concessionária cobra R$ 97 para que os visitantes possam conhecer os dois cânions, Itaimbezinho e Fortaleza.
De acordo com a comunidade e empresários, o aumento dos ingressos está afetando a economia local e regional. Uma audiência pública, no final do mês de fevereiro, promovida pela Prefeitura, chegou a debater diversas questões que envolvem a concessão.
Na ocasião, estiveram presentes representantes do Executivo municipal, da Urbia, ICMBio.
O prefeito de Cambará, Ivan Borges, afirmou em entrevista ao Jornal de Gramado que a economia e o turismo estão impactados.
“Está impactando, não tenho como dizer que não. Com a entrada há quase R$ 100, também mudou quem procura a cidade. Mas em dois anos, a estrutura que o turista encontra não acompanha esse aumento. Temos o asfalto da RS-427, que está há anos emperrado e que liga ao Itaimbezinho. São 18 km de chão batido complicado”, justifica.
“O visitante que vai de Mercedes até lá e pega uma estrada dessas, ele não vai querer voltar depois”, complementa.
O representante do Executivo ainda fala sobre os preços praticados.
“A concessionária alega que não pode baixar os preços, porque não consegue fazer as obras de infraestrutura dentro dos parques, obras de impacto, como uma passarela de vidro, e que não haveria autorização do ICMBio. E quando fizemos a audiência pública, vimos que tem outros problemas. Temos que chamar o governo federal para conversar”, coloca.
Os investimentos prometidos e o crescimento consequente no turismo também não se tornaram realidade, aponta Borges.
“Quando houve a concessão, parecia que Cambará tinha achado o ouro, porque diziam que ia passar de 250 mil visitantes para 1 milhão. E houve na verdade o decréscimo de visitação. A única obra que teve de impacto foi a tirolesa, que tu também precisa pagar para ter o benefício. Nossos pequenos empreendedores estão numa situação que não tem mais como segurar isso, não terão condições de sobreviver se não houver uma decisão”, finaliza.
Pedido por revisão de políticas da concessão
O protesto iniciou na Casa do Turista e, de lá, os manifestantes realizaram um percurso, passando pelo escritório da Urbia e, após, pelo galpão da empresa que possui concessão dos parques.
A concentração se encerrou na Praça São José. Ainda, houve uma carreata com buzinaço.
Um manifesto público em prol da revisão das políticas de gestão de turismo nos parques nacionais é realizado pelo trade turístico.
O documento público deve ser levado em reunião agendada pelo prefeito de Cambará. Ele deve ir até Brasília conversar com representantes do ICMBio federal no dia 15 de março.
O ofício, assinado pelo representante Lucas Pietsch, aponta algumas demandas da comunidade. A considerada principal é o fracionamento dos ingressos.
Ainda coloca que, em caso negativo, que exista a possibilidade de fracionar a venda dos ingressos para CNPJ das agências pertencentes ao território Geoparque Cânions do Sul.
Outras solicitações são que exista uma política clara, índice legal e época de aumento de valores, assim como que seja apresentado, em nível de urgência, um plano de gestão de turismo dos parques.
A mesma situação valeria para questões como estacionamento e ingressos de atrativos.
Também pede que seja inclusa a meia-entrada. “Parque nacional é patrimônio. Existe lá dentro o Museu Padre Balduíno Rambo, que não sabemos o paradeiro desde que a Urbia assumiu a concessão”, coloca o empresário.
Os empresários reiteram que querem diálogo e participação na construção de decisões que podem impactar não apenas no turismo, mas no desenvolvimento da cidade.
“O que queremos não é briga, não é expulsão. Queremos o nosso território em ordem e falando a mesma linguagem. Trabalhando juntos e recebendo visitantes e turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo, desde mochileiros que ficam num hostel até os mais exigentes, que querem atendimento cinco estrelas. Todos têm o direito de visitar os parques nacionais, nossa terra dos cânions, de 120 milhões de anos”, pontua Lucas.
Posição da Urbia
Em agosto de 2021, a Urbia Cânions Verdes pagou R$ 20,5 milhões referente à outorga dos parques. Em outubro daquele, iniciou a cobrança de entrada no local, na época, R$ 35 para um dia e R$ 55 para dois.
Já em novembro, um reajuste: R$ 50 e R$ 80, respectivamente. Já em 2022, o ingresso passou para R$ 94, com o modelo de cobrança atual, que contempla os dois parques, numa visitação durante sete dias.
Com o título de outorga variável durante os 30 anos de contrato, mais R$ 75 milhões serão pagos aos cofres públicos. Em termos de investimentos obrigatórios, que são reversíveis aos parques nacionais no fim da concessão, a previsão é de R$ 33 milhões nos próximos quatro anos.
Em nota, a concessionária informou na última semana que “já investiu mais de R$ 55 milhões na melhoria da infraestrutura para a visitação”.
Também ressalta que “tem nos planos de investimentos diversos projetos que requerem autorização do Poder Concedente (ICMBio), para atrações, tais como: Skybike, Arvorismo, Campings, além de passarelas e mirantes, que trarão novidades e possibilidades de contemplação e melhoria da experiência compatíveis com os melhores padrões internacionais, e vem demandando celeridade na liberação de tais ações”.
Sobre os ingressos, esclarece “que os valores praticados atualmente, são os mesmos desde agosto de 2023, ou seja, R$ 97 para os dois parques, permitindo com o mesmo ingresso, o acesso por três vezes, durante o período de sete dias, em uma estratégia que incentiva a permanência no destino a fim de proporcionar receita para o comércio e turismo locais”.
Por fim, informa que os manifestantes não solicitaram até o momento reunião ou procuraram a coordenação na cidade.
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