A grande operação que ocorreu na manhã desta sexta-feira (24), no Centro de Canela, denominada Catedral, apreendeu centenas de materiais industrializados, que eram comercializados, essencialmente, por indígenas, em bancas localizadas ao lado da igreja de pedra. Das dez estruturas, sete ficaram vazias, após o recolhimento por parte do setor de Fiscalização da Prefeitura. As outras três, que vendiam artesanato, foram autorizadas a permanecer no local.
A ação durou cerca de duas horas e contou com discussões entre servidores e indígenas. Um carro chegou a ser guinchado pela Secretaria de Trânsito, por não estar com a documentação em dia. Apesar dos ânimos exaltados no momento da operação, horas mais tarde, um novo acontecimento.
A reportagem do Jornal de Gramado confirmou que, mesmo após terem os produtos apreendidos, no período da tarde os representantes indígenas retornaram ao local, com mais objetos à venda – também industrializados.
A Prefeitura de Canela, em contato, comunicou que não fará nenhuma manifestação oficial neste momento.
A operação
O Executivo municipal realizou a Operação Catedral com apoio da Polícia Civil, Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci) e da Associação Comercial e Industrial de Canela (Acic). O intuito principal foi realizar a fiscalização de produtos e abordagens no entorno da Igreja Nossa Senhora de Lourdes.
As barraquinhas são lideradas por cerca de 20 indígenas, de quatro aldeias do Estado. Os itens foram recolhidos por não serem considerados de produção própria, como confecções e artesanatos, e sim, objetos industrializados, como roupas, brinquedos e outros artigos.
O objetivo principal foi checar diversas denúncias recebidas por todos os órgãos, públicos e privados, nos últimos meses. Entre os problemas citados por moradores e turistas, além de comerciantes, estão o uso inadequado do passeio público, abordagens e extorsões a visitantes, venda ilegal de produtos contrabandeados e perturbações.
Ao longo da operação, os ânimos esquentaram com as apreensões, que foram se estendendo por praticamente todas as barracas no entorno da igreja. Os indígenas não concordaram com as ações e tentaram evitar que os produtos fossem levados. Entre as justificativas, estavam que possuem autorização do Ministério Público Federal para exercer a atividade e que tinham a nota fiscal dos itens que estavam sendo vendidos.
“Não interfere, pois o decreto fala de autorização de vendas de produtos produzidos por indígenas, por isso três barracas ficaram. O que não é indígena, não adianta ter nota, pois não podem fazer a venda aqui na Catedral”, reitera o secretário de Trânsito, Transporte e Fiscalização, Alziro Daros.
“A Constituição Federal dá respaldo aos indígenas vender em todo o território nacional, sabemos o nosso direito. Só que existe muita discriminação, Canela e Gramado são cidades muito discriminatórias com os índios”, frisou o indígena Leonel Chaves, morador dos Kaingang, na Floresta Nacional (Flona).
Em dezembro de 2022, o setor de Fiscalização realizou uma ação e apreendeu materiais. Entretanto, o procurador Raphael Gorgen, de Erechim, determinou a imediata devolução. “Foi uma recomendação do MPF, Município acatou, mas não foi uma determinação. Vamos ver o que ocorrerá em relação a essa operação”, contrapontua o Executivo.
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