Foi na madrugada do dia 19 de novembro de 2017 que a vida da Luciana Neris mudou. Prestes a completar 37 anos, há seis ela se envolveu em um grave acidente de trânsito. O carro em que estava chocou-se violentamente contra um poste de energia elétrica, na RS-235, na rodovia entre Gramado e Canela. Ela foi arremessada para fora do veículo e, por causa dos ferimentos, teve a perna esquerda amputada.
Quem conduzia o Volkswagen Gol era André Luís Nunes, de 19 anos, que morreu no local. “Eu sou um milagre”, conta Luciana ao recordar da tragédia.
Moradora do bairro Várzea Grande, a servidora pública é a caçula de dez irmãos. Natural do Paraná, mora desde a infância em Gramado.
Adaptada com a prótese que colocou para conseguir voltar a andar, diz que sentia vergonha no início e só vestia calças. “Hoje eu tenho orgulho porque ela me leva para todos os lugares. Com o tempo, percebi que era muito mais fácil e mais seguro eu usar saias e é só assim que eu saio de casa agora”, reforça.
O acidente
O dia do acidente é quase como um borrão na lembrança. Luciana faz aniversário no dia 18 e fez um churrasco em casa para comemorar a data. André, que estava iniciando um relacionamento com ela, foi convidado. “E a gente bebeu naquele dia. De noite, saímos para um bar em Canela. Eu me lembro que estava cansada e nem queria ir, mas fomos. Lá, não ficamos muito tempo e logo decidimos voltar. Depois que eu entrei no carro, não me lembro de mais nada”, relata.
Luciana salienta que alguns amigos estavam logo atrás e pararam para socorrê-los. “Eles me contaram que eu estava sentada em uma pedra e que falava que estava com dor. Mas eu só me lembro quando acordei no hospital”, ressalta. “Foi coisa de Deus porque eu poderia ter morrido naquele dia”, agradece.
Foram 40 dias hospitalizada
Quando recobrou a consciência, não sentia as pernas. “Eu não sabia se estava com as pernas esticadas, encolhidas. Achei que tinha ficado paraplégica. Só depois que eu fiquei sabendo que tiveram que amputar a perna, chorei muito”, frisa Luciana. Na casa de saúde, ela ficou internada por 40 dias, pois havia risco de perder o pé da perna direita, devido uma infecção.
Nesse processo, precisou retirar parte da pele da coxa para transplantá-la no pé. Para cobrir as cicatrizes, fez uma tatuagem. “Meu pé foi praticamente esmagado, mas conseguiram salvar, perdi só o dedo mindinho”, diz. Nesse período hospitalizada, uma corrente de solidariedade foi criada para ajudar Luciana.
Depois, contando com diversas ajudas, conseguiu adquirir a prótese, que custou R$ 42 mil. Todo o processo foi realizado pelo IPO Brasil – Próteses e Órteses, que tem como embaixador o ex-jogador de futebol Jackson Follmann, sobrevivente da queda do avião com o time da Chapecoense, em 2016, que também teve a perna amputada em decorrência do acidente.
“Deus é muito bom. Tenho gratidão por tudo o que fui conseguindo fazer. A gente começa a dar valor para as pequenas coisas, como atravessar a rua sozinha, entrar na piscina, ir à praia, fazer uma trilha, ir acampar. Claro que tenho um pouco de limitação, mas faço de tudo”, descreve Luciana.
Uma nova batalha sendo enfrentada
E uma nova batalha está sendo enfrentada por Luciana. Em agosto deste ano, ela foi diagnosticada com câncer do colo do útero. Seguindo o tratamento, a expectativa é que finalize em dezembro. “Foi um choque receber a notícia, mas acredito que tudo vai dar certo”, comenta. “Deus dá força para a gente. A gente tem que acreditar que vai dar tudo certo”, complementa.
Buscando levar a vida com bom humor e sorriso no rosto, para o futuro, quer ter uma vida mais saudável e aproveitar a companhia da família. “Vivi algo horrível naquele acidente, mas parece que a doença agora é pior. Acho que é porque estou vivendo isso ainda. Espero que quando passe, eu também diga que nem foi tão ruim assim”, brinca.
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