Os 13 artistas que aguardam o pagamento de aproximadamente 50% do cachê referente a espetáculo do Natal Luz de Gramado, o Reino de Natal, não devem aceitar a negociação proposta pela empresa terceirizada, a Yeah Entretenimento, responsável pela realização do atrativo. O elenco deve entrar com processos trabalhistas na Justiça.
O valor total a ser pago para cada integrante do elenco era de R$ 16 mil – o que representa R$ 8 mil de dívida para cada ator e atriz. O pagamento deveria ocorrer até janeiro, quando termina a realização dos espetáculos. Entretanto, conforme o proprietário da empresa e produtor cultural Abramo Machado, não houve recursos suficientes para finalizar as pendências.
A proposta da Yeah Entretenimento era iniciar os pagamentos a partir de 31 de agosto e quitar em até sete vezes o valor remanescente. Abramo reitera que o parcelamento é preciso devido ao cenário delicado que a cidade se encontra após as chuvas intensas entre abril e maio.
Sobre a negociação
O elenco emitiu um comunicado ao ABCMais, sobre o porquê da recusa. Conforme os artistas, a busca por ajuda através do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado do Rio Grande do Sul (Sated-RS) partiu de iniciativa própria deles, devido a constantes faltas de pagamento.
LEIA TAMBÉM: Criança com meningite morre na Serra gaúcha; veja o que se sabe
“A Yeah Entretenimento prometeu honrar o pagamento em janeiro e não cumpriu. Posteriormente estabeleceu uma proposta de quatro parcelas entre abril e julho, que também não foi honrado sequer a primeira parcela. Os produtores sumiram e não responderam os artistas inúmeras vezes no WhatsApp. Se um ator mandava mensagem que estava doente ou sendo despejado do apartamento, o contratante dizia ‘sinto muito. Já retorno’ e sumia”, afirmam.
Conforme o grupo, o receio de uma nova proposta de parcelamento é da empresa novamente não honrar o compromisso. “É preciso dizer que esta negociação está sendo entre empresas que promovem grandes eventos em Gramado, com um grande capital, e artistas trabalhadores, que não tem participação em lucros”, justifica o elenco.
Ainda segundo os atores e atrizes, os atrasos não ocorreram apenas neste último ano de realização do espetáculo. “Vale ressaltar que estes atrasos sempre mudam a vida das pessoas que se organizam com este dinheiro e o contratante se comporta como se estivesse fazendo um favor ao ter que pagar por um serviço prestado a um dos maiores e mais lucrativos eventos do Brasil”, pontuam.
Abramo, em entrevista à reportagem, comentou sobre os motivos e o cenário do setor de entretenimento após a catástrofe climática. “A situação turística vive um momento difícil. E isso impacta ainda mais na cultura, nos artistas, sabemos das dificuldades do segmento. O mercado de entretenimento e experiência de Gramado está muito complicado. Várias empresas fecharam ou encerraram contratos, tem restaurantes temáticos à venda. Novos projetos foram trancados com a enchente”, afirmou.
De acordo com o elenco, os motivos citados para a dívida vão desde o não recebimento de outros trabalhos, uma nota que foi extraviada e até a conta do contratante que foi bloqueada.
VEJA AINDA: Prefeitura de Canela abre processo seletivo para contratação de estagiários
“Esta última desculpa foi o último contato do contratante em abril com o elenco e depois sumiram. Depois de todas estas desculpas e desaparecimentos, atualmente eles usam como justificativa as enchentes no RS, o que é lamentável e cruel”, dizem.
Mais de 600 apresentações
“Durante dois meses e meio trabalhamos em uma jornada de 9 horas diárias, 6 dias da semana, com 10 sessões diárias – o que ao todo somou mais de 600 apresentações – arcamos com todos os custos de alimentação, higiene e moradia – os quais estavam incluídos no cachê que variava entre R$ 15 e 17 mil – entretanto o valor do pagamento não foi honrado. Ao todo, somamos 13 artistas que tivemos de nos mudar para Gramado. Em outras palavras, pagamos para trabalhar, pagamos para dar lucros a empresas que agora não se responsabilizam e nos pedem paciência”, afirma o elenco.
Os artistas ainda frisam que a Gramadotur, autarquia municipal de turismo, organizadora do Natal Luz, tem também responsabilidade sobre o ocorrido, visto que “na condição de tomadora de serviços, firmou o contrato de exclusividade com a empresa. Tal contrato estabelece uma relação jurídica. A primeira [Gramadotur] se beneficia diretamente do serviço prestado pela segunda [Yeah]. A Gramadotur tinha controle sobre o evento, consequentemente sobre os serviços prestados pelos 13 artistas”, justificam.
Já a autarquia, em entrevista anterior, comentou que a empresa terceirizada já havia apresentado problemas financeiros. Mas reiterou que, de sua parte, tudo foi cumprido. “Os valores pactuados no contrato entre a autarquia municipal e a referida empresa foram integralmente e tempestivamente adimplidos, nada restando devido pela Gramadotur.”
Os artistas lamentam a situação e enfrentam uma crise financeira devido ao cenário atual. “A produtora alega que não teve lucro, entretanto um elenco que não é sócio não pode arcar com esta (ir)responsabilidade de uma produção que não tem um caixa e mesmo assim contratou funcionários e depois não os paga. Nós artistas estamos atravessando a crise decorrente da enchente e sabemos o quanto é essencial o pagamento, em uma Porto Alegre com teatros defasados, editais para próximo ano e ainda tivemos nossos espetáculos cancelados este ano no Natal Luz, que ficou apenas com artistas locais na programação”, finaliza a nota.
CONFIRA: Show do lago terá chafariz e telão octogonal; confira as novidades
Na programação deste ano do evento natalino, dois espetáculos pagos ocorrerão: Grande Desfile de Natal — que está com inscrições abertas e audições — e Nativitaten. O Show de Acendimento das Luzes também foi confirmado, porém, não há informações sobre se haverá elenco, visto que terá novo formato.
LEIA TAMBÉM
Outras atrações, como a Fantástica Fábrica de Natal, não devem ser realizadas. A Parada de Natal está em análise e somente terá seguimento conforme a venda de ingressos para viabilizar financeiramente o atrativo gratuito.