Falta pouco tempo para que o som característico de apito de trem volte a fazer parte da rotina de Gramado. Importante passo para o desenvolvimento da região, em 1º de junho de 1919, a primeira Maria Fumaça chegava e mudava os rumos da cidade. E essa história, de 105 anos, está prestes a ser revivida, através de um parque temático.
Duas locomotivas centenárias serão o ponto alto da experiência. Encontradas praticamente abandonadas, elas estão sendo restauradas e vão voltar aos trilhos. Mais próximo de sair do papel, esse projeto para criar o Parque Maria Fumaça de Gramado iniciou em meados de 2019.
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Foi nessa época que um grupo de moradores e empresários do bairro Várzea Grande decidiu criar a associação Vale das Montanhas. O propósito era buscar a recuperação histórica e cultural da localidade, que recebeu a primeira estação férrea do município.
Desenvolvimento da Região das Hortênsias
A partir da chegada do trem, Gramado – que ainda era distrito de Taquara – cresceu economicamente e turisticamente. O legado apresentado pelos trilhos até fez com que a concentração de serviços mudasse da Linha Nova, o marco zero, para a área do atual Centro da cidade.
No bairro Várzea Grande, ainda existia algo único na América do Sul, que era o rabicho. Para vencer a altitude, o trem fazia uma manobra e percorria um trecho em marcha ré, seguindo pelo morro sem a necessidade de construção de túneis.
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“Começamos a nos envolver, fazer pesquisas, conversar com as pessoas. Tínhamos o sonho de reativar essa história e descobrimos duas locomotivas centenárias. Foi quando tivemos a ideia de fazer o trem rodar de novo em Gramado”, conta o presidente da associação e sócio do parque, Josué Neumann.
A linha férrea entre as cidades de Taquara e Canela operou até 1963. “Faz 61 anos que o trem passava por Gramado. É algo recente e temos muitas pessoas que vivenciaram esse período. Decidimos costurar isso em um parque. Gramado precisava de algo diferente”, aponta o sócio-administrador e vice-presidente do atrativo, Fernando D’Avila.
A partir dessa organização, foi criada uma empresa para gerir o parque temático, que possui 12 sócios e conselhos concebidos para a tomada de decisões. “A história está aqui, mas não se tinha um movimento de resgate. Entendemos que, se todo mundo se unisse, nós conseguiríamos o retorno das locomotivas para Gramado. Somos entusiastas do assunto e o que nos move é a paixão”, ressalta Fernando.
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Raridades
Consideradas raridades, cada máquina possui em torno de 29 toneladas e tem peças originais. As locomotivas não passaram pela linha férrea da região, mas eram relevantes no País. Uma atuava em um trabalho humanitário para levar água para regiões do semiárido brasileiro. A outra fazia o transporte de passageiros entre São Paulo e Minas Gerais.
Após a aquisição das máquinas, em julho de 2022, uma empresa paulista foi contratada para o processo de restauro, que está cerca de 90% concluído. “E elas vão funcionar. Fizemos o primeiro teste de caldeira e uma já apitou. É algo único”, garante o vice-presidente.
Operação deve iniciar em julho de 2025
A pretensão do grupo é que o parque entre em operação em julho de 2025. A etapa de restauro seguirá até dezembro, mas ainda precisarão passar pelo processo outros itens, como os vagões.
O atrativo será instalado no bairro Várzea Grande, em um terreno de 40 mil metros quadrados, atrás da Sociedade Ipiranga, nas margens da RS-115. Inicialmente, o percurso previsto em trilhos será de 450 metros. Entretanto, existe uma possibilidade de ampliação para até pouco mais de quatro quilômetros.
“A primeira etapa é o restauro, mas, depois, queremos buscar a concessão do leito junto do governo federal”, adianta Fernando. Isso porque o caminho original do trem passava pelo entorno. “A nossa preferência é reviver a história. Se puder passar no leito, melhor, porque é um trecho contemplativo”, acrescenta Josué.
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Os sócios ponderam que o intuito é proporcionar uma experiência que envolva o trem, a história ferroviária e dos colonizadores de Gramado. “Pode ser através de um jantar temático, estar no trem, ouvir os barulhos. É uma máquina histórica que temos a oportunidade de ter por perto”, destaca o presidente da associação de moradores.
Um dos pontos elencados por Josué é que o atrativo também terá como foco potencializar a comunidade. “Vai ter um papel social e econômico. A maior parte dos turistas só passa pelo bairro, mas a gente quer que parem e que consumam o que temos a oferecer. É inserir toda a localidade nesse contexto do negócio”, exemplifica.
O presidente e sócio do parque, Mateus Neumann, adianta que cerca de 30 funcionários serão contratados para a operação e que haverá, ainda, espaços complementares e lojas no local. A previsão é que caibam cerca de 104 Mateus, Fernando e Josué são sócios do empreendimento pessoas no trem.
Baile temático para apresentação
No dia 14 de dezembro, a partir das 17h30, as locomotivas restauradas serão apresentadas à comunidade, já sobre os trilhos. O evento será um baile temático com jantar, que comemorará três datas: os 78 anos da Sociedade Ipiranga, os 70 anos de Gramado e os 105 anos da chegada do trem.
Com o tema Raízes de Ferro, o presidente da sociedade, Ademir Corrêa, destaca que será uma experiência de voltar no tempo, com performances artísticas ao vivo, além da consolidação da importância do novo momento para o clube e parque.
Os ingressos são comercializados a R$ 750 para o casal, através do WhatsApp (54) 9 9298-9981.