A produção de peixes em ambientes controlados, conhecido como piscicultura, é um segmento que vem crescendo e sendo fomentado no Brasil. Em Gramado, não é diferente.
“Até bem pouco tempo a atividade era desenvolvida apenas para criação para consumo próprio. Com a realização das feiras de peixe vivo observou-se a possibilidade de organização do setor para atender em escala comercial o fornecimento de peixes de diversas espécies”, conta a engenheira agrônoma e responsável pelo escritório da Emater/RS-Ascar, Janete Basso.
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As principais espécies produzidas na cidade hoje são carpas, tilápia a jundiá. Em média, rendem três toneladas ao mês e a oferta torna o alimento mais atrativo para o consumidor, além de ser uma renda – que pode ser extra – ao produtor.
“Ainda não são muitos produtores que trabalham de forma comercial, porém que possuem reservatório de água ou açude são inúmeras propriedades que possuem para criação voltada para o consumo das famílias. A piscicultura vem ganhando espaço no município, a atividade está em estruturação e crescimento”, afirma.
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Desafios
Hoje, um dos principais desafios é a criação de espécies que não toleram o frio de Gramado no inverno. “Por exemplo, a tilápia é um peixe muito procurado e valorizado, porém em invernos rigorosos têm dificuldade em se manter”, cita Janete.
Outro desafio da piscicultura é o processamento. “Atualmente a venda é somente de peixe vivo porque não se tem no município um local com adequações sanitárias para o processamento, mas isto também já está sendo pensado junto com o poder público local e os produtores”, revela.
Entre os investimentos para qualificar o setor na cidade, a engenheira agrônoma coloca o manejo de maneira geral, como alimentação e planejamento da criação; aumento do número de açudes e o local adequado para transformar o peixe em filés, bolinho e outras formas.
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Uma espécie requisitada
No Morro Agudo, a família de Alisson Calhiari trabalha com a criação de espécies em 2022. Inicialmente como um hobby, desde a adolescência, foi de dois anos para cá que viu a oportunidade de transformar o gosto pelo negócio.
Atualmente, trabalha, com tilápia, bagres e carpas. Mas as novidades já estão em andamento. E uma delas é a produção de camarão, inédita na cidade. A ideia, ainda, é testar outros tipos de peixes, em um projeto que trabalhará com temperatura controlada, um dos grandes desafios para quem é piscicultor.
“O maior cuidado é o controle de qualidade da água e também com a oxigenação. Outro fator
é o clima, em especial o inverno, onde a queda da temperatura da água pode ocasionar a morte desses peixes”, explica Alisson.
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A rotina é diária, sem exceção, com diversas etapas que precisam ser cumpridas. “Temos que alimentar os peixes, fazer o controle da água, cuidar da oxigenação da mesma, verificar se não há avarias nos reservatórios e na entrada e saída de água dos tanques”, conta.
Aos poucos, a produção vai crescendo. A expectativa para 2025 é trabalhar com cerca de 15 toneladas de tilápia e 500 quilos de carpas. “O camarão ainda não tem uma estimativa exata, pois depende da adaptação ao nosso clima”, revela.
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Demanda alta
A ideia para criação de camarão surgiu em uma janta dos piscicultores. “Foi comentado e depois de ver vídeos sobre criação, concluímos que há a possibilidade de produzir na nossa região, mesmo com o clima não sendo muito favorável. A demanda pela espécie é alta e não existe criação aqui”, pontua Calhiari.
Os testes iniciaram há alguns meses. 12 mil exemplares foram encomendados para essa etapa inicial e, até o momento, os resultados são positivos. “O teste principal foi ter sobrevivido à soltura. Já estão crescendo, foram capturados alguns exemplares e vimos um crescimento significativo. A expectativa é que em 4 ou 5 meses eles estejam no tamanho ideal para a despesca”, celebra o piscicultor.
Assim como demais espécies, o camarão requer cuidados, entre os principais, estão a temperatura da água, oxigenação e um bom fluxo de renovação de água, além de alimentação em abundância e espaço amplo. “A espécie é muito agressiva, principalmente os machos. Mas com a continuidade no êxito da produção, uma quantia bem maior para o próximo ano será colocada”, afirma.
O camarão tem um ciclo que dura de 5 a 6 meses, da larva até a idade adulta. O peso fica entre 25 a 30 gramas nesse período. A expectativa é que, com a produção desejada e o retorno financeiro esperado, a espécie seja criada de forma anual. “A ideia inicial da venda será introduzir o camarão na feira do peixe, vendido direto ao consumidor, fazendo a despesca parcial”, finaliza.
Outros peixes
Conforme Janete Basso, outras espécies em produção estão em avaliação na cidade, como Pacu, Surubin Pintado, Dourado e Trairão.